O setor moveleiro de Bento Gonçalves teve um bom desempenho no primeiro semestre deste ano. O faturamento, comparado ao mesmo período de 2020, cresceu 69%, totalizando R$ 1,48 bilhão. As empresas de Bento respondem por 29% do resultado do Estado – o total faturado no RS no primeiro semestre de 2021 foi de R$ 5,15 bilhões, crescimento nominal de 64% frente ao mesmo período de 2020. Os números são da Secretaria da Fazenda do Estado do Rio Grande do Sul.
— Algo que a gente tem que considerar é que se compara o primeiro semestre desse ano com o primeiro semestre do ano passado, sendo que essa nossa base de comparação não é tão forte assim, porque pegamos aqueles meses de pandemia. Se for pegar março e abril de 2020, tem empresa que chegou a faturar 20% do que estava acostumada — afirma Vinicius Benini, presidente do Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves (Sindmóveis), complementando que, na comparação com o primeiro semestre de 2019, o incremento foi de 65%.
Estamos bem otimistas para o segundo semestre.
VINICIUS BENINI
presidente Sindmóveis
Conforme Benini, o preço das matérias-primas teve acréscimo significativo durante a pandemia. A chapa, um dos insumos mais utilizados para a produção de móveis, subiu quase 40%. Por isso, o custo final do produto aumentou, impactando o consumidor final, que precisou adaptar sua residência em unção das necessidades impostas pelo teletrabalho e pelas aulas online. A procura aumentou tanto que as empresas estavam com carteira de pedido para três meses, algo que não é comum – o normal é de um mês.
— O setor moveleiro vinha desde 2016 numa pegada mais cautelosa. Com isso, as empresas deixaram de fazer grandes estoques de matéria-prima. Aconteceu que todo mundo estava com estoques baixos quando estourou a pandemia. Todas fecharam no início e as empresas que fornecem os insumos também fecharam. Nesse meio tempo, deu um boom no mercado. O consumidor querendo comprar, porém, as empresas não estavam conseguindo comprar matéria-prima. Isso acarretou em mais tempo para a entrega dos produtos — revela.
Agora, segundo ele, o mercado interno voltou ao equilíbrio. Nos últimos dois meses, inclusive, o setor sentiu uma leve queda, reflexo das pessoas voltando a uma “certa normalidade, saindo, começando a viajar”, exemplifica Benini. Mas as expectativas futuras são positivas, diz:
— Estamos bem otimistas para o segundo semestre porque geralmente o segundo semestre é mais atrativo, tem mais movimento, tem Black Friday, tem ações de final de ano. A gente espera que o mercado interno volte a ter uma aquecida. Acredito que não vão ser números como os do primeiro semestre, mas vão ser números bacanas — avalia Benini.
Mercado externo
Os 69% de crescimento do setor, representam uma média de faturamento entre mercado interno e externo. No primeiro, o aumento foi de aproximadamente 65%. Nas exportações, 81,4%. Ou seja, de janeiro a junho deste ano, as empresas do polo de Bento exportaram US$ 34,4 milhões frente a US$ 19 em 2020.
O principal destino dos móveis brasileiros, tanto dos produzidos em Bento Gonçalves, quanto no país, é Estados Unidos. A produção local é exportada principalmente para Chile, Uruguai, Peru e Reino Unido, conforme dados do Comex Stat, portal oficial de estatísticas de comércio exterior do Brasil, e apurados pela Inteligência Comercial do Sindmóveis.
Zero a Zero
Vendas não faltam, porém, a Opus Estofados não acompanha os números de faturamento divulgados pelo Sindmóveis. A empresa de Bento Gonçalves está no “zero a zero”, segundo a proprietária Cristiane Perin. O ano passado e o primeiro semestre de 2021 fecharam sem aumento de receita.
— Tem venda, mas o problema é a lucratividade. A matéria-prima aumentou e não consigo repassar para o lojista — conta a empresária, dizendo que a espuma subiu 130% e o tecido, 80%.
Há 15 anos no mercado, vendendo para o RS e São Paulo, ela diz que nunca passou por situação semelhante.
— Há boatos de que vai faltar matéria-prima, que vai aumentar... Não tem como se organizar, como se planejar — lamenta Cristiane.
Entre os pontos positivo, segundo ela, é que não há inadimplência, e foi possível manter a equipe, sem demitir ninguém, que atualmente tem 14 pessoas.
Crescimento também em Garibaldi
Embora não esteja localizada em Bento Gonçalves e não faça parte do levantamento do Sindmóveis, a Art in Móveis de Garibaldi, associada à entidade, é um bom exemplo de aumento no faturamento em 2020 na região: 34,5% nos primeiros seis meses, na comparação com o mesmo período do ano passado.
Se for levar em conta o primeiro semestre de 2019, o crescimento foi de 68,55%. Em todo o ano passado, o incremento foi de 52%.
— Tivemos muitos períodos em que ficamos totalmente ou parcialmente parados devido a falta de insumos, ocasionando adequações e atrasos nas entregas de pedidos. E ainda foi agravado pelos inúmeros e exagerados aumentos nas matérias-primas que tivemos neste período — destaca José Carlos Fin, proprietário da empresa.
Com os bons resultados, a expectativa é muito boa para o próximo ano, com mercado interno estabilizado e boas perspectivas com o mercado externo – 61,5% da produção da fábrica atende o país e 38,5% é para exportações.
— Estamos começando a construção de uma nova planta fabril com o dobro do tamanho da atual devido a nossa previsão de crescimento nos próximos anos (que será em frente à atual, no distrito industrial de Garibaldi). Investimento em novas linhas de produtos e processos produtivos mais automatizados estão sendo projetados — revela.