Caxias do Sul centraliza até a sexta-feira (16) as atenções a respeito do grafeno. A primeira feira voltada ao uso do material tem agenda lotada de um público interessado em conhecer a aplicabilidade do grafeno em projetos encabeçados por empresas de diversos setores com parceria da UCSGraphene.
Parceira da Universidade de Caxias do Sul (UCS) na atuação com o grafeno, a Zextecnano contabiliza mais de 50 contatos por dia de interessados na tecnologia. Conforme o proprietário da consultoria empresarial, Hugo Sousa, 80% dos contratos firmados até agora são com empresas de fora de Caxias, inclusive do Exterior.
— Hoje, temos mais de 130 parcerias feitas com empresas. Aqui na feira, temos 16 expositores com conexão com o mercado final — detalha Sousa, ao salientar o que ele chama de "alta capacidade de entrega" por causa da rapidez com que os projetos são desenvolvidos.
De fato, na feira existem iniciativas que começaram a ser pesquisadas há apenas um mês e já apresentam resultados. De uma maneira geral, os empresários pontuam que os testes são promissores, mas precisam ser ainda mais específicos porque vão encontrar um mercado competitivo. O coordenador da UCSGraphene, Diego Piazza, conta que os projetos em exposição são os que estão em estágios mais avançados:
— Todos eles estão com maturidade muito mais próxima de estar no mercado do que em início de pesquisa. Justamente por isso estão aqui na feira. Muitos deles com produtos no mercado, que eu acredito que nos próximos dias vão se tornar muito mais conhecidos da população, porque a gente vai poder encontrar esses produtos no dia a dia — acredita Piazza.
As variadas aplicabilidades do grafeno têm chamado a atenção, revela o professor. Tanto é que uma segunda edição da Feira Brasileira do Grafeno já está no horizonte, devido à receptividade e com uma visibilidade importante alcançada devido à abertura com o presidente Jair Bolsonaro.
— O que estamos escutando das pessoas é uma surpresa para com o grafeno, porque realmente não imaginavam e as possibilidades de aplicação do grafeno. Há muitos querendo desenvolver novas aplicações, novas soluções. Isso para nós é muito gratificante, porque mostra toda a capacidade, tecnologia e possibilidade de inovação que Caxias do Sul tem.
Conheça a seguir, casos de empresas que estão exibindo seus produtos e protótipos desenvolvidos com o uso do grafeno na 1ª Feira Brasileira do Grafeno. Grande parte ainda não fala do preço final das suas criações porque ainda depende de testes para comprovação dos diferenciais. Entre os mais avançados está a Taurus, que aguarda a homologação para a venda de armas e capacetes produzidos mesclando outras matérias primas com grafeno. Já a Vergraf, pretende colocar em breve no mercado um vergalhão feito com grafeno, fibra de vidro e resina.
Esperando pela homologação
A Taurus participa com dois estantes da feira, porque trabalha com o grafeno em duas linhas. Uma delas é no setor bélico, que corresponde a mais de 90% do negócio. A outra, é a Taurus Helmets, que faz capacetes. Em ambas, a projeção é levar ao mercado produtos com grafeno até o final deste ano. Isso ainda depende de aprovação de órgãos responsáveis. Conforme o CEO Global da Taurus, Salesio Nuhs, o uso do grafeno deve ajudar a reduzir o peso das armas e capacetes, aumentar a resistência à corrosão e favorecer a dissipação de calor:
— Não tem a operacionalização dos produtos com grafeno ainda, porque a homologação demora. Mas antes do final do ano, projetamos ter peças usando grafeno na rua — explica.
A Taurus estuda o uso de grafeno na injeção de polímeros e no chamado MIM (Metal Injection Molding), que produz peças metálicas a partir do pó de diversos metais. Outra frente atua para o chamado tratamento superficial, uma espécie de "tinta", que substituiria outros materiais mais usados.
Sustentabilidade e durabilidade dos veículos
Está em fase de testes em laboratório a aplicação de grafeno em combustíveis. Os primeiros foram feitos com diesel, mas Rodoil e Zextec também estudam o uso em gasolina. Ainda sem saber qual é o percentual de grafeno a ser usado e nem qual seria o impacto em termos de preço, os benefícios notados envolvem favorecimento à sustentabilidade ambiental e à durabilidade do carro.
— O grafeno tem uma facilidade melhor de queima. Isso auxilia na eliminação de 40% dos gases poluentes de CO e CO2. Isso também faz com que tenha uma redução do consumo de combustível. Então, como o grafeno vai estar adicionado na bomba de combustível, ele entra no tanque do carro, passa por toda a tubulação até chegar ao motor. Isso faz com que tenha uma lubrificação maior, com que as peças do interior do carro criem essa proteção, ele cria uma durabilidade maior ao carro e traz vida útil ao óleo — explicou Mayara Mossoi, que representa a Rodoil na feira, durante exposição a interessados no produto.
