Em ano marcado por queda na taxa de desemprego, o número de pessoas ocupadas atingiu nível recorde no Rio Grande do Sul. Em 2023, o Estado registrou o maior número de pessoas empregadas nos últimos 12 anos. Os dados são do recorte anual da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (16). Avanço da economia acima do esperado e aumento na renda de parte da população ajudam a explicar esse cenário, segundo especialistas.
Em 2023, 5,887 milhões de pessoas estavam ocupadas no Estado, o que representa 133 mil a mais do que o contingente observado no ano anterior. Essa diferença significa avanço de 2,31%. O total de pessoas trabalhando em solo gaúcho é o maior na série histórica da Pnad, que agrupa dados desde 2012 (veja no gráfico).
O Coordenador da Pnad Contínua no Estado, Walter Rodrigues, afirma que esse avanço da ocupação reflete uma série de movimentos na economia, como crescimento da atividade acima do esperado, descolamento de efeitos da pandemia e aumento na renda e nos valores repassados via programas de transferência de renda:
— Teve aumento no Bolsa Família, o salário mínimo voltou a ter ganho real, crescendo acima da inflação. São fatores que contribuem não apenas para a economia, mas também para o mercado de trabalho. Porque, se tem mais consumo, precisa de mais gente para produzir e vender.
Rodrigues afirma que esse movimento de avanço no emprego conversa com o desempenho dos setores em 2023 no Estado, que teve o ramo de serviços registrando o maior avanço. Como esse segmento é um dos principais criadores de postos, isso reflete na ocupação.
A taxa de informalidade, que mostra o percentual de trabalhadores informais dentro do total de ocupados, apresentou estabilidade, subindo de 31,1%, em 2022, para 31,9% em 2023. Já a renda média habitual ficou em R$ 3.222 — R$ 132 a mais do que o valor observado em 2022.
O coordenador da Pnad no Estado afirma que esse cenário reforça a avaliação no sentido de que o mercado de trabalho se aproxima dos níveis observados no início da série histórica. Apresenta consolidação após recuperação iniciada no pós-pandemia.
Expectativa por juro menor
Lisiane Fonseca da Silva, economista que atua na área do mercado de trabalho e professora da Universidade Feevale, afirma que o aumento no número de pessoas com emprego é reflexo de uma série de fatores. Um desses componentes é a expectativa por juros menores. Mesmo que o efeito dos cortes na Selic leve alguns meses para chegar no mercado, a projeção de melhora anima parte do empresariado, que fica mais confortável para investir na produção, segundo a economista:
— Na medida que o juro cai, gera uma expectativa positiva, mesmo que o impacto não seja imediato. (...) O custo de investimento cai e gera um cenário mais positivo.
A professora da Feevale afirma que, mesmo com a melhora no mercado de trabalho, é preciso avançar com mais força na redução na taxa de informalidade. Diminuir o número de trabalhadores informais gera crescimento mais sustentado da economia, com menos sobressaltos entre altas e quedas na atividade.