O encerramento das atividades da Metalcorte Fundição representou o fim das tentativas do empresário Osvaldo Voges em restabelecer economicamente a empresa — última em funcionamento do Grupo Voges. Além do passivo estimado em R$ 1 bilhão, outra pendência surgiu junto ao decreto de falência: os 110 trabalhadores não receberam o salário do mês de julho trabalhado. Muitas dessas passam por dificuldades financeiras atualmente.
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Funcionários da Metalcorte Fundição não receberam pelo último mês de trabalho antes da falência
Quando aceitou trabalhar como torneiro na Metalcorte Fundição, Evaldoir da Rosa Farias, 38 anos, estava ciente do pagamento parcelado dos salários.
— Quem me chamou disse que eles (Metalcorte) pagavam parcelado, mas pagavam certinho. Aