A economia de Caxias do Sul fechou com queda de 2,5% no índice que considera o acumulado dos primeiros seis meses do ano, em comparação ao mesmo período de 2020. O resultado, divulgado na tarde de terça-feira (10), pela Câmara da Indústria, Comércio e Serviços (CIC-Caxias) e pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-Caxias), sofre uma influência direta dos setores de serviços e comércio, que encerraram esse mesmo período com números no vermelho, enquanto que a indústria acumula crescimento de 8,4%, no ano.
Essa diferença entre o comportamento dos setores econômicos ocorre devido a uma série de variáveis. Na indústria, o reaquecimento, depois do primeiro impacto da pandemia, começou ainda no ano passado. Já serviços e comércio sofreram impactos, nesse primeiro semestre, ainda por causa de instabilidades relacionadas à pandemia.
Apesar desse cenário, o segundo trimestre do ano (abril, maio e junho) revela um reaquecimento da economia local. Principalmente, quando se confronta este período com os meses de janeiro, fevereiro e março deste ano. Para o diretor de Economia, Finanças e Estatística da CIC Caxias Tarciano Melo Cardoso, é preciso analisar o impacto da aplicação da vacina contra a covid-19 de um ponto de vista segmentado.
—Se não tivesse a vacina, os serviços, com certeza, estariam estagnados. O comércio, por consequência, também recebe os seus reflexos. Mas o comércio também tem muitas questões cíclicas ou sazonais como as mudança de clima — argumenta.
Cardoso destaca que, diferentemente desses dois setores com maior presença local, a indústria, por sua vez, tem penetração nacional e internacional e, portanto, não depende apenas das condições locais de imunização.
— A gente vinha com a indústria puxando bem desde o ano passado. Pode ter alguns ciclos em um mês com pedidos em carteira ou com pedidos um pouco mais baixos, mas não depende só de Caxias, então, talvez, a questão da vacina só em Caxias não tenha tanto efeito na indústria. Agora, no âmbito nacional e mundial, com certeza.
Sexto mês do ano fecha positivo
Apesar do resultado semestral das empresas ser negativo, o desempenho de junho alcança a marca de 5,4%, em comparação a maio deste ano. O destaque positivo foi o setor de serviços, que conseguiu expandir pela primeira vez em 2021, depois de cinco meses encolhendo.
A indústria, que tem sido citada como exemplo da recuperação, amargava dois meses de enxugamento, cenário influenciado principalmente pela falta de insumos. Em junho, apesar disso, o setor conseguiu avançar 2,7%.
O comércio se manteve firme na curva de expansão e conquistou o terceiro mês consecutivo de incremento, com 4,9% em relação a maio.
— As perspectivas para os próximos meses, a se manter a atual tendência, são que a gente consiga recuperar mês a mês tudo aquilo que havíamos perdido e, inclusive, concluir o ano com uma expansão — projetou o economista Mosár Leandro Ness, assessor de economia e estatística da CDL Caxias.
Desafios para o segundo semestre
Os especialistas também elencaram desafios para o segundo semestre, como a crise hídrica que pode afetar o fornecimento de energia elétrica no país, a alta na inflação e a continuidade de falta de matérias-primas. Maria Carolina Gullo, diretora de Economia e Estatística da CIC salientou que o aumento da taxa Selic pode também influenciar no orçamento das famílias, com taxas mais altas de cheque especial, rotativo do cartão de crédito e em financiamentos bancários.
— A gente poderia estar muito melhor, mas temos alguns percalços que não dependem de nós, que é esse desequilíbrio nas cadeias produtivas mundo afora e que faz faltar determinados produtos. Hoje, toda a cadeia do setor metalmecânico e automotivo está prejudicada, com fechamento inclusive de fábricas por falta de peças.
Geração de emprego
Os especialistas destacaram ainda o crescimento do mercado de trabalho como um componente de otimismo. Caxias gerou 5.845 vagas de empregos formais no primeiro semestre.
— Para além dos resultados de crescimento, que a gente entende que poderiam estar melhor, estarmos nos recuperando no mercado de trabalho é muito importante, para uma solidez maior na consolidação do crescimento econômico. É extremamente importante porque é dali que vem a renda para o consumo, a produção, etc. — defende Maria Carolina.
A economista afirma que o consumo é diretamente afetado pela instabilidade dos preços.
—E a questão do clima, que, às vezes, a gente releva, mas quando a gente começa a perceber o quanto isso impacta no dia a dia, na hora de ir no supermercado e vê o valor dos produtos, porque a safra foi prejudicada por excesso ou falta de chuva, que é o nosso caso nesse momento, combinado ainda com geadas, a gente começa a perceber que o poder aquisitivo vai baixando. Isso é ruim, porque, no médio e longo prazo, a massa salarial também cai. E aí a máquina que faz a economia funcionar, que é o consumo, fica prejudicada — detalhou.
Mais consultas ao crédito
Conforme a CDL, o crédito apresentou variação de 6,90% no volume de consultas em relação a maio de 2021. O salto foi maior, de 20,87%, na comparação com junho de 2020. O número de inadimplentes teve uma redução de 0,60% na comparação com maio de 2021 e recuou 2,59% em relação ao mesmo período do ano anterior.
O estoque de dívidas no mês de junho apresentou um movimento de alta de 1,98%, interrompendo uma tendência de queda no comportamento da série que se estendia desde dezembro do ano passado. Com isso, em 12 meses, há uma queda acumulada de 8,94%.
Balança comercial
Em junho, o saldo da balança comercial apresenta redução de 47,2% em relação a maio deste ano. O desempenho também é negativo em relação ao mesmo período do ano anterior com -58,9% e, no acumulado de 12 meses, -30,9%.