A economia de Caxias do Sul fechou o ano de 2021 com avanço de 5,5%.O dado positivo se deve à indústria, que avançou 19,8%. Já os outros dois setores tiveram quedas. O comércio encerrou o ano passado com redução de 8,7%, enquanto que serviços caíram ainda mais, 12,1%. Esse desempenho recupera parte do resultado negativo de 2020, quando a economia local caiu 8,3%.
Os dados foram divulgados na quinta-feira (10) a partir do relatório Desempenho da Economia de Caxias do Sul, elaborado pela Câmara da Indústria, Comércio e Serviços (CIC Caxias) e pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL Caxias). Durante a apresentação, os especialistas destacaram que, apesar dos resultados ainda negativos de comércio e serviços, esses dois setores vêm melhorando o desempenho ao longo dos últimos meses.
—A gente aqui tem que ressaltar que o resultado foi bastante puxado pela indústria e, talvez o que a gente esperasse, é que houvesse uma melhora mais significativa de comércio e serviços, mas o que diz respeito à indústria, parece que está refletindo bem a realidade do momento do setor. Apenas comércio e serviços que ainda não conseguiram sair do negativo. Se isso tivesse acontecido, provavelmente nós teríamos um desempenho maior. Mas pelo comportamento dos números a partir de agosto, eu estava imaginando algo em torno de 6%. Então ficou em 5,5%. Eu considero que foi satisfatório para todos os altos e baixos que tivemos ao longo do ano, todos os percalços ainda com vacina, com desequilíbrio de cadeias de suprimento — comenta a economista Maria Carolina Gullo, diretora de Planejamento, Economia e Estatística da CIC.
Também diretor de Planejamento, Economia e Estatística da CIC, Juarez Piccinini adicionou que o número é melhor que o nacional. Além disso, pontuou que, apesar da nova onda de covid-19 com a variante Ômicron, o fato de ela ter apresentado efeitos menos graves que os tipos iniciais da doença, deve impactar positivamente o comércio e os serviços:
— A gente espera que o comércio e os serviços retomem gradativamente, porque eles pressupõem a possibilidade da circulação das pessoas. A gente tem verificado isso gradativamente sendo retomado, embora essa onda agora restrinja um pouco, mas a gente espera que, com uma normalidade dentro de um contexto de pandemia que a gente ainda vive, esses setores comecem a apresentar alguma recuperação. Mas sempre lembrando que estamos em um ano de eleições majoritárias no Brasil, o que enseja uma série de incertezas. E as incertezas, naturalmente, significam uma postergação de decisões de investimento, de decisões de compra — comentou, ao salientar que a ligação de Caxias do Sul com o agronegócio traz boas perspectivas para o ano.
Expectativas frustradas no comércio
O economista Mosár Leandro Ness, que é assessor de Economia e Estatística da CDL Caxias, lembrou que no início do ano a expectativa era de que o comércio fechasse 2021 crescendo na ordem de 8%. Porém, a permanência dos impactos da pandemia, especialmente no primeiro trimestre, com o fechamento de lojas devido às altas taxas de contágio e risco de esgotamento dos hospitais, impediu que essa perspectiva otimista se realizasse.
— Nós tivemos vários percalços, principalmente a aceleração da pandemia entre os meses de março, abril e maio (de 2021). Quando se intensificou a vacinação, com o controle mais forte da pandemia, o comércio ganhou um novo fôlego. Notem que se observarmos o mês de março, nós tivemos um número negativo de 18,2%. Então, foi o auge. Tradicionalmente janeiro e fevereiro, já era esperado queda, mas em março essa retração que aconteceu foi em grande medida devido à aceleração da pandemia.
O economista diz que a perspectiva do setor neste ano é sair do vermelho e entrar em rota de crescimento.
— Precisamos que a indústria continue se expandindo, a renda dos trabalhadores continuem se expandindo e aí, seguramente, o comércio vai conseguir sair dessa situação.
Queda da indústria em dezembro
O mais recente documento também traz o levantamento de dezembro. No último mês de 2021, a indústria recuou 3,1% diante de novembro. Por outro lado, o comércio e os serviços avançaram 5,6% e 1,8%, respectivamente. Com isso, a economia caxiense fechou praticamente estável, com redução de 0,2%.
O diretor de Planejamento, Economia e Estatística da CIC Tarciano Melo Cardoso disse que o enxugamento da indústria nesse período está dentro do esperado, porque é um período de férias coletivas e redução de pedidos:
— Nada que a gente identifica uma tendência de redução e continuidade de queda nos próximos meses.
O vice-presidente de Indústria da CIC, Ruben Antonio Bisi, destacou que uma reunião da Associação de Aço trouxe, na quinta-feira (10), trouxe algumas projeções que podem indicar um cenário positivo para Caxias, já que há previsão de aumento do consumo do produto em relação a 2021. Bisi comentou que o ano começa com demanda por produção de máquinas agrícolas e que também são boas as expectativas em relação à compra de carretas de implementos.
Em relação às vendas de ônibus, um dos setores mais afetados desde o início da pandemia, ele afirmou que a expectativa é de aumento de 20% em 2022, garantindo crescimento de empregos na cidade. Além disso, apontou que o consumo de aço continua “bastante ativo” no setor de móveis e que há uma queda na construção civil. Neste último caso, no entanto, a boa notícia é que o preço do produto consumido por este setor caiu.
— É um ano desafiador o de 2022, em função de ser um ano político. Temos a questão da alta de juros, inflação e taxas de financiamento, mas a economia não está dando sinais de que está caindo. Tem vários setores que continuam em alta. Esperamos que Caxias do Sul, por ser um polo metalomecânico e de fornecedores para equipamentos para a agroindústria, possa continuar crescendo.
Inadimplência
O número de inadimplentes teve uma redução de -2,42% na comparação com novembro de 2021 e aumento de 0,78% em relação ao mesmo período do ano anterior. O estoque de dívidas em dezembro apresentou um movimento de queda. O índice teve uma taxa de -1,34% contra 0,07% do mês anterior. Em doze meses a queda é de -5,32%.
Mercado externo
Em 2021, Caxias do Sul exportou US$ 563 milhões e importou US$ 419 milhões. O saldo da balança comercial foi, portanto, positivo em US$ 144 milhões. O volume de exportações foi maior do que em 2020. O diretor de Planejamento, Economia e Estatística da CIC Tarciano Melo Cardoso explicou que isso era esperado, porque o primeiro ano da pandemia foi muito duro. No entanto, apontou que os valores seguem bem abaixo do início da década passada, quando chegaram a US$ 1.066, em 2011, por exemplo.
Saiba mais
No acumulado do ano, Caxias do Sul gerou 7.969 vagas de trabalho, conforme o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Isso gerou uma expansão de 5,5% no número de empregados formalmente na cidade. Ou seja, há uma coincidência: é o mesmo número de crescimento da economia do município no ano.