Responsável por 98% da produção de maçã no Rio Grande do Sul, a região da Serra ainda sofre as consequências com os impactos dos altos volumes de chuva entre setembro e novembro do ano passado. Em Caxias do Sul, a variação entre a safra 2022/2023 e 2023/2024 foi de -40,37%, de acordo com dados da Associação Gaúcha de Produtores de Maçã (Agapomi). Os dados ainda revelam que, na safra atual, foram colhidos cerca de 366 mil toneladas do fruto, contra 501 mil toneladas na colheita anterior. O número representa uma quebra de 27% na produção.
Em Vacaria, que corresponde a 85% da produção de maçã do Rio Grande do Sul, os números também preocupam. A perda na safra atual foi de 29,07% em comparação com o ano passado. Se nos últimos anos o que trouxe apreensão aos produtores foi a seca, em 2024, o excesso de chuva é o maior problema. O presidente da Agapomi, Gilberto Marques, explica que os números altos na variação da safra refletem o período de chuva de setembro e novembro de 2023.
— Para as perdas dessa safra, colhida neste ano, o principal fator foi a chuvarada do ano passado, bem no período da polinização e da florada. Choveu muito e a polinização foi baixa, ocasionando a queda de muita flor — explica.
Por isso, o consumidor final vai encontrar em supermercados e fruteiras maçãs menores e com menos qualidade, além do preço mais elevado. Isso vale tanto para a variedade gala, que representa 65% da produção, quanto para a variedade fuji, que também foi impactada pela chuva de maio, já que tem colheita mais tardia em relação à gala.
Enquanto a variedade gala é colhida entre o final de janeiro e início de fevereiro, a colheita da fuji se inicia na segunda quinzena de março, mas produtores com pomares maiores podem levar até o final de abril para colher.
— Teremos calibres menores de fruta, chamada fruta miúda. Em novembro, bem na época da florada, os produtores já tinham comentado que teríamos problemas nesta safra. E também durante todo o ciclo, com chuvas, houve problema de sanidade dos palmares, como queda de frutas e queda de qualidade na fruta — afirma Marques.
De acordo com o presidente da Agapomi, quando a chuva começou, no final de abril, grande parte dos produtores ainda precisava colher cerca de 80% da produção.
— Apodreceu. Não teve como colher e ela vai apodrecer — lamenta.
Chuva acima da média histórica
De acordo com o meteorologista da Climatempo Guilherme Borges, no mês de setembro de 2023, a região de Caxias do Sul e da Serra registrou 437,2mm de chuva. Número muito acima da média histórica de 163,1mm para o mês. Em novembro, a situação se repetiu com um acumulado de 509mm de chuva, enquanto que a média esperada para o mês era de 144,5mm.
— A alta quantidade de chuva em períodos críticos para a frutificação e desenvolvimento dos frutos criou condições desfavoráveis, como o aumento da umidade do solo e a proliferação de doenças fúngicas, que são altamente prejudiciais para as maçãs — avalia Borges.
O meteorologista ainda aponta que a chuva acima da média esperada pode ter causado outros problemas para os agricultores, como o encharcamento do solo, dificultando o manejo adequado das plantações e o acesso aos pomares para as práticas de cultivo e colheita.
— Como resultado, houve uma queda estimada de 30% na safra total de maçãs, afetando diretamente a qualidade e a quantidade da produção — explica.
Impacto negativo preocupa
Em janeiro de 2024, o então presidente da Agapomi, José Sozo, estimava que seriam colhidas 450 mil toneladas nesta safra. No entanto, de acordo com o relatório divulgado pela associação em julho, foram 366 mil toneladas da fruta, 18,6% a menos do que o esperado.
A variedade gala foi a que teve queda mais expressiva, com 29% a menos em relação à safra 2022/2023. A fuji caiu 24%. A variedade eva, que tem colheita iniciada em dezembro, foi a única que registrou aumento na quantidade colhida: em 2022/2023 foram cerca de oito toneladas e, na safra atual, cerca de 13 toneladas. No entanto, o saldo final ainda é negativo, com queda de 27% em todos os municípios membros da Agapomi.
De acordo com o produtor rural e diretor técnico da Agapomi, Gianfranco Perazzolo, foram raros os produtores que tiveram boas colheitas nesta última safra.
— Realmente o impacto foi grande. Voltamos lá pro início da nossa safra, que se inicia no período de setembro, quando começam as brotações. Do início da brotação até o florescimento, nós tivemos muitos dias de chuva. E, além da chuva, nós tivemos dias nublados. Isso impactou na nossa frutificação efetiva. As abelhas não conseguiram trabalhar por falta de luz, por falta de condições climáticas. Elas precisam de pouco vento, sol, luz. E nós não tivemos isso — explica o produtor.
Para além das perdas significativas na produção, Perazzolo destaca que o consumidor final encontrará o fruto mais caro, em função de custos dos agricultores no processo:
— A bola de neve que vai se formando é muito maior, porque a gente teve mais chuva. A gente teve um aumento no número de aplicações de agroquímicos. Tem que aplicar mais produto, tem que entrar com o pulverizador mais vezes dentro do pomar para fazer os tratamentos fitossanitários. Tem uma deficiência do trabalhador, que trabalha ao relento. O nosso trabalhador também não conseguiu trabalhar. De 15 dias de trabalho, muitas vezes, a gente conseguiu atuar um ou dois dias. Isso também implica um custo. Então, além da gente ganhar menos, produzir menos, nós tivemos um custo muito maior — destaca.