A taxa de desemprego no Rio Grande do Sul caiu para 5,2% no quarto trimestre de 2023, abaixo dos 5,4% observados no trimestre imediatamente anterior. Com essa atualização, a taxa média anual ficou em 5,4% em 2023, abaixo dos 6,4% observados em 2022. Esse é o menor patamar desde 2013. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e foram divulgados nesta sexta-feira (16). Especialistas em Caxias do Sul avaliam de forma positiva os indicadores, que são considerados como uma retomada dos empregos formais.
Olhando os dados da média anual, o Estado registrou 338 mil pessoas desocupadas dentro de um total de 6,2 milhões de cidadãos na força de trabalho. Já o rendimento médio real no Estado ficou em R$ 3.222 — R$ 132 a mais do que o valor observado em 2022. Esse é o maior montante desde 2020, ano marcado por ressalvas no cenário do mercado de trabalho diante da saída de parte da população com salários mais precários.
No último trimestre do ano, o Estado registrou 325 mil pessoas em situação de desocupação dentro da força de trabalho, que terminou o ano com 6,3 milhões integrantes. Apesar de redução ante o terceiro trimestre, a taxa de desocupação do quarto trimestre de 2023 no Estado (5,2%) é maior do que a observada no mesmo período de 2022 (4,6%). Segundo o IBGE, essas duas oscilações, para baixo e para cima, "demonstram estabilidade estatística no índice".
No quarto trimestre, o contingente de pessoas ocupadas ficou em 5,948 milhões, o que representa aumento de 1,8% ante o trimestre anterior. Na comparação com o mesmo trimestre de 2022 (5,951 milhões), apresentou queda no total.
A professora e pesquisadora Lodonha Maria Portela Coimbra Soares, coordenadora do Observatório do Trabalho, da Universidade de Caxias do Sul (UCS), diz que com a taxa de desemprego abaixo de 6% pode-se considerar que o Rio Grande do Sul está em pleno emprego, o que significa uma retomada dos empregos formais.
— Os dados do IBGE consideram a empregabilidade como um todo. Diferentemente do Caged, que relata, basicamente, o número de vagas abertas e fechadas. O IBGE utiliza não só os empregos formalizados como também analisa a empregabilidade, independentemente da própria legalização. Isso é importante sabermos. Com relação a Caxias, a cidade se destacou pela geração de postos de trabalho e isso ainda reflete a retomada mais forte de muitos setores pós-pandemia — explica.
A pesquisadora ainda destaca um "fenômeno" que foi observado na região em função da pandemia e que ajuda a explicar a queda na taxa. Diante do desemprego, muitas pessoas acabaram sendo menos seletivas na escolha de vagas para manter a renda. Após, com a melhora no cenário econômico, essas pessoas se reinseriram na atividade de origem ou no emprego com salário maior.
— Esse processo foi visto bastante em Caxias e na Serra, onde há muitos empregos qualificados. É uma região bem industrializada e com serviços especializados — diz Lodonha.
Já o economista Mosár Leandro Ness acrescenta que a taxa de desemprego revela que a economia local e brasileira tem apresentando um comportamento caracterizado como bom.
— Mas também há de se considerar uma relação entre a taxa de desemprego e a inflação. Nós tivemos uma inflação um pouco mais elevada nos últimos tempos, isso propicia mais dinheiro em circulação e, consequentemente, uma taxa de desemprego menor. A partir do momento que você domina a inflação e, para dominá-la tem que levar a taxa de juros, você faz com que o ritmo de atividade acabe caindo e consequentemente a taxa de desemprego acaba aumentando — diz Ness.
Ele complementa que, por outro lado, em relação a Caxias do Sul especificamente, é preciso investigar com mais profundidade a geração de empregos na indústria, que é o carro-chefe da renda e emprego do município. No ano passado, o setor contratou 30.180 pessoas e desligou 29.281, gerando um saldo de 899 vagas.
"Mercado de trabalho muito favorável"
Embora ainda não haja um recorte municipal sobre a taxa de desemprego, quem lida com o mercado de trabalho diariamente consegue fazer considerações sobre o cenário no município. A coordenadora da agência do Sine de Caxias, Zenaira Hoffman, por exemplo, caracteriza como favorável a situação da cidade para quem busca vagas, contudo, aponta a dificuldade de contratação para determinados setores.
— A maior dificuldade das empresas é contratação de mão de obra mais braçal ou insalubre. Somente em uma empresa tem 50 vagas e está difícil de achar candidatos. Outras vagas exigem como requisito o mínimo de escolaridade, que é o Ensino Fundamental. Temos oportunidade de estudo, mas é uma cidade que acolhe todos, sendo que muitas pessoas não tiveram oportunidade de estudar, mas merecem trabalho. Então, no meu ponto de vista, esses fatores são a causa de desemprego na nossa cidade, mas acredito que para todos há trabalho, falta somente o movimento para o encaixe no lugar certo para cada pessoa — opina.
A agência de Caxias tem disponíveis quase 300 vagas para esta segunda-feira (19). A descrição de cada um dos 284 postos de trabalho disponíveis pode ser acompanhada presencialmente, no local, ou antecipadamente por meio deste link. O Sine está localizado na Rua Bento Gonçalves, 1.901, Centro. O horário de funcionamento é das 8h às 12h e das 13h às 17h. As senhas para atendimento são distribuídas das 8h às 9h30min, para o período da manhã, e das 13h às 14h30min, à tarde.
Mais de 3,3 mil vagas de emprego foram geradas em Caxias em 2023
O mercado formal de trabalho caxiense encerrou 2023 no azul, com 3.370 novos postos de trabalho. Foram 30.296 admitidos contra 28.384 desligados, segundo os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados pelo governo federal no fim de janeiro.
O setor de serviços foi o que mais gerou vagas de janeiro a dezembro do ano passado, com saldo de 1.912 carteiras assinadas. O comércio, por sua vez, registrou saldo de 564 postos de trabalho, e a agropecuária, de 85. O único grupo que registrou mais demissões do que contratações no ano passado foi o da construção, com saldo de -90.
País
Com a atualização, a taxa de desocupação no Estado segue abaixo da média nacional. No país, o indicador chegou a 7,4% no trimestre encerrado em dezembro de 2023, um recuo de 0,3 ponto percentual ante o trimestre anterior. Com o resultado, a taxa média anual do índice foi de 7,8% em 2023, menor patamar desde 2014.