Em 2019, a Associação das Empresas de Pequeno Porte da Região Nordeste do RS, a Microempa, completou 35 anos de fundação. Foi criada em 1984, pelo então vereador Dino Périco, com o propósito de unir pequenas e microempresas comerciais, industriais e de prestação de serviços para lutar por interesses comuns de cada setor.
A Microempa surgiu em defesa das pequenas empresas numa pequena sala, no centro de Caxias e como um pequeno negócio próspero cresceu e hoje possui um prédio próprio, no bairro De Lazzer, que já se torna pequeno em razão da proporção que a entidade ganha em representatividade a cada ano e hoje já conta com 2,6 mil associados e aumentou de 12 para 17 núcleos setoriais.
Ao Pioneiro, a presidente da Microempa, Luiza Colombo Dutra falou que a meta é fechar 2020 com 3 mil empresas vinculadas à entidade, crescimento coerente com a atual realidade em que o empreendedorismo cresce mais a cada ano, seja por necessidade diante da instabilidade econômica ou desemprego ou menos por iniciativa espontânea.
Confira a entrevista:
A Microempa apresenta crescimento a cada ano, certamente um sintoma do próprio contexto econômico, mas creio que também diz respeito ao planejamento da entidade...
Esse é um trabalho de longo prazo, não foi só no ano passado, é de outras gestões que passamos a pensar na própria entidade. A Microempa já foi pequena, mas precisamos pensar em como podíamos manter a entidade sustentável financeiramente. Os ex-presidentes começaram a trabalhar nisso, passaram a formar parcerias fortes com operadores de planos de saúde e isso foi abrindo uma gama grande de parcerias, em telefonia em certificação digital. Na micro e pequena empresa tudo é muito medido e os mesmos conceitos aplicamos aqui também. Começamos com parcerias e muitas se tornaram convênios, que geram receita para a entidade. Se formos parar para pensar os 2,6 mil associados que temos é ainda pequeno se formos ver a gama de todas as micro e pequenas empresas que têm na nossa região, mas, ainda assim, são associados que consomem os nossos produtos.
E qual o motivo de esse número ser "pequeno" proporcionalmente? O que falta para conquistar novos associados?
É a necessidade de propagar o associativismo e a há também a falta de informação. A empresa muitas vezes não sabe que existe a Microempa, porque Microempa era muito conhecida pelo Barato de Natal (campanha comercial já extinta), mas nem todos sabem que mudamos o nosso posicionamento, investimos numa área comercial bem atuante, que divulga os eventos e todos os benefícios que nós temos e foi aí que começamos a pulverizar, mas temos muito a crescer, até porque Microempa não é só Caxias do Sul, é Nordeste Gaúcho.
Então a ideia de crescer com cautela que pregam para o associado é aplicada na própria Microempa.
Pois é, a Microempa começou numa garagem e foi crescendo, ocupou uma salinha na CIC, depois pessoal viu que tinha muita coisa para fazer, então nos mudamos para uma sede própria e agora cogitamos ampliar.
Para quando é pensada essa ampliação?
Vamos começar a conversar, avaliar o que é melhor para a entidade. Já temos um terreno, então temos que pensar lá na frente. Já sentimos a necessidade hoje. O que alavancou a Microempa foi a vinda de núcleos setoriais para a entidade. Nós tínhamos quatro grupos, quando fizemos parcerias começamos a trabalhar metodologia que é o foco dos nossos núcleos foi que começamos a expandir e hoje temos 17 grupos setoriais. O associativismo é um trabalho de formiguinha, quem vem para os núcleos acaba se identificando e as pessoas percebem que crescem juntas. Às vezes a dificuldade de um o outro tem a solução e o empresário não se sente sozinho, porque às vezes o caminho da microempresa é sozinho. A Microempa como tem uma vida financeira sustentável, nós ajudamos os grupos e esse recurso volta para nós. Esses grupos não conseguiriam se projetar sozinhos sem a ajuda da Microempa. Esse trabalho é muito forte e as reuniões são frequentes, tanto que todos os grupos organizam o seus próprios eventos e projetos e já começam o ano com calendário definido.
Apesar de ser algo conceitualmente positivo, o empreendedorismo responde um cenário econômico. Essa é uma leitura a se fazer também sobre o crescimento da entidade?
Quando começou a crise mais forte o pessoal que ficou desempregado decidiu empreender. Mas é aquele empreender por necessidade. Muitos chegam aqui e dizem 'ah, eu quero abrir uma empresa' e precisam de todas as orientações, porque daqui a pouco abre a empresa e acaba perdendo tudo que ganhou da rescisão e eventualmente se torna um desempregado sem dinheiro. A gente trabalha muito forte essa assessoria, principalmente para o MEIs.
Como orientar esse empreendedor que está desesperado e fazer ele entender que o ideal não é empreender por empreender?
O pessoal presta orientação, mas temos uma formatação nova em que queremos criar um centro de desenvolvimento empresarial, que vai dar esse suporte a MEI, com projetos. Acontece que ele sabe fazer bem o produto dele, mas não tem gestão e hoje em dia a empresa, por menor que seja, precisa ter noções de gestão. Os nossos grupos trazem muitas palestras gratuitas, muitos cursos gratuitos, os grupos mesmo se ajudam entre eles. A própria mentalidade a gente tenta mudar. O pessoal diz que tem pequena empresa ou que é um empreendedor, aí eu pergunto para eles 'você tem CNPJ?', a pessoa diz que sim, eu digo ''então você é um empresário, tem de se ver como empresário, não interessa o tamanho de sua empresa'. E hoje a gente vê que grande parte das indústrias, a grande maioria é micro e pequena empresa.
Tem-se muito essa visão romantizada da vocação pelo empreendedorismo. É algo que todos de fato podem exercer?
Muitas pessoas chegam aqui, pessoal dá orientação e eles percebem que não nasceram para isso. É até bom que você evita que essa pessoa venha a fechar eventualmente. O Brasil é um dos países mais empreendedores, em que mais se abre empresas, em compensação é um dos países que mais fecha. A preocupação é essa, que as empresas nasçam e consigam se manter no mercado. Quando são pequenas, grande parte é familiar, eventualmente isso pode gerar frustração ainda maior. Por isso, tentamos ao máximo auxiliar essas pessoas para que entendam toda a complexidade que envolve um negócio.
Leia também
Com baixa de Argentina como parceiro comercial, setores econômicos da Serra prospectam novo modelo no mercado externo
Eleita a maior exportadora de vinhos do Brasil, empresa de Flores da Cunha cresceu 200% no mercado externo nos últimos anos
Mesmo com baixa, Argentina é ainda importante parceiro para uma das principais exportadoras de Caxias