Dos 69.255 CNPJs ativos em Caxias do Sul até o final de 2021, 56% eram de Microempreendedores Individuais (MEIs). Isso significa 39.148 nessa categoria. Esses dados são da Receita Federal, compilados pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Emprego e Renda. Mas o Portal do Empreendedor mostra que o número cresceu e Caxias chegou a 41.267 MEIs em abril. Os dados das demais categorias não estão disponíveis.
O secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Renda de Caxias, Elvio Gianni, avalia que o crescimento dos MEIs está atrelado à característica empreendedora dos moradores da cidade. Aponta ainda que a pandemia fez com que a perda de empregos formais levasse a um aumento de microempreendedores individuais, até porque parte deles já exercia uma segunda atividade, mas informalmente. Gianni destaca ainda o trabalho da secretaria, voltado a esses empreendedores, com o objetivo de qualificá-los para o mercado:
— Na maioria das vezes, essas pessoas produzem ou comercializam. E fazem isso muito bem. Mas elas têm dificuldade de administrar o negócio. Muitas vezes, não foi algo muito programado e, sim, por necessidade.
O que acontece comumente é que muitos empreendedores deixam de formalizar os negócios por não compreenderem os processos para isso. Em um país onde a burocracia está na vida das pessoas, o receio pode afastar empresários de obterem benefícios do MEI, como os gerados pela contribuição previdenciária e isenção de taxas administrativas na hora de abri-lo ou fechá-lo.
— O empresário, quando opta pelo MEI, passa a ter uma rede de apoio. O próprio Sebrae, através dos nossos canais remotos de atendimento: WhatsApp, e-mail, chat no Portal do Sebrae RS, a central de relacionamento, de forma presencial nos espaços de negócios nas cidades que os têm. Em algumas cidades também existem as Salas do Empreendedor, que são espaços onde o empresário pode tirar todas as dúvidas sobre microempreendedor individual — pontua Lucas Starmac, assistente de canais remotos de atendimento do Sebrae/RS.
Formalização em busca de crescimento dos negócios
Davi Trein, 24 anos, trabalhava como metalúrgico em 2020, quando a pandemia começou e a empresa em que ele era empregado abriu a possibilidade de demissão voluntária. O jovem decidiu, então, dar sequência a um plano que já vinha maturando: aproveitar o conhecimento da mãe, costureira, para abrir uma confecção própria. Em maio daquele ano, saiu do emprego e começou o próprio negócio ao lado da esposa Natasha Ferreira, 23, e a mãe Maria Gorete da Rosa Reis, 56. Inicialmente, a empresa atuou informalmente. Mas, desde julho do ano passado, Davi se tornou MEI, com a intenção de expandir a Days and Days Confecções.
— O que me levou a abrir o MEI é que, para expandir, é preciso formalizar, fazer nota. Como eu comecei com um investimento baixo para uma confecção, para mim o melhor era abrir um MEI — explica.
Assim como ele, a mãe também é MEI. E a próxima etapa é abrir um para Natasha. Davi conta que, quando fez o procedimento, contou com o auxílio de um escritório de contabilidade. Mas, agora, ele e a esposa já sabem como fazer o processo por conta. É que eles estão frequentando um treinamento para MEIs da prefeitura de Caxias do Sul:
— A vontade de abrir o MEI já existia fazia tempo, só estava esperando para conhecer melhor. Nessa aula, obtive muito conhecimento e agora já vou abrir conhecendo mais. Uma coisa que eu achei interessante é que pode colocar até 15 atividades no MEI — conta Natasha.
A possibilidade de abrir um negócio de forma simplificada e sem pagamento de altas taxas foi um incentivo para que a família formalizasse os negócios.
— Como uma pessoa que tem vontade de empreender vai abrir um Simples (Nacional)? É bem mais complicado. Então, o MEI te dá a oportunidade de empreender. Eu acho o MEI uma oportunidade incrível para quem quer crescer.
Oportunidade para transição
A maneira fácil e ágil de ter um CNPJ é um dos principais fatores que impulsionam o MEI. Para Anderson Molon, 23, essa foi a oportunidade de começar o próprio negócio diante da percepção de que o mercado estava favorável. Com experiência de seis anos como empregado, ele decidiu no ano passado investir em uma empresa de impressão 3D e prototipagem, voltada a atender a indústria. Em abril, abriu o MEI e hoje está próximo de dar um passo a mais. A empresa vai entrar no regime do Simples Nacional, porque a tendência é superar o faturamento delimitado para o MEI.
— O MEI serviu para nós como uma prova de saber se ia ou não dar certo. Foi bem importante. A gente está trocando de CNPJ por conta do faturamento, que provavelmente já vai extrapolar daqui a algum tempo. Então, a gente já está correndo atrás disso também.
Para isso, a empresa Formatto 3D vai ficar totalmente localizada em Caxias do Sul. Até então, tinha a fábrica em Flores da Cunha e o escritório em Caxias do Sul.
— Agora que a gente está fazendo toda a transição, o Simples Nacional, tu precisas do alvará de localização. Esse é um dos motivos da mudança, para deixar tudo certinho. É muita burocracia para quem está começando a empresa, pensando em validar uma ideia. O MEI funcionou exatamente nesse ponto para mim. Foi uma primeira ideia, um primeiro esboço para ver se realmente ia dar certo.