Pela sexta vez consecutiva, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu a Selic, a taxa básica de juros da economia. Apesar da decisão já esperada, com corte de 0,5 ponto percentual e a taxa caindo de 11,25% para 10,75%, especialistas na Serra avaliam que os efeitos desta redução serão sentidos com o tempo. Para a indústria de Caxias do Sul, por exemplo, o momento ainda é de analisar o mercado, uma vez que a expectativa é de que novas quedas ocorram neste ano.
Mesmo assim, o economista Gustavo Bertotti, da Messem Investimentos, percebe, pelo comunicado do Banco Central, que apesar dos cortes na taxa Selic, o órgão indica que deve manter uma postura contracionista. Ou seja, o ritmo de queda da taxa pode ser freado nas próximas reuniões, uma vez que esse tipo de atitude prevê a alta dos juros para combater a inflação. A expectativa é que em maio ocorra mais um corte de 0,5 ponto percentual. Mas, no encontro de junho, a redução deve ser menor que 0,25 ponto percentual. Na visão do economista, o Copom deve passar a avaliar mais os dados e tomar decisões de encontro a encontro, pela preocupação com o cenário econômico.
— Aumentou um pouco, na minha opinião, a preocupação em termos de que ele (relatório do Copom) destaca muito a inflação global e o quanto isso pode impactar preços aqui no Brasil. E a gente sabe que o Brasil é um importador hoje, principalmente de tecnologia. E a gente vê que isso, em parte, pesa no custo das empresas e tudo mais. Mas, ao mesmo tempo, ele coloca dentro do balanço de riscos no mercado internacional. Nós temos duas guerras em andamento ainda. Temos riscos geopolíticos que pressionam a preço — explica Bertotti.
Para o vice-presidente de Relações Institucionais do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul e Região (Simecs), Ruben Bisi, o momento para a indústria é ainda de espera. No caso de manutenção do ciclo de queda, efeitos para empresas e população só devem ser sentidos a longo prazo, acredita o dirigente.
— Tu precisa comprar um automóvel e baixou 0,5. Daqui três meses, tu sabe que vai baixar mais 0,5. Tu compra agora ou compra depois esperando baixar para financiar? Hoje, a questão da previsibilidade está muito impactada. Nós não vemos uma indução da taxa de juros no curto prazo que possa esse 0,5 influenciar, porque as empresas olham no longo prazo. Todos estão esperando que a redução na próxima reunião do Copom seja de 0,5 — avalia Bisi.
Segundo o representante do Simecs, as empresas devem esperar o que deve acontecer com o país para avaliar o que pode ser feito de investimento. Neste momento, para Bisi, não é uma redução isolada que possa gerar negócios.
Já para o varejo caxiense, o momento pode ser de investimentos. A diretora financeira do Sindilojas, Idalice Manchini, analisa que o momento ainda é de cautela pelo cenário apresentado. Porém, em Caxias, o comércio vem de um acumulado de doze meses de 0,2% negativos, conforme dados de janeiro do desempenho da economia caxiense — levantados pela Câmara da Indústria, Comércio e Serviços (CIC) e pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL). Assim, as taxas de juros menores podem ser positivas para que lojistas financiem negócios.
— Eu vejo que o cenário mais provável ainda é de cautela, mas a baixa dos juros anuais, ali sim, ela vem de encontro para nós, lojistas. Eu diria que não só no setor do comércio, mas para todos os setores uma confiança maior em investimento e em confiança do consumidor perante empréstimo e perante investimentos — acredita Idalice.
Benefícios de uma redução
A redução da taxa Selic é uma forma de tentar estimular a economia. Os juros mais baixos têm como função baratear o crédito e incentivar a produção e o consumo. Um efeito, por exemplo, pode ser uma taxa menor para financiamento de um carro ou um imóvel.
O economista Mosár Leandro Ness explica que o benefício, assim, é uma maior disponibilidade de recursos. No Brasil, apesar da queda da Selic, os juros em si ainda são considerados altos. Mas, como explica Ness, a taxa é também um indicador para a economia nacional.
— Mas, ainda assim, ela é um bom indicador também para o conjunto de expectativas com relação à economia. Então, a expectativa de inflação acrescida de uma expectativa de redução de Selic e mais o câmbio, sendo que nós teríamos que apreciar um pouquinho o câmbio, deixar ele um pouquinho mais valorizado, colabora também para uma redução ainda maior da taxa Selic — conclui Ness.