Importantes para a transparência e para o controle dos agricultores, a rastreabilidade agrícola é uma realidade entre os participantes da Feira do Agricultor e do Ponto de Safra. De cerca de 40 produtores na primeira turma, de 2020, o Programa de Rastreabilidade para Produtores Feirantes já atende 133 produtores em Caxias do Sul. O projeto é realizado pela prefeitura do município, por meio da Secretaria Municipal da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Smapa), e pelo Sebrae/RS. Um benefício do sistema, por exemplo, é que os consumidores podem conhecer a origem e o caminho das frutas e legumes até a venda, por meio de um QR Code em totens, posicionados com as bancas nas feiras, ou na etiqueta dos produtos. O assunto foi tema no 56º Congresso Brasileiro de Olericultura, realizado até sexta-feira (5), em Bento Gonçalves.
— Encaminhamos todos os produtores que fazem parte das feiras. Com certeza, está trazendo benefício ao produtor, que terá um controle, e mais do que nunca, há benefícios para o consumidor. É uma garantia maior — declara o titular da Smapa Rudimar Menegotto.
A verificação pelo consumidor, vale dizer, é o segundo passo da rastreabilidade, que inicia com o trabalho ainda no campo. Tauê Bozzetto Hamm, agrônomo e sócio da AgroD - empresa licenciada para capacitar os feirantes a partir do programa, explica que o sistema é composto por duas partes importantes: o caderno de campo e a identificação do produto para o consumidor.
— No caderno de campo, ele tem registrado o plantio, o período e o tratamento, por exemplo. Ele tem o controle de tudo que acontece na propriedade dele — descreve Hamm.
O caderno de campo é disponibilizado de forma manual ou por um aplicativo, conforme o perfil do feirante. Pelo app, o agricultor consegue inserir todas as informações sobre a colheita, como os insumos e defensivos usados, e ainda tem outras vantagens.
— Pelo aplicativo é mais fácil e rápido. Além disso, eles têm controle de estoque, de produto e monitoramento do plantio, podendo até ver os melhores momentos de aplicar um defensivo ou tomar uma ação — exemplifica o agrônomo.
Nas informações disponibilizadas para o consumidor estão o nome dos produtores, variedade do fruto ou legume, CPNJ dos feirantes, data da colheita do lote e peso.
— Também é importante para o município porque os pontos de comercialização são espaços cedidos pela prefeitura. Então, temos a responsabilidade de, através da instrução normativa de 2018, cobrar dos produtores a rastreabilidade — destaca o secretário.
A rastreabilidade agrícola é regulada pelo INC nº 02/2018, que tem como principal objetivo monitorar e controlar resíduos de agrotóxicos dentro do Brasil.
Os aplicativos, no mercado, têm custo de uma assinatura mensal, em torno de R$ 80 e R$ 100 mensais. No caso do programa da prefeitura e do Sebrae, a capacitação foi subsidiada pelo programa Juntos Para Competir (formado por Farsul, Sebrae e Senar), em R$ 900 mil entre 2020 e 2022. Enquanto a prefeitura de Caxias investiu R$ 60 mil em 2020. A ação ocorreu também em Bento Gonçalves e Gramado, na Serra.
Agricultores atendidos em Caxias do Sul:
:: Turma de 2020: 40 produtores
:: Turma de 2021: 38 produtores
:: Turma de 2022: 55 produtores
Fonte: Sebrae/RS
“Ajuda muito grande”
O casal Marines Menegotto, 55, e Valdenor Menin, 58, está na terceira turma do programa, e estão entrando no quarto mês de capacitação. Eles já notam a importância e a diferença do trabalho com o aplicativo. Os produtores de morangos contam que recebem visitas dos instrutores, que os mostram como fazer o levantamento de dados e passar para o sistema digital. Antes, o controle era feito de forma manual, em cadernos.
— É uma forma boa de trabalhar. Antes, era mais complicado. Hoje, tudo no celular, facilita bastante — nota Menin.
O casal cultiva outras culturas, entre elas o figo, que antes não tinha o mesmo controle nos números de vendas do que o morango. Com o sistema, isso está mudando.
— É uma ajuda muito grande — celebra Marines.
O próximo passo é esperar os instrutores, que também colhem a história da família e tiram fotos. A ideia é que os consumidores também conheçam esse lado dos agricultores.
Oportunidade de mercado e transparência
A transparência obtida com a rastreabilidade agrícola vai além da relação com o consumidor. O caderno de campo traz um controle completo sobre as informações dos agricultores e suas propriedades. Assim, por exemplo, se existir a necessidade de investigação por algum problema que vier a acontecer, as autoridades possuem todos os dados completos.
Da mesma forma, ter a rastreabilidade é uma oportunidade de mercado. Grandes redes e mercados, geralmente, exigem saber a origem dos produtos. O agrônomo Tauê Bozzetto Hamm destaca que feirantes conseguiram novos canais de vendas.
— A rastreabilidade também permite a permanência no mercado ou a entrada em novos canais. Há produtores que vendem na feira, mas também em fruteiras, mercados e redes. Alguns desses canais já estavam exigindo do produtor a rastreabilidade. Além da necessidade na feira, também fizemos para atingir a necessidade em outros canais — destaca o agrônomo Tauê Bozzetto Hamm.
Benefícios além da rastreabilidade
O produtor caxiense, Irineu Bertotti, 54, que está na segunda turma do programa de rastreabilidade de Caxias, ficou satisfeito com a rastreabilidade e outras vantagens que vieram juntas. O agricultor, que trabalha ao lado do irmão Ivo, utiliza o caderno de campo digital. Hoje, o aplicativo ajuda no controle de custos, plantio e colheita.
— O aplicativo é legal porque, por exemplo, eu vi o que gastei no ano passado, e pude dar uma alinhada do que precisaria agora. Eu anoto tudo no caderno de campo — relata Irineu Bertotti.
Outros casos, mencionados pelo produtor, são de que todos os colaboradores podem acompanhar as ações na colheita. Assim, se houver uma ausência, outras pessoas podem assumir seguindo o planejamento.
Hoje, os irmãos estão praticamente finalizando a capacitação. Falta apenas uma correção na localização da propriedade, por parte da empresa responsável pelo aplicativo, para que o QR Code para rastreio do consumidor comece a ser utilizado nas feiras. Animado com o sistema, Bertotti aprova o modelo.
— Eu vejo que para nova geração vai ser natural. Eu lidava com computador um pouco. Tudo que é novidade, assusta um pouco. Mas, na colônia tu tem que ser tipo um clínico-geral, fazer de tudo — comenta Bertotti.