Potencializando a performance
A Pettenati, empresa com sede em Caxias do Sul, está desenvolvendo a aplicação do grafeno em tecidos. Nos testes realizados até agora, em tecidos para esportes ativos, como os disputados em equipe, atletismo ou academia, o que se deseja confirmar é que o grafeno ajude significativamente na dispersão do calor e que se leve a umidade causada pelo suor da parte interna da estrutura do tecido para a parte externa.
Por sua vez, nos esportes de montanhas, praticados em locais frios, os tecidos são desenvolvidos para garantir que não se forme suor, para evitar o congelamento dele e posterior esfriamento do corpo, e que o calor se mantenha dentro da roupa.
Pelos testes realizados até agora, o grafeno potencializa essas ações, além de ser ambientalmente sustentável, não interferir no toque das peças e conforto, favorecer a não proliferação de bactérias e melhorar a proteção de raios solares.
— O grafeno mantém as características de estrutura do tecido, mas potencializa a performance — resume o diretor presidente da empresa, Ricardo Pettenati.
No tipo ultramicro dry, em que uma camiseta foi levada para exposição na feira, é usado 0,5% de grafeno por quilo de tecido. A previsão da empresa é de realizar o lançamento de uma coleção de produtos ao mercado no ano que vem. No entanto, mais testes precisam ser feitos para que se possa explicar ao consumidor exatamente qual é o impacto do tecido. Por exemplo, quanto ele dispersa o calor e por quanto tempo o grafeno atua na peça. Por enquanto, o time de Caxias Basquete deve usar camisetas fabricadas com o produto para a temporada deste ano.
Solução para a indústria automobilística
A New Tech, que produz moldes para injeção de plásticos, principalmente para a indústria automobilística, está desenvolvendo soluções para aumentar a resistência mecânica, reduzir o peso e agilizar o ciclo de produção dos materiais. Até agora, já fizeram mais de 40 testes adicionando grafeno. Um dos projetos mais adiantados é a criação de duas peças para a tampa traseira de uma picape mesclando o uso de grafeno e plástico.
— Estamos buscando muito a parte de eficiência energética dos veículos, porque nós vamos ter veículos elétricos e isso reduz o consumo energético dele. Então, temos de diminuir o peso dos veículos e o grafeno, agregando nisso, vai trazer um benefício muito grande — explica o proprietário da empresa, Valderes de Bastiani.
De acordo com o empresário, se essa parte de todos os carros leves do país fosse substituída pela solução com grafeno, seria possível reduzir o uso de 3,5 mil toneladas de aço. Além disso, o processo produtivo seria acelerado, pois reduziu-se em um terço o tempo de elaboração da peça. No entanto, ainda não tem prazo para os produtos chegarem ao mercado, porque ainda estão em fase de testes.
Maior resistência e maleabilidade
A Lavita - Soluções Térmicas desenvolve, há cerca de um mês, caixas térmicas e potes com grafeno. Nas caixas, percebeu-se melhor desempenho da capacidade de manter o gelo, além de maior resistência e maleabilidade. Os potes para acondicionar alimentos também apresentaram o que é tecnicamente chamado de "memória maior", ou seja, melhor capacidade de voltar para a condição usual quando torcido.
— Eu tenho um pote sem o grafeno e ele quebra ao torcer da mesma forma. É bem mais sensível. O grafeno também acaba deixando o produto mais leve — explica a dona da empresa, Suelen Todin da Silva.
Além disso, ela explica que o produto é atóxico e permanece com a capacidade de ir ao micro-ondas e ao freezer. O que se percebeu também é que o grafeno deixa o produto um pouco mais escuro, então ainda não se sabe a aplicabilidade em coloridos. Isso ainda deve passar por testes, já que não há prazo para essa nova tecnologia chegar ao mercado. Também não se sabe ainda como ficará o preço desses produtos cuja composição tem 0,2% de grafeno.
Inovação para a construção civil
Em duas semanas, deve chegar ao mercado o vergalhão de grafeno. São barras usadas para produzir concreto armado, comum em fundações de prédios, calçadas, paredes, vigas e pilares. Normalmente, é feito com aço, mas a Vergraf, empresa de Caxias desenvolveu o que diz ser uma inovação mundial: o primeiro vergalhão de grafeno, que corresponde a 0,01% da composição por enquanto, porque novos testes podem alterar esse percentual. O restante é feito com fibra de vidro e resina.
— Em resumo, o produto é mais leve, duas vezes mais resistente que o aço, é mais barato 20% na aplicação e nós temos uma particularidade incrível que é você poder transportar ele desde uma bicicleta até um porta mala de carros. É uma condição super viável de logística operacional em um canteiro de obras — explica Manoel Matias Neto, sócio da Vergraf.
O preço, segundo ele, deve ficar semelhante aos vergalhões tradicionais, mas o empresário aponta vantagens, como redução de trabalhadores na obra e dispensa de estruturas, como uma grua, devido à leveza do produto.