A safra do pinhão deste ano apresenta cenários distintos nas cidades da Serra. Enquanto alguns munícipios, como Muitos Capões e Esmeralda, estimam aumento na produção em relação ao ano anterior, São Francisco de Paula, maior produtor do Estado, prevê quebra de 30% na safra, em comparação a 2021. As previsões são da Emater/RS, que faz o levantamento a partir dos dados repassados pelos municípios.
Conforme a pesquisa, as pinhas e os pinhões desta safra, em geral, apresentam boa qualidade e sanidade. Contudo, as sementes têm tamanho mediano, um pouco menores se comparadas as da produção do ano anterior. Já o preço recebido pelo produtor parte de R$ 3,50 ao quilo, na venda a intermediários (também chamados de atravessadores); R$ 5 na venda direta ao consumidor; R$ 5,80 na Ceasa Caxias do Sul, chegando até R$ 12 ao quilo em supermercados.
A engenheira florestal e extensionista do Escritório Regional de Caxias do Sul, Adelaide Kegler Ramos, explica que a forte estiagem do último verão não foi determinante para a safra deste ano. Segundo ela, a semente colhida agora é resultado das condições climáticas dos dois últimos anos e também da própria alternância da produção característica da espécie — a chamada safra cheia cíclica, que ocorre, geralmente a cada três ou quatro anos.
— Para o pinhão estar no ponto de maturação, leva em torno de dois anos e meio. Quando temos um problema climático lá no período de fecundação (que na safra deste ano foi na primavera de 2019, conforme Adelaide), vai acabar refletindo na produção. Isto também explica as variações de produção, que aumentaram em alguns municípios e diminuíram em outros. Porque a estiagem não acontece com a mesma intensidade em todos os municípios — aponta a engenheira florestal.
Da mesma forma, os altos volumes de chuva registrados na última semana também não são capazes de afetar a qualidade dos pinhões desta safra, mas podem dificultar ou mesmo tornar perigosa a colheita das sementes, conforme a extensionista da Emater:
— Toda nossa coleta da região é feita por extrativistas: ou eles coletam do solo ou por meio de taquaras, subindo em árvores... Então, quando chove, é mais arriscado. O cuidado tem que ser redobrado — aconselha a engenheira florestal.
São Francisco de Paula deve colher 80 toneladas da semente
A cidade que mais produz pinhão no Estado deve ter baixa de 30% na safra em comparação com o ano passado. A estimativa da Emater e também da Secretaria da Agricultura do município, é que São Francisco de Paula colha cerca de 80 toneladas da semente. Atualmente, há 160 famílias na atividade de coleta e extração no município.
— Ano passado foi bem positivo, passamos de 100 toneladas. Veio bem a calhar porque tinha muita gente desempregada em razão da pandemia. Mas cada ano é um ano diferente, o pinhão é assim mesmo — reconhece o secretário da Agricultura de São Francisco de Paula, Alexandre Bossle Camelo, detalhando que cerca de 80% da produção é comercializada na região metropolitana.
Conforme o secretário, o decréscimo na produção deste ano impacta na renda dos produtores, contudo, a venda da semente não é a única fonte de recursos financeiros das famílias:
— O pinhão é uma renda extra, um complemento. Mas claro que de um ano para o outro as famílias sentem a diferença — resume.
Saiba mais
:: Para se ter ideia da variação de volume de sementes nesta safra na região, enquanto São Francisco de Paula estima quebra de 30% na produção, Muitos Capões, nos Campos de Cima da Serra, tem previsão de colheita de 120 toneladas de pinhão, conforme a Emater — um aumento de cerca de 20% em relação ao ano passado. A cidade, inclusive, celebrou a 7ª Festa do Pinhão, no fim de abril, reunindo mais de 30 mil pessoas em quatro dias de evento.
:: Em Bom Jesus, também nos Campos de Cima da Serra, a previsão é de uma produção de 55 toneladas neste ano, segundo a prefeitura. Há 126 famílias envolvidas no extrativismo da semente no município.
:: A colheita e comercialização da semente são permitidas somente a partir do dia 15 de abril, diante de uma portaria do Ibama de 1976. O objetivo é garantir a preservação da planta, a alimentação da fauna e a perpetuação da espécie, por meio dos animais dispersores das sementes.
:: A portaria do Ibama que trata da extração e venda do pinhão ainda prevê que é proibido o abate (corte) dos pinheiros adultos entre abril, maio e junho.
:: A produção do pinhão se concentra, principalmente, entre abril e junho. Contudo, diante de variedades mais tardias, é possível encontrar a semente em agosto ou até setembro, segundo a Emater.