Apenas três dos 10 maiores municípios da Serra Gaúcha ainda apresentam saldo negativo de vagas de emprego no acumulado do ano até outubro. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, o Caged, do Ministério da Economia, e compreendem as informações até o mês de outubro. As cidades com a maiores perdas, respectivamente, são: Caxias do Sul, Gramado e Canela. Caxias, o maior município da região, é o que desponta e em 2020 totaliza fechamento de 4.708 postos de trabalho. Serviços é o setor com a maior baixa no período: menos 2.095 vagas. Situação parecida é a de Gramado e Canela que, por dependerem majoritariamente do turismo, também tiveram nos serviços o setor de maior prejuízo. Em Canela, já são 573 postos de trabalho fechados desde o início do ano, sendo 458 no setor, e em Gramado foram perdidas 2.306 vagas de emprego, sendo 1.801 em serviços.
O déficit no mercado de trabalho, naturalmente, é resultado dos impactos da pandemia. Inclusive, se considerado apenas o período da pandemia, entre março e outubro, apenas três municípios ostentam saldo positivo na balança: Garibaldi, com 161 vagas geradas; Flores da Cunha, 42; e Carlos Barbosa, 510. Os sete demais ainda amargam números negativos, especialmente registrados entre abril e junho, meses com maiores restrições de atividades. Vacaria, por exemplo, que ostenta o maior saldo positivo no acumulado do ano, com 888 vagas abertas, se considerados apenas os meses da pandemia, tem saldo negativo de 5.796 vagas fechadas.
Já Bento Gonçalves e Farroupilha, segundo e terceiro maiores municípios da Serra, respectivamente, conseguiram reverter o saldo negativo do acumulado do ano em outubro. Bento, que até setembro totalizava fechamento de 346 vagas, passou a apresentar saldo de 124 postos de trabalho abertos até outubro. Farroupilha, que até setembro tinha 154 postos fechados no acumulado do ano, passou ao saldo positivo de 62 vagas geradas de janeiro a outubro.
— Pelo que a gente entende, é indicativo de recuperação, até porque o crescimento se deu em todos os setores. Em Bento, já estamos com número de vagas superior à dezembro de 2019, claro que pode haver mudanças, considerando a situação da pandemia, mas identificamos que a criação de empregos é indício da recuperação da economia, especialmente a indústria, que é a matriz econômica e o setor que está puxando os demais — avalia Fabiano Larentis, integrante do Observatório da Economia (OEcon) do Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG).
Vale ressaltar que nada impede que os municípios voltem a apresentar saldo negativo nos próximos meses, considerando as incertezas e a oscilação econômica gerada pela pandemia.
10,9 MIL POSTOS A MENOS
Em comparação ao mesmo período do ano passado, a queda foi acentuada. No ano sem pandemia, entre janeiro e outubro de 2019, os 10 maiores municípios da Serra acumulavam saldo positivo de 6.226 vagas geradas de emprego. Contra o fechamento de 4.681 vagas deste ano, a movimentação representa perda de 10.907 postos de trabalho no acumulado. É um índice negativo de 175% no saldo entre admissões e demissões.
"Esperamos que o pior tenha passado"
Desde o início da pandemia, anunciava-se que o setor de serviços era o primeiro impactado de maneira mais drástica e seria o último a deixar a condição de crise. O cenário vem se confirmando com o passar dos meses e o reflexo está nos números, especialmente de Gramado e Canela, cuja economia baseia-se quase que inteiramente no turismo.
Se a recuperação do segmento ainda parece distante, há de se comemorar ao menos a estabilidade encontrada no mercado de trabalho. Até quando ela persistirá, porém, ainda é uma incógnita.
— Recuperação é muito pouco, não é uma retomada ainda, está estabilizando. Mas agora com esse novo decreto de bandeira vermelha, não sei se a estabilidade continua ou se declina novamente — afirma Silvano Antônio da Silva (Narizinho), diretor do Sindicato dos trabalhadores no comércio hoteleiro e similares de Gramado.
A mesma preocupação abate sobre empresários do setor. O presidente do Sindicato da Hotelaria, Restaurantes, Bares, Parques, Museus e Similares da Região das Hortênsias (SindTur), Mauro Salles, critica a postura do governo do Estado no tratamento à questão da pandemia.
— Nosso setor tem voltado, na medida do possível, mas infelizmente temos visto nos últimos dias o governo dar prioridade à política, como nas eleições, deixou tudo rolar frouxo, tudo aberto, funcionando, aglomerações permitidas, e agora, exatamente após as eleições, resolve achar que a gente está numa contaminação alta e empurra pra gente o custo desse problema. Então estaremos com restrições grandes para poder superar o que o período da eleição causou.
Ele ressalta que, devido à oscilação do cenário e das restrições, é impreciso projetar o futuro:
— Esperamos que o pior tenha passado, a doença é imprevisível, e a gestão da coisa está muito mal, cada hora para um lado, sem rumo, sem critérios claros, isso torna o turismo muito imprevisível. Torna o empresário inseguro e o turista inseguro — lamenta Salles.
Já o diretor do sindicato laboral acredita que a expectativa de retomada só se consolide com o surgimento da vacina:
— Com certeza vai ser o último (segmento) a se recuperar. Até todo mundo poder viajar e isso influenciar na necessidade de contratação, vai demorar. Tudo depende da vacina — ressalta Silvano.