É fato que viver no Exterior pode ser uma experiência enriquecedora de diferentes maneiras. É um momento para se aperfeiçoar em um novo idioma, ampliar a visão de mundo, vivenciar outras culturas e costumes, ganhar autoconfiança, etc. A lista é enorme e ainda pode ganhar um acréscimo: morar fora do Brasil pode ser um impulsionador para o empreendedorismo.
Se tem quem se estabeleça para sempre em outro país e nem pense mais em morar na terra natal, também há quem volte para casa com ainda mais vontade de investir. Este último perfil é o caso da proprietária da Experimento Intercâmbio de Caxias do Sul, Suzane Tonin. Uma temporada de um ano e meio na Austrália bastou para que ela voltasse para a Serra com o desejo de ter o próprio negócio.
Antes moradora de Nova Roma do Sul e ocupando um cargo de vendas em uma empresa, Suzane detalha que, no retorno da Oceania, sentiu a vontade de ter mais liberdade e independência em sua carreira profissional, o que a motivou a adquirir a empresa de intercâmbio pela qual fez a viagem.
— Voltamos com um outro olhar, com outras percepções, outra cabeça. Criamos uma independência lá fora, amadurecemos e, quando voltamos, não queremos mais ficar nas "asas" de ninguém. Queremos ter o nosso próprio negócio, que foi o que eu fiz. Hoje, já faz oito anos que tenho a empresa e ajudo as pessoas a vivenciarem esse mesmo sonho que eu tive — argumenta Suzane.
A passagem por Dublin, na Irlanda, também revolucionou a carreira do administrador Alessandro Fernando Beltrame, de Caxias do Sul. Ele conta que o desejo de morar em outro país sempre o acompanhou, mas acabou sendo adiado para depois da formatura em Administração. A viagem, que uniu trabalho e estudos, ocorreu ao longo do ano de 2018 e foi essencial para a abertura do próprio negócio — o Tannat Wine Bar — dois anos depois.
— Eu trabalhava em um café bar. Foi lá que eu vi que gostava disso, de gastronomia, de atendimento, de lidar com pessoas diferentes, prestar um bom serviço neste sentido. Somando isso, com os lugares que conheci, construí essa vontade de ter algo meu — comenta Alessandro.
Alessandro pontua que se não fosse a experiência no bar irlandês e uma ida à Itália talvez ele nunca pensaria em ter um empreendimento voltado a vinhos na Serra. Apesar de desafiadora, a vivência como empreendedor tem sido positiva, segundo ele:
— É muito gratificante, porque você faz o teu próprio negócio dar certo e isso é o que traz satisfação e realização profissional — finaliza.
Uma hospedagem diferente a partir de vivências europeias
Após vivenciarem o período mais crítico da pandemia na Europa, entre passagens pela Inglaterra e pela Alemanha, o casal Cristofer Grings e Clara Miceli resolveu voltar ao Brasil e concretizar um sonho antigo, que começou a ser amadurecido ainda em terras estrangeiras. Há cerca de três meses, eles largaram as profissões na área de TI e Medicina e instalaram uma hospedagem diferenciada em Gramado. A cerca de sete metros do chão, em formato de cúpula e totalmente tecnológico (com neve artificial e comando por voz, por exemplo), o Domo Supernova fica a cinco quilômetros da Rua Coberta e se tornou a fonte de renda e dedicação diária dos dois.
A história do casal, inclusive, começou fora do país. Cristofer, que é de Novo Hamburgo, e Clara, natural do Rio de Janeiro, se conheceram há alguns anos em um intercâmbio na Austrália. Mas foi somente em 2019, com o relacionamento estabelecido, que eles se mudaram para a Europa. A intenção era ter uma vida mais equilibrada, unindo lazer e trabalho. Contudo, poucos meses depois da mudança, veio a pandemia e os dois perceberam que não estavam vivendo a vida que desejavam, com pouca interação com a cultura e a população local.
— Nos deparamos com o mesmo cenário que tínhamos no Brasil. Devido à pandemia, ficamos trancados dentro de casa e trabalhávamos 12, 13 horas por dia — observa Cristofer.
No fim de 2021, o casal, então, decidiu largar a carreira na Alemanha e viajar pela Europa. Porém, o projeto durou poucos meses, sendo interrompido pelas incertezas provocadas pelo início do conflito entre Rússia e Ucrânia. Eles retornaram ao Brasil no mês de abril, já com os planos de construção da hospedagem bem adiantados.
— Como as coisas se alinharam e percebemos que não queríamos ficar lá para sempre porque acabamos não nos adaptando tanto à cultura alemã, pensamos que talvez fosse um bom momento de voltar. Também pesou a vontade de fazer uma coisa diferente — detalha Clara.
O "fazer diferente" mencionado pela recém-empreendedora, também foi alimentado pelas experiências vivenciadas nos últimos meses em terras europeias. Sem a rotina de trabalho e com menos restrições na rotina, o casal começou a buscar acomodações diferentes, fora do convencional. Um passeio na Disney da França trouxe a inspiração que faltava aos dois:
— Observamos que a Disney não é só um parque de diversão. É um lugar que te proporciona uma experiência. Enquanto você está lá, está imerso em uma experiência que eles construíram. Há todo um cenário, eles contam uma história. E aí tivemos esse insight de fazer da nossa hospedagem um local de experiência. Entregamos ao hóspede uma coisa lúdica, tecnológica. Por exemplo, ele pode ter a experiência de ver a neve (artificial) caindo pela janela, isso tudo acompanhado por produtos como panqueca, chocolate quente, como se estivesse em um filme americano de Natal — detalha Cristofer.
A intenção do casal é construir um complexo de hospedagem de experiência em um futuro breve. O Domo Supernova é a primeira unidade de outras que devem ser instaladas no mesmo terreno em Gramado.