A safra da uva 2020 tem apresentado ótima qualidade, trazendo boa perspectiva para os vinhos que serão produzidos a partir da colheita deste ano. A avaliação é do presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), Deunir Argenta. Em entrevista ao programa Gaúcha Hoje da rádio Gaúcha Serra na manhã desta segunda-feira (24), ele explicou que a estiagem trouxe prejuízos no início da safra, impactando principalmente os agricultores que colhem as primeiras uvas, caso de áreas do município de Bento Gonçalves, por exemplo. Com isso, a quebra esperada é de 20% em relação à safra anterior. O tempo com bastante sol, por outro lado, contribuiu para a sanidade e a qualidade da colheita, com alto teor de açúcar nas uvas, o que contribuirá para a qualidade dos vinhos produzidos a partir desta safra.
— Deveremos ter um vinho da melhor qualidade dos últimos anos. Eu, particularmente, vejo dos últimos 30 anos. Se fala muito das safras de 2005 e 2018. Esta é uma que tem que guardar bem direitinho, porque é uma safra que vai fazer com que as vinícolas tenham vinho diferenciado — destacou Argenta.
Segundo Argenta, uvas da variedade bordô, por exemplo, estão com teor 17 de grau de açúcar, quando o normal seria 14 ou 15. Em relação à quebra, ele prevê que a indústria de modo geral não tenha problemas porque os estoques já estavam grandes e, agora, segundo ele, deverão ficar normalizados. A exceção são as uvas americanas, utilizadas na fabricação de sucos, que estavam com estoques menores.
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Preocupação com o Fundovitis
Embora a Uvibra represente as fabricantes de bebidas que têm a uva como matéria-prima, a entidade comporta em seu estatuto, desde o segundo semestre de 2019, um conselho que representa os demais segmentos da cadeia produtiva, contemplando as cooperativas e os produtores rurais. A finalidade desse conselho é a utilização de recursos do Fundo de Desenvolvimento da Vitivinicultura (Fundovitis), que não podem ser usados desde 2019 em função de apontamentos do TCE ao Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin). O Ibravin era, até então, encarregado da administração e uso desses recursos.
Só do ano de 2019, são R$ 13 milhões que não foram utilizados. Ainda ao fim do ano passado, havia uma perspectiva de investimento desse valor a partir da confirmação do governo do Estado, em novembro, de que o dinheiro não se perderia com o encerramento de 2019 e poderia começar a ser usado.
Ouça a entrevista na íntegra:
Embora estejam reservados, os R$ 13 milhões até agora não foram de fato empregados em investimentos, como assistência a produtores rurais e compra de novos equipamentos para o Laboratório de Referência em Enologia (Laren) do Estado. Argenta manifesta insatisfação do setor com relação a esse atraso, e comenta que uma reunião está marcada para o dia 9 de março para definir um encaminhamento da questão.
— A parte do governo, dentro da Secretaria (da Agricultura) está tendo uma demora além do que imaginávamos. A reunião (no dia 9 de março) será para apresentar a Uvibra como entidade para administrar os recursos, para que, se o Fundovitis concordar, isso ser oficializado no Diário Oficial. Saindo no Diário Oficial, uma nova reunião vai definir o plano de trabalho. Acreditamos que isso ocorra em meados de março — explica.
Esse encaminhamento vale apenas para os recursos de 2019. Os de 2020, outros R$ 14 milhões, deverão ter um encaminhamento posterior.
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Em relação ao Laren, Argenta afirma que a falta de técnicos desde o segundo semestre de 2019, quando houve uma demissão dos profissionais contratados junto ao Ibravin pela falta de recursos, já está trazendo prejuízo a indústrias.
— Já há contêineres para exportação de vinhos a alguns países que não estão sendo liberados porque é preciso um certificado que somente o Laren expede, que é uma análise que esses países exigem para a liberação desses produtos. Então há indústrias tendo prejuízos com isso. Já se exporta pouco, e no pouco que se exporta estamos tendo esta dificuldade. Esta sim é uma falha com a qual estamos muito chateados, porque o governo poderia ter achado alguma forma de reconduzir essas pessoas ao Laren — observa.
Para Argenta, não deveria ser dos recursos do Fundovitis o valor para pagar esses técnicos, mas o Estado deveria achar alguma outra solução.
No início de fevereiro, o secretário Estadual da Agricultura, Covatti Filho, havia informado que um edital para um chamamento público para administração dos recursos do Fundovitis, um tipo de licitação, estava em fase final de elaboração e deveria ser lançado "antes do Carnaval". Segundo o secretário, a Uvibra é a única entidade habilitada a gerir o recurso no Estado. Por isso, a expectativa que ele deu na oportunidade era de que, até o final de março, o termo de cooperação esteja assinado e, o recurso, disponível.