CORREÇÃO: Mauro Tessari é engenheiro agrônomo e extensionista rural da Emater de Caxias do Sul, e não gerente regional da Emater. A informação incorreta permaneceu publicada entre 13h36min de 20/11/2022 e 15h17min de 21/11/2022.
A cerca de um mês para o início da estação mais quente e menos chuvosa do ano, agricultores de Caxias do Sul ainda aguardam pela escavação de microaçudes. A ação foi anunciada pelo governo estadual, em janeiro, como uma das medidas de enfrentamento à estiagem histórica do último verão. O maior município da Serra será contemplado com 12 estruturas de armazenagem de água, entretanto, mesmo após 10 meses, ainda não há data para início das obras.
O processo para recebimento dos microaçudes começou ainda no primeiro mês do ano, quando os municípios interessados tiveram de enviar um ofício para a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr). A iniciativa está inserida dentro do programa Avançar na Agropecuária e no Desenvolvimento Rural, com investimento total de R$ 66,3 milhões para a escavação de cerca de 6 mil microaçudes no Estado.
No âmbito municipal, houve a seleção de 12 agricultores para o recebimento das estruturas de armazenagem, que deverão ser usadas para irrigação. O engenheiro agrônomo e extensionista rural da Emater de Caxias do Sul, Mauro Tessari, detalha que mais de 40 famílias se inscreveram no município.
— Foram priorizados os agricultores que tinham mais necessidade com relação à falta de água em suas propriedades. São localidades bem espalhadas pelo município, desde a Criúva, onde o pessoal trabalha com a pecuária e com milho, até a Vila Cristina. Também temos na Quarta Légua... — explica Tessari.
A escolha das famílias recebeu a aprovação do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural (CMDR) e, a partir daí, foram elaborados os projetos técnicos dos microaçudes pela Emater. Segundo o governo estadual, cada microaçude contemplará até 24 horas de uso de máquina (escavadeira hidráulica ou equipamento similar) por propriedade, volume aproximado de 1.560m³ de terra movimentada e valor por projeto de até R$ 10.411,40. Cada reservatório, segundo Mauro, tem dimensão de cerca de 20x20 metros.
O secretário municipal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Rudimar Menegotto, diz que as estruturas são aguardadas com ansiedade não só pela pasta, como também pelas famílias que atuam no meio rural e que foram afetadas pela falta de chuva do último verão.
— O Estado está concedendo os benefícios por etapas (se referindo à segunda e última etapa de pagamentos do programa SOS Estiagem, que começou na quarta-feira, 16). Esperamos que agora venham os açudes e os poços — diz Menegotto.
Com projeto pronto, mas sem prazo
O agricultor Valdecir Volff, que mora em São José da Quarta Légua, precisou parar de produzir legumes e verduras em janeiro de 2022 por causa da estiagem. Selecionado para fazer parte do projeto de criação de microaçudes, ele aponta essa como uma oportunidade de não repetir a mesma situação do início do ano.
No entanto, não há nenhuma perspectiva de quando as escavações vão acontecer. É que o projeto e a entrega da documentação foram concluídos há cerca de três meses, mas nenhum prazo foi estabelecido para a efetivação da iniciativa. Embora tenha um açude na propriedade no interior de Caxias, Volff conta que o reservatório não está cheio, porque os últimos meses foram de chuva abaixo da média.
— A nossa região é uma região de pouca água. Então, quanto mais depósito a gente tiver, melhor. Se viesse agora que tem pouca chuva, seria fácil até de fazer, porque a terra está seca e mais fácil de cavoucar — comenta.
Quem também está na expectativa pelo investimento é Deisiane Vanin da Rosa, dona uma queijaria em São Jorge da Mulada, em Criúva. Devido à limitação de chuva entre o final do ano passado e o início deste ano, um açude instalado na propriedade foi insuficiente para manter o bem-estar das vacas. É que, além da redução da água, o que sobrou ficou barrento, dificultando o abastecimento dos animais.
Diante dessa condição, quando o projeto dos microaçudes foi lançado, a empresa procurou a iniciativa com a intenção de garantir o abastecimento no próximo verão. O projeto na empresa, que produz de 25 a 30 quilos de queijo por dia, é instalar também um sistema de irrigação para a produção da pastagem aos animais. Deisiane diz que, pela projeção de receber o reservatório de água, as plantações ainda não foram feitas:
— A nossa preocupação é que até agora a gente não plantou nada de lavoura e tudo vai atrasando para o milho e para o pasto. Quanto antes sair seria melhor, para nós. Se não fizerem (os microaçudes), vamos arriscar plantar. Temos um açude que não é grande, mas para os animais tem (água). Nós vamos na sorte, porque os animais realmente precisam e nós precisamos dos animais para ter a nossa renda.
Chuva abaixo da média e temperaturas altas
Com a persistência do fenômeno La Niña, o verão no Rio Grande do Sul deve ser quente e com pouca chuva. Conforme a Climatempo, a expectativa é de que os termômetros marquem temperaturas acima da média. É para janeiro a previsão de maior alta. A média para o primeiro mês do ano é de 26,6°C, mas, em 2023, os registros devem ficar de 0,25°C a 1°C acima disso. Nos meses de verão, segundo os meteorologistas, a chuva também ficará abaixo da média, embora ainda não se saiba quanto. Em dezembro, quando começa o verão, a média de chuva é de 140 a 180 milímetros na região; em janeiro, é de 140 a 220 milímetros; e em fevereiro, de 140 a 220 milímetros.
O que diz o governo estadual
Em nota enviada pelo setor de comunicação, a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr) confirmou que Caxias do Sul receberá 12 microaçudes por meio da assinatura de um convênio com repasse de recursos entre o Departamento de Infraestrutura e Usos da Água (Dinfra)/Seapdr e a prefeitura. Contudo, os projetos estão em análise técnica e de documentação, sem prazo para início das escavações.
"A Emater já fez o projeto dos 12 beneficiários e irá acompanhar todo o processo de execução dos 12 microaçudes emitindo laudo final de conclusão. O processo se encontra em análise técnica de todos os projetos e da documentação da prefeitura de Caxias do Sul para a assinatura do convênio. O prazo de execução e prestação de contas será de um ano após a assinatura do convênio. Já no caso dos poços, os processos estão em análise técnica e jurídica", esclarece a nota.