Cansado da insegurança do trânsito e da exposição climática, o motoboy Adriel Pessoa da Silva, 25 anos, viu, em dezembro do ano passado, uma oportunidade para voltar ao mercado de trabalho formal e, ainda, conseguir garantir benefícios como férias, 13º salário e folga aos domingos. Ele foi contratado como montador em uma casa de lanches da Rua Vinte de Setembro, em Caxias do Sul, passou pelo período de experiência e comemora a chegada do novo ano estabelecido na função.
Silva é uma das 1.912 pessoas contratadas pelo setor de serviços em 2023 no município, segmento que mais gerou vagas na maior cidade da Serra nos últimos 12 meses. Foram 30.296 admitidos contra 28.384 desligados, segundo os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados pelo governo federal nesta terça-feira (30). Somando todos os segmentos, Caxias gerou no total 3.370 vagas — foram 85.175 admissões contra 81.805 desligamentos no ano passado.
— É um trabalho bom, digno (de motoboy), estava desde 2018, mas tem muita adversidade, tem chuva, tem os perigos do trânsito. Minha mãe nunca dormia antes de eu chegar. Aqui, eu me sinto seguro, tranquilo e ainda folgo aos domingos, o que antes não tinha como motoboy. Quero seguir trabalhando, aprender cada vez mais e conquistar meus objetivos — planeja Adriel da Silva, que mora no bairro Cidade Nova e está na terceira experiência com carteira assinada.
O setor de serviços, inclusive, ganhou protagonismo em cinco dos 12 meses do ano que passou. Para a economista, professora e diretora de Planejamento, Economia e Estatística da CIC Caxias Maria Carolina Gullo, uma série de fatores contribui para este cenário:
— 2023 foi um ano sem nenhum tipo de ocorrência de saúde que, de alguma forma, pudesse prejudicar o andamento dos serviços. Neste sentido, no pós-pandemia, muitas famílias estavam ansiosas para comprar serviços, principalmente a parte de turismo e entretenimento, dois segmentos que cresceram muito. Além disso, quando a gente fala de serviços, temos que lembrar que é um setor muito heterogêneo, tem de tudo, tem dentro do setor financeiro, a parte de educação, limpeza, lazer, cabeleireiro, manicure — detalha Maria Carolina.
Já a indústria, setor fundamental para a economia caxiense, também encerrou 2023 no azul em contratações, contudo, com saldo bem menor do que serviços. As 899 vagas geradas, na opinião de Maria Carolina, refletem a falta de investimentos por parte das empresas ainda motivada pela taxa de juros.
— A carteira de pedidos foi reduzindo ao longo do ano, novos investimentos não foram feitos e novos pedidos também não foram realizados. Não houve, então, demanda para contratar mais pessoas. A indústria ficou com o que tinha (de mão de obra) e fez até alguns ajustes no fim do ano — avalia a economista.
O comércio, por sua vez, registrou saldo de 564 postos de trabalho, e a agropecuária, de 85 pessoas de saldo com carteira assinada. O único grupo que registrou mais demissões que contratações no ano passado foi o da construção, com saldo de -90.
Dezembro foi o mês que fechou mais vagas no ano
O levantamento do Caged indica que, dentre os 12 meses de 2023, o que teve saldo mais negativo foi dezembro. O último mês do ano encerrou com 6.870 desligamentos e 4.645 admissões, o que representa -2.225 postos de trabalho em Caxias do Sul. O setor que mais contribuiu foi a indústria (-1.040 vagas), seguida pelos serviços (-714), comércio (-250), agropecuária (-132) e construção (-89).
— Dezembro, na minha opinião, não traz grandes surpresas. Estes dados estão em linha com a desaceleração econômica que estamos acompanhando a cada trimestre. O PIB, por exemplo, foi muito forte no primeiro trimestre, muito puxado por safras recordes, e, depois, tivemos uma desaceleração, o que é normal. Vejo que o dado de emprego acompanha esse movimento. Foi uma desaceleração geral em dezembro — opina o economista e professor do Centro Universitário da Serra Gaúcha (FSG), Gustavo Bertotti.
Maria Carolina acrescenta que as demissões em dezembro seguem um movimento natural de ajuste, principalmente no quadro de funcionários da indústria.
— As indústrias fazem o ajuste na mão de obra de acordo com os pedidos até o final do ano. Depois, fazem férias coletivas e, na retomada do ano, conforme a carteira de pedidos vai chegando, vai aumentando, vão de novo contratando e ajustando. O comércio faz esse ajuste mais em janeiro, porque, em dezembro, tem as festas de final de ano (que geram mais compras por parte dos consumidores). Já os serviços contratam mais por conta das férias e dos eventos importantes que ocorrem no verão — diz a economista.
E o que esperar da geração de empregos para 2024? A economista da CIC vislumbra um cenário de vagas similar ao de 2023, com otimismo. Contudo, lembra que um desempenho satisfatório depende do índice de confiança do empresariado e também do comportamento do mercado.
— As notícias que temos é que o mês de janeiro está com uma oferta bem significativa de vagas em Caxias, para todos os segmentos: indústria, comércio e serviços. Esperamos que a taxa de juros caindo, como vem acontecendo, que as empresas voltem a investir e, com isso, colabore para aumentar ainda mais as vagas no mercado de trabalho. Estamos na expectativa de que 2024 seja a minimamente parecido com 2023, tanto na economia, como no mercado de trabalho.
Sine tem 210 vagas para esta quarta-feira (31)
Quem deseja iniciar o novo ano empregado pode buscar uma chance na agência do Sine de Caxias do Sul. Para esta quarta-feira (31), são 210 vagas à disposição dos candidatos. A descrição de cada uma pode ser acompanhada presencialmente, no local, ou antecipadamente por meio deste link.
Há demanda, por exemplo, para arte-finalista, atendente de lanchonete, auxiliar de contabilidade, encanador, eletricista de instalações, monitor infantil, preparador de tintas, polidor de metais e tecelão de malhas.
O Sine está localizado na Rua Bento Gonçalves, 1901, Centro. O horário de funcionamento é das 8h às 12h e das 13h às 17h. As senhas para atendimento são distribuídas das 8h às 9h30min para o período da manhã e das 13h às 14h30min à tarde.
