A economia de Caxias do Sul fechou 2023 com crescimento de 4,6%, sobretudo pelo bom desempenho do setor de serviços, que teve uma alta de 20,9% no acumulado dos 12 meses. Já o comércio ficou praticamente estável, com pequena aumento de 0,6%. Base da economia caxiense, a indústria teve queda de -3,3% no ano passado. Os dados do Desempenho da Economia de 2023 foram divulgados nesta quinta-feira (8) pela Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias (CIC Caxias) e Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) caxiense. Durante a explanação, especialistas da entidade empresarial projetaram um 2024 mais cauteloso e com crescimento menor.
Na oportunidade, o diretor de Economia e Estatística da CIC, Tarciano Mélo Cardoso, salientou que o desempenho da economia caxiense no ano passado é maior do que a estimativa nacional, que gira em 3%. Também por isso, Cardoso considera os números de Caxias positivos. Os dados também apontaram para uma realocação de valores.
— Dividindo esses 4,6% de crescimento, percebemos que os serviços cresceram quase 21%, o comércio perdeu o consumo e a indústria teve queda, ou seja, as pessoas colocaram os recursos em outros segmentos, o que pode explicar o crescimento de serviços. Elas realocaram a renda e isso é positivo porque o caxiense é muito criativo — explicou o diretor.
Desempenho em dezembro e acumulado de 2023
Serviços que geram conforto
Já a economista Maria Carolina Gullo listou fatores que, combinados, proporcionaram o crescimento do segmento de serviços em Caxias em 2023:
:: Busca significativa por eventos, atividades de lazer, turismo e atividades externas, isso gera aumento de contratação de pessoas.
:: Aumento de shows, festas e feiras à disposição da população.
:: Novos hábitos das pessoas: elas querem e se acostumaram a facilitar a vida com entregas, com compras e-commerce.
:: Pessoas mudaram a preferência em vez de adquirir bens preferem adquirir experiências.
Comércio se adapta aos novos tempos
Ainda sobre as mudanças de hábitos dos consumidores e também a adaptação dos negócios aos novos tempos, a vice-presidente de Comércio da CIC Caxias, Idalice Terezinha Manchini, citou um exemplo da loja a qual é sócia proprietária, a rede Pole Modas, que tem cinco unidades físicas, disponibiliza há 10 anos um site e há três permite que o cliente escolha a peça no ambiente virtual e receba o produto em casa para fazer a prova.
— Nós visualizamos essa demanda crescente e acabamos entendendo que o consumidor quer conforto. Compramos uma moto e contratamos uma office-girl, uma mulher que leva as peças até o cliente. Cerca de duas horas depois da escolha no site, o cliente tem a peça em casa. Prova, adquire o que quer e devolve o resto — exemplifica Idalice.
A empresária ressalta que nas lojas do Centro e do bairro Exposição, as vendas neste formato já representam 30% do faturamento. O novo sistema, segundo a empresária, não tirou o cliente da loja física, já que, muitas vezes, o consumidor vai pessoalmente devolver as peças, escolhe tamanhos diferentes e tem a oportunidade de conversar sobre os produtos com as vendedoras. Em janeiro, Idalice, que é integrante de movimentos de fortalecimento do comércio, participou em Nova York da NRF 2024, considerada a mais importante feira de varejo e consumo do mundo. Nos Estados Unidos, ouviu de lideranças do segmento mundial que a tendência é que os lojistas tenham as lojas físicas e online unificadas, oferecendo liberdade ao cliente para transitar entre os dois modelos.
— O cliente é quem escolhe se ele quer comprar duas da tarde ou duas da manhã. Damos essa liberdade a ele — salientou a vice-presidente.
Comércio cresceu timidamente; Indústria caiu, mas está normal
Sobre a área do comércio, o economista da Câmara de Dirigentes Lojistas de Caxias (CDL), Mosár Leandro Ness, destaca que o crescimento fraco de 0,6% em 2023 pode ser considerado positivo. O esperado pelo segmento era de que fosse melhor, já que algumas datas comemorativas do ano passado apresentaram boas vendas.
— O que nos frustrou mesmo foi a Black Friday, que a gente não teve vendas significativas, esse foi o detalhe. Houve uma mudança de paradigma dos consumidores, muitos usaram as rendas de final de ano para pagar dívidas e não para consumir. Já se esperava essa situação — explicou Ness.
O economista acrescenta que, em 2023, a inadimplência do caxiense cresceu. Algumas pessoas conseguiram se recuperar no final do ano, contudo, há uma estimativa de que, nos primeiros seis meses de 2024, as dívidas continuem aumentando. A consequência disso é que o consumo deverá frear.
Já na indústria, único setor que teve desempenho negativo, a queda já era esperada, mas não é considerada relevante para setor, segundo um dos diretores das Empresas Randon, Joarez José Piccinini:
— É um ajuste normal, viemos de uma base muito forte do ano anterior e agora tivemos uma acomodação: -3,3% não é um percentual que nos preocupa. As coisas estão bem e dentro da normalidade.
Por outro lado, o diretor da Randon disse que há uma preocupação, mesmo que "leve", com relação à safra em âmbito nacional, que pode ter uma queda em 2024, o que pode afetar a venda de produtos para o setor agrícola. Mas Piccinini entende que até este ajuste está dentro da normalidade. O diretor reforça que o segmento industrial, diferentemente dos serviços e do comércio, tem uma expectativa e ações a longo prazo. Por isso, necessita de maior planejamento e investimento de capital por grandes períodos. Cria-se também uma expectativa quanto ao cenário econômico nacional, que movimenta a confiança do consumidor, elevando ou diminuindo o consumo.
O diretor da CIC Tarciano Cardoso complementa que 2024 deve ser um ano de maior cautela. Tanto pela questão da safra, que já se estima menor do que 2023, quanto pelo déficit orçamentário do Brasil, que considera "gigantesco". Outras questões, como conflitos internos em outros países, podem respingar na situação econômica do país. Também cita aprovação de leis e reformas, mudanças em commodities (materiais primários) como o petróleo. São fatores que podem impactar e gerar indefinição nas expectativas para o ano.