De negócios iniciados há pouco tempo até os tradicionalmente conhecidos em Bento Gonçalves. Todos os que forem empreendimentos de mulheres podem se cadastrar no projeto Feito por Elas, lançado neste mês, para oferecer um apoio para a divulgação e formalização de estabelecimentos de qualquer setor desde que sejam liderados por empresárias. O objetivo é incentivar a independência financeira das mulheres.
A titular da Coordenadoria da Mulher de Bento Gonçalves, Patrícia Da Rold, explica que a ideia é garantir que essas empreendedoras conheçam os benefícios da regularização. Para ela, muitas poderiam ser enquadrar entre os Microempreendedores Individuais (MEIs), mas desconhecem que essa categorização garante, por exemplo, a contribuição previdenciária que permite a aposentadoria, licença maternidade e auxílio doença.
— Muitas começam de maneira pequena, com a ideia de fazer algo. Quando veem, vai crescendo e elas não têm a dimensão disso e, muitas vezes, não têm um local de onde buscar informações até de como gerir esses empreendimentos. Tem casos de mulheres que tinham emprego e faziam artesanato de renda extra, mas cresceu tanto que largaram emprego e ficaram só com a renda extra. Mas elas precisam de um auxílio para gerir — destaca.
Para viabilizar o projeto, a prefeitura fez uma força-tarefa envolvendo diversos órgãos, como a Coordenadoria da Mulher, a Coordenadoria de Tecnologia de Comunicação e Informação (CTEC), o Gabinete da Primeira-dama, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e a Secretaria de Esportes e Desenvolvimento Social. De acordo com Patrícia, essa união permite a viabilização da iniciativa porque a ideia é garantir a mobilização da comunidade de uma forma ampla. Nesse sentido, inclusive, equipes dos Centro de Referência em Assistência Social (Cras) e das unidades básicas de saúde (UBSs) estão divulgando o projeto para as mulheres empreendedoras.
Apoio para novos negócios
O Feito por Elas começou no último dia 15, com 10 empreendimentos cadastrados e, até esta segunda-feira, já eram 37. Entre elas, está a educadora física Ariadne da Silva Farias Bica, 34 anos, que resolveu empreender com a Motiva Kids, uma academia aberta em outubro para atender crianças e adolescentes de 4 a 17 anos. Natural de Bagé, ela chegou a Bento Gonçalves há cerca de quatro anos e, hoje, além das aulas na própria academia, trabalha em duas escolas da rede estadual.
Ariadne conta que a vontade de empreender surgiu ainda antes da pandemia. Na época, pretendia abrir uma sala de atendimento para psicomotricidade, mas a epidemia global impediu o negócio. Com o retorno às aulas presenciais, ela percebeu que os alunos estavam com dificuldades motoras maiores e que muitos também estavam fora do peso ideal. Assim, nasceu a ideia de uma academia. Desde outubro, o número de alunos passou de cinco para 56. Hoje, a empresária tem um funcionário e parceiros que incrementam o rol de atividades oferecidas, que inclui circuito funcional, jiu-jitsu, ioga, ritmos, futebol com inglês e capoeira.
— É um desafio gigante, porque a gente tem de estar atenta a tudo. Sou mãe de duas crianças, dou aula em duas escolas e mais a academia. É um ritmo louco, mas gratificante. A gente vê o progresso, o avanço das crianças — comenta a professora sobre ser também empreendedora.
Entre os desafios, Ariadne conta que sofreu com o racismo. Mulher negra à frente do empreendimento, ela disse que perdeu alunos quando alguns pais a conheceram pessoalmente. Mas, apesar das dificuldades, a empresária aposta em um futuro promissor, tanto que já pensa em deixar as salas de aula.
— A criança faz o exercício de forma mais lúdica. Depois que elas fazem a atividade, também podem brincar — explica sobre a diferença da academia que fundou em relação às tradicionais.
Empreendimentos de gastronomia são os mais divulgados
Dos empreendimentos divulgados na plataforma do Feito Por Elas, a categoria com maior número é a de gastronomia. São nove empreendedoras que vendem comidas, aproveitando esse espaço virtual para se fazerem mais conhecidas. É o caso Janes Arruda, 46, que há 20 anos tem uma barraquinha que vende pipoca, algodão doce e maçã do amor em pontos variados da cidade, como praças, em frente a escolas e em eventos. Assim como para muitas mulheres, o trabalho autônomo foi uma alternativa para garantir uma renda mesmo com a família crescendo:
— Vim de Ametista do Sul em 2000. Fiquei trabalhando dois anos em uma fábrica de couro. Depois, conheci meu marido e comecei a trabalhar com pipoca e algodão doce. Então, eu engravidei e contornava melhor, para levar eles (filhos) junto para trabalhar — conta a mãe de três filhos.
Janes conta que começou a vender algodão doce, mas esse produto era insuficiente em termos financeiros. Depois de ser convidada por uma loja para vender pipoca em um dia de promoção, ela conseguiu ampliar o negócio. Comprou uma máquina de pipoca e passou a vender mais essa gostosura. Hoje, tem 10 máquinas, que também aluga. Mas ela diz que o que gosta mesmo é de manter o contato com o público e vender o produto próprio. A quantidade das vendas varia conforme a temporada, mas em julho foram cerca de 12 mil algodões doce, 12 mil maçãs do amor e 12 mil sacos de pipoca vendidos.
— Eu sempre quis empreender, só que nunca tinha tido um começo para meter a cara. Aí o alicerce foi o meu marido. Uma das coisas que percebi quando eu comecei é que tudo o que tu fores fazer tu tens que amar e respeitar a cada ser humano. Aí, tu não tens briga perdida — ensina.
Setores cadastrados
Até esta segunda-feira (25), o Feito por Elas tinha disponibilização de serviços e produtos em oito áreas: gastronomia, artesanato, beleza, vestuário, educação, saúde e bem estar, publicidade e marketing e costura.
Como se cadastrar
- Entrar neste site;
- Preencher o formulário disponível na página com dados gerais do negócio;
- Depois disso, a Coordenadoria da Mulher coloca as informações no site;
- Quem não tem condições de preencher esse formulário pode ligar para (54) 3055-7418, para contar com o auxílio da prefeitura. Outra forma de contato é o WhatsApp (54) 99222-2207.