Polo turístico, de inovação e de ensino no Rio Grande do Sul, a Serra deve avançar ao longo de 2024 em novos investimentos, tecnologia e possibilidades de outros cursos de graduação. As iniciativas não estão restritas apenas a Caxias do Sul, mas ganham força em municípios vizinhos, como Farroupilha, Bento Gonçalves e até mesmo em cidades da Região das Hortênsias e dos Campos de Cima da Serra. Novidades que prometem impactar positivamente na economia da região.
É o caso do Desvio da Cerveja, um trecho da VRS-813, que deve inaugurar até o fim de 2024 uma ciclovia com 10,8 quilômetros de extensão. Além de estimular o esporte, a saúde e o lazer, o projeto busca atrair o ciclista, um perfil de turista com elevado tíquete médio e que está disposto a consumir e usar serviços em empreendimentos de qualidade.
Na ciclovia, cujas obras começaram em fevereiro de 2023, serão aportados R$ 8,18 milhões no projeto, com recursos do governo do Estado (R$ 3,27 milhões) e contrapartida da prefeitura de Farroupilha (R$ 4,91 milhões).
O investimento vai da área urbana de Farroupilha, no bairro São José, até as divisas com Carlos Barbosa e Garibaldi. O trajeto será interligado a outras ciclovias já existentes nos três municípios, conduzindo os visitantes a pontos de interesse cultural, ambiental e também gastronômico. No local, existem três grandes cervejarias no caminho (a Blauth Bier, a Guarnieri e a Templo Nahualli), que originaram o nome da rota.
A posição do local também é estratégica: está a aproximadamente oito quilômetros de Carlos Barbosa e Garibaldi, 19 km de Bento Gonçalves e pouco mais de 20 km de Caxias do Sul.
A iniciativa de trazer a ciclovia para a localidade foi do sócio e fundador da Blauth Bier, Rafael Haupt Canziani, e foi pensada há 13 anos, quando deu os primeiros passos na implantação do empreendimento e criou um plano de operação robusto. O espaço produz 10 mil litros de cerveja artesanal e atrai cerca de 4,5 mil pessoas por mês no espaço, que tem pub, restaurante e um jardim. Em breve, deve apresentar projetos de expansão do negócio.
O desejo de atrair investimentos no local e criar uma rota turística busca fazer com que o Desvio Blauth retome o protagonismo no turismo gaúcho, como era no início do século passado. Poucos sabem, mas a localidade era o primeiro destino dos veranistas - em uma época em que chegar ao Litoral era considerada uma verdadeira façanha. A saga começou por volta de 1915 e perdurou até 1936. Nesse período, surgiam, então, as casas de veraneios Hampel e Blauth & Haupt, sobrenomes das famílias empreendedoras que começaram o negócio.
O clima ameno e os atrativos estruturais ajudavam a destacar o destino.
— As pessoas saíam de Porto Alegre e cinco horas e meia depois desembarcavam de trem no Desvio Blauth. Para ir para o Litoral, não tinha estrada, tinha que pegar uma embarcação no Guaíba, três dias e três noites de viagem. Isso fez com que o hotel desse certo, com as pessoas passando aqui dezembro, janeiro e fevereiro, com uma estrutura de um resort da época, com quadra de tênis, passeio de barco, trilhas, banda de música. Com a abertura das estradas para o Litoral, o pessoal passa a não vir mais pra essa região, levando ao fechamento das casas — relembra Canziani, bisneto do pastor Curt Haupt, idealizador da casa de veraneio.
Em 2007, ao se apaixonar pelo setor cervejeiro, Canziani decidiu resgatar a história da família e homenagear os ancestrais com o projeto da cervejaria, uma das pioneiras na produção artesanal. O empreendimento foi inaugurado em novembro de 2015 e, ainda na idealização do projeto, tinha o desejo de elevar o turismo naquela região. A ideia era atrair outras cervejarias para a localidade, permitindo a criação do Desvio da Cerveja. Foi ele que deu esse nome para a VRS-813, buscando destacar ainda mais a vocação do local.
Nos últimos anos, Canziani pleiteou com lideranças do município e do Estado para conseguir os recursos e o projeto da ciclovia na rodovia. Também lidera uma associação que busca atrair outros empreendimentos para além da produção da bebida à base de malte.
— Eu sabia que ia ter que trabalhar na busca do turismo para esta região. O projeto da cervejaria era muito além do empreendimento e agora, com a ciclovia, estamos conseguindo reunir esforços para atrair investimentos. Passei anos ajudando a criar diferentes rotas na região. Vai ligar municípios e ser uma das maiores ciclovias do Brasil. Não sou político, não tenho partido, apenas quero ajudar no desenvolvimento e que ajude na qualidade de vida para quem trabalha, quem frequenta e quem mora aqui — projeta.
Investimentos milionários para atrair mais turistas na Região das Hortênsias
O prédio que abrigou a antiga fábrica da Calçados Ortopé, na Rua São Pedro, em Gramado, vai dar espaço, a partir de julho de 2024, a um complexo temático que promete encantar crianças e adultos. O espaço de 7 mil metros quadrados abrigará um hotel personalizado voltado ao público infantil, com quartos temáticos e oferta de brinquedos de uso coletivo. O projeto é da marca de pelúcias personalizadas Criamigos, que surgiu há sete anos em Gramado e tem 78 lojas franqueadas espalhadas pelo Brasil.
Montar um hotel em um dos destinos mais visitados do país ganhou força após uma pesquisa que identificou que 80% dos clientes da Criamigos se consideram fãs da empresa e que gostariam de consumir mais produtos da marca. Pensando nisso, as fundadoras Natiele Krassmann e Veronicah Sella iniciaram o projeto de inaugurar um empreendimento no ramo da hotelaria que replicasse o conceito das lojas da Criamigos. A opção por Gramado se deu por dois motivos: o potencial turístico da cidade e por que o local é berço da própria Criamigos.
Além da hospedagem, terá espaços de entretenimento, gastronomia e lojas temáticas, tudo para encantar os convidados, como são chamados os clientes da marca. O empreendimento terá capacidade para receber até 1,2 mil pessoas por dia, com abertura prevista para abril de 2024. O investimento estimado é de R$ 100 milhões, com criação de 160 novas vagas de emprego, em diferentes segmentos.
As 32 suítes também serão temáticas e inspiradas nos personagens do Clubinho Criamigos, série de animação com os mascotes da loja. Cada espaço terá, em média, de 40 a 50 metros quadrados, para dois adultos e três crianças. O objetivo é criar laços familiares
— A criança vai estar no centro das decisões. Os quartos, por exemplo, terão duas portas: uma para adultos e uma pequenininha para a criança. O protagonista do menu do restaurante será a versão kids, o adulto vai ter que pedir as versões para ele. A recepção será diferenciada, mas tudo voltado para a criança. Buscamos aqueles pais que priorizam os filhos e saberão que aqui as crianças serão bem atendidas e que criarão memórias para a vida toda — conta Veronicah.
O local está há sete meses em obras, movimentando mais de 60 profissionais, e a inauguração da hotelaria está prevista para junho, enquanto que as demais operações devem estar funcionando até outubro deste ano. A marca também buscou investidores externos para viabilizar o negócio.
— O prédio fica no centro da cidade, foi o primeiro prédio da Ortopé, o principal empregador da cidade por muito tempo. Chegou a movimentar mais de 1,5 mil pessoas naquele prédio. Acho muito simbólico. Na caixinha da Ortopé, tinha a mensagem "Venha conhecer Gramado, um lugar encantador e mágico". A conexão daquele prédio é infantil, é também um compromisso com a comunidade em entregar de novo aquele espaço para as pessoas — destaca Veronicah.
A Criamigos é uma rede de franquias especializada na personalização de bichinhos de pelúcia. Existe uma oficina onde os clientes montam seu companheiro de pelúcia de um jeito exclusivo. A marca nasceu em 2016 e, em 2022, fechou com faturamento superior a R$ 100 milhões.
Roda-gigante inédita de R$ 60 milhões
O tradicional Parque Mundo a Vapor, em Canela, vai ser ampliado e ganhará companhia a partir do primeiro trimestre de 2024.
Uma roda-gigante de 52 metros de altura, a primeira temática no mundo, está em processo de instalação no mesmo terreno ocupado pelo parque, na divisa com Gramado. A nova atração terá 30 cabines panorâmicas climatizadas com capacidade para seis pessoas em cada, e o passeio poderá ser feito tanto de dia quanto à noite, permitindo uma vista de 360 graus de um dos principais destinos turísticos do país.
As fundações foram concluídas em novembro e permitiram o início do processo de montagem da roda-gigante, que está sendo feito e acompanhado por três equipes, sendo uma delas do fabricante internacional. Atualmente, segundo a empresa, a montagem está em cerca de 30%, sendo que a parte mais critica já executada, que é a instalação do eixo central. As obras civis estão em cerca de 20% no canteiro. Em torno de 60 empregos diretos serão gerados na fase de operação.
O projeto, nomeado de Roda Canela, foi criado em parceria com a Interparques Holding S.A, empresa conhecida por operar atrativos em outros lugares do Brasil, como a roda-gigante FG Big Wheel de Balneário Camboriú.
A estrutura na Serra contará com um sistema de iluminação para show de luzes durante a noite. Paralelamente à construção deste novo atrativo, também será feita uma revitalização do parque Mundo a Vapor, que será ampliado em 1,5 mil metros quadrados e contará com uma nova fachada.
O investimento no projeto é R$ 50 milhões. O objetivo é aumentar o tempo de permanência do turista na região, beneficiando também os demais parques da cidade, escolhida como a Capital Nacional dos Parques Temáticos.
— Estamos trazendo um equipamento inédito para a região. Além disso, é um investimento desenvolvido especialmente para este projeto, pois sabemos que será um marco, um ícone para a cidade de Canela. Queremos trazer uma opção de lazer limpa e silenciosa, que proporciona vistas privilegiadas das belezas naturais dos vales que cercam Canela, e, ao mesmo tempo, uma opção de atrativo moderno em linha com os grandes centros de turismo do mundo — explica o CEO da Interparques Holding SA, Cícero Fiedler.
Caxias vai testar ônibus elétrico no transporte coletivo
Os veículos elétricos, como ônibus e carros, seguirão ganhando mais espaço em 2024. A novidade é que a tecnologia poderá estar mais próxima das pessoas, principalmente para os usuários do transporte coletivo em Caxias do Sul. Prefeitura, concessionária Viação Santa Tereza (Visate) e a empresa Marcopolo se organizam para iniciar testes de implantação da tecnologia no transporte que movimenta entre 90 mil e 100 mil pessoas todos os meses.
De acordo com o secretário municipal de Trânsito, Transportes e Mobilidade (SMTTM), Alfonso Willenbring Júnior, não há data para o início dos testes com o veículo em uso pelo público, mas a intenção do poder público e das empresas é fazer os ensaios assim que possível. Uma linha de movimentação baixa de passageiros e com baixa quilometragem foi mapeada e servirá como ensaio para uma futura implantação do veículo elétrico na frota da concessionária.
— Devemos ampliar a presença de veículos mais sustentáveis, uma vez que há previsão no contrato com a concessionária, onde 30% da frota deverá ser com ônibus menos poluentes, sejam elétricos ou não. O investimento dependerá de avaliações, testes, que começarão a ser feitos porque há o interesse do poder público, concessionária e montadora — comenta.
Em Porto Alegre, 12 ônibus elétricos serão incorporados na frota do transporte coletivo em 2024, conforme anunciado pela prefeitura. Na Capital gaúcha, os veículos e os carregadores serão adquiridos pelas empresas que operam o sistema com um investimento de R$ 38 milhões, com subsídio do governo municipal.
Um dos modelos usados em Porto Alegre é o Attivi Integral, da Marcopolo, que tem 12,95 metros de comprimento, ar-condicionado, piso baixo, autonomia de até 280 quilômetros, capacidade para 81 pessoas e espaço para cadeira de rodas. É o primeiro ônibus da empresa com chassi próprio e 100% elétrico.
Impacto local na montagem de carro elétrico "caxiense"
Ao mesmo tempo, o setor de carros elétricos ganhará mais espaço. Após estrear em 2023, a segunda edição da Mostra de Veículos e Mobilidade Elétrica ganhará um dia a mais de programação e será realizada de 7 a 10 de novembro deste ano, nos Pavilhões da Festa da Uva. Além de expor carros, motos, vans, ônibus e caminhões elétricos, a feira ficou conhecida por mostrar detalhes mecânicos desses veículos e ainda apresentar inovações para o setor, como o sistema que transforma caminhões à combustão em híbridos plug-in, que permite maior liberdade de interação entre os dois motores, por conta das baterias maiores.
Outra novidade que ganhará força neste ano que se inicia é o impacto local da produção do primeiro carro elétrico montado em planta industrial de Caxias. O modelo é o Lecar Model 459, que terá custo de R$ 279 mil e autonomia de 400 quilômetros por carga.
Caxias foi escolhida para sediar a planta industrial justamente por ser um centro industrial com alta concentração de empresas metalmecânicas, de robótica e usinagem. Conforme o planejamento, a partir de dezembro deste ano o veículo deve começar a ser produzido em número expressivo, com previsão de cerca de 300 carros por mês.
Região vive expectativa por anúncio de novos cursos de Medicina
Está previsto para outubro de 2024 o anúncio preliminar dos resultados da seleção de propostas para autorização de funcionamento de cursos de Medicina pelo Programa Mais Médicos no país. A medida é aguardada por instituições de ensino da Serra, que buscam ofertar um dos cursos mais concorridos do país e que, atualmente, é oferecido na região apenas pela Universidade de Caxias do Sul (UCS).
No total, poderão ser abertas até 5,7 mil vagas, distribuídas em, no máximo, 95 novos cursos. Eles não poderão se instalar em qualquer lugar: apenas em um dos municípios que tenham média inferior a 2,5 médicos por mil habitantes; possuir hospital com pelo menos 80 leitos; demonstrar capacidade para abrigar curso de Medicina, em termos de disponibilidade de leitos, com pelo menos 60 vagas; e não ser impactado pelo plano de expansão de cursos de medicina (aumento de vagas e abertura de novos cursos) nas universidades federais.
Para o Rio Grande do Sul, há a previsão de quatro novos cursos, totalizando em 240 vagas, com 186 municípios pleiteando. A UCS, por exemplo, pleiteia a instalação do curso em Bento Gonçalves, São Francisco de Paula, Canela e Torres, além da ampliação das vagas em Caxias do Sul. Para isso, seriam investidos mais de R$ 60 milhões, segundo a instituição.
Há também pedidos da Universidade do Vale do Taquari (Univates) e do Tacchini Sistema de Saúde para instalar o curso de graduação em Medicina em Bento Gonçalves, e Centro Universitário da Serra Gaúcha, Uniftec, Faculdade Anhanguera e Faculdade Ideau.