O evento Liderança Delas, que ocorreu nesta sexta-feira (18), último dia da 33ª Mercopar, em Caxias do Sul, teve como foco discutir os desafios da presença feminina no mercado de trabalho, ressaltando a importância do equilíbrio entre vida pessoal e profissional e atenção à auto cobrança.
Além disso, as líderes Aline Eggers Bagatini, CEO da Bebidas Fruki; Daniela Kraemer, líder ESG da GM América Latina; e Veridiana sonego, diretora de planejamento estratégico da Randoncorp, destacaram a importância de que as mulheres ocupem os lugares onde chegaram sem questionar se merecem e continuem o desenvolvimento para alcançar cada vez mais espaço.
Organizada pelo Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico (Simecs), a palestra começou por volta das 9h, depois de um coffe break.
"Tive medo de não ser tão boa líder", diz Aline Eggers Bagatini
Os debates sobre a presença feminina dentro das corporações se iniciaram pela CEO da Bebidas Fruki, Aline Eggers Bagatini, que tratou de criar um clima de afetividade ao destacar o papel da filha, Vivian, como uma das grandes inspirações para a sua vida. A CEO compartilhou o orgulho de apoiar a filha para estudar no exterior, mas também a dor da saudade.
Como mãe, empresária e líder de uma das maiores empresas gaúchas, a Fruki, Aline enfatizou a importância de dar exemplo dentro de casa, preparando a filha para ser uma líder forte e determinada, caso esse seja o interesse dela.
Na área de liderança de empresa, a CEO também refletiu sobre a evolução da gestão dentro da Fruki, destacando como a descentralização dos processos permitiu que o sonho de seu pai se concretizasse.
— Trabalhei por 10 anos na Petroleo Ipiranga e cheguei a participar de um grupo que foi para os Estados Unidos negociar gás natural. Depois disso, entrei na Fruki a pedido do meu pai. Tive medo de não ser tão boa líder quanto ele ou não ser respeitada. Muito tempo atrás li um artigo que as mulheres têm uma régua muito alta, o 100% da mulher é muito alto. O artigo dizia para não nos cobrarmos tanto e sermos 70% em cada setor da nossa vida. Quando passei a dividir e entregar o 70%, houve equilíbrio e as coisas passaram a funcionar melhor — disse Aline.
Para a CEO de uma das maiores marcas do Rio Grande do Sul, é necessário trabalhar em equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, e não se cobrar tanto. Uma das dicas dela é trabalhar as oito horas e buscar não fazer qualquer atividade profissional fora deste horário.
— As outras oito horas você pode se dedicar ao conhecimento físico, emocional, aos filhos e ao seu marido... ao lazer, ao que você quiser. Quem encontra o equilíbrio e dedica tempo para si mesma, se torna uma pessoa melhor, mais saudável, tem a chance de crescer profissionalmente sem estresse, porque crescer profissionalmente não pode ser um estresse na vida, nós temos o estresse, é normal, mas é preciso encontrar uma forma de encarar e lidar com ele — concluiu Aline.
"Temos uma tendência de nos diminuirmos", diz Daniela Kraemer
O bate-papo seguiu com Daniela Kraemer, que também falou sobre o papel de mãe e de mulher dentro da família, e citou a importância de se impor e aceitar as próprias vulnerabilidades no ambiente corporativo. Ao compartilhar suas experiências na GM América Latina, Daniela falou sobre a necessidade de as mulheres ocuparem os espaços que são seus por direito.
Ela relatou situações onde precisou afirmar sua posição, como quando questionou o uso de sua vaga de garagem na empresa e destacou a importância de criar uma rede de apoio e de reconhecer as próprias habilidades.
— Precisamos nos conhecer, saber no que somos boas e no que não somos, o que gostamos, o que não gostamos. Porque assim entendemos as nossas competências e as desenvolvemos. Temos uma tendência de nos diminuirmos, a síndrome da impostora, achando que não somos boas o suficiente , mas é importante desenvolvermos uma rede de apoio e as nossas habilidades para que a gente entenda e assuma que somos boas e merecemos ocupar os lugares em que chegamos — disse Daniela.
De acordo com ela, é importante que as mulheres, ao buscarem cargos de liderança, entendam e decidam o que querem para que possam chegar nos lugares em que almejam com segurança.
— O dia que decidi o que eu queria foi libertador, descobrir o que faz sentido para mim. Nós mulheres temos aquela coisa de acolher, mas temos que nos posicionar, temos que impor regras e limites. Precisamos ocupar os nossos lugares e não sentir culpa quando erramos ou quando nos excedemos em determinados pontos — reforçou a diretora.
"Muitos homens não estão 100% preparados para os cargos aos quais se candidatam" diz Veridiana Sonego
Por fim, Veridiana Sonego trouxe a visão estratégica de uma das maiores multinacionais gaúchas, a Randoncorp. Desde que entrou na empresa, em 2008, ela vem escalando posições e, atualmente, participa do planejamento estratégico da companhia, que conta com presença em mais de 120 países.
— Sou mãe, sou profissional, tenho muito orgulho de fazer parte da Randoncorp. Entrei como analista, passei por diversas empresas dentro do grupo e gosto de dizer que somos uma multinacional orgulhosamente gaúcha, em 2021 alcançamos desafios. Tínhamos 11% das mulheres na liderança, hoje temos 19% de líderes mulheres nos cargos de gestão. Para o crescimento, é importante se fazer presente, ocupar os espaços, o fato de falar e declarar isso já movimenta toda uma organização — citou Veridiana.
A diretora de planejamento estratégico da Randoncorp reforçou ainda que a indústria não pode ignorar a mão de obra e a capacidade da competência feminina, e citou algumas questões importantes para a organização de mulheres que desejam se desenvolver profissionalmente.
São elas:
- Definir uma ambição
- Avaliar as possibilidades
- Encontrar quais pontos são preciso evoluir
- Encontrar os exemplos que existem ao redor, tanto de homens quanto mulheres
- Saber como evoluir nos temas que é preciso aprender
- Fazer networking
Para Veridiana, o networking é uma das chaves para chegar em altos cargos profissionais.
— Declarem onde vocês querem chegar. Muitos homens não estão 100% preparados para os cargos aos quais se candidatam, mas têm um apetite maior, enquanto nós achamos que ainda não somos boas o suficiente. É preciso planejar, executar e fazer networking — citou Veridiana.
O evento Liderança Delas foi marcado pela troca de experiências poderosas e pelos insights das palestrantes, que, com trajetórias distintas, demonstraram que o sucesso vem da combinação de autoconhecimento, coragem para assumir novos desafios e uma rede de apoio forte. O recado central foi claro: as mulheres têm competência e merecem ocupar espaços cada vez maiores no mercado de trabalho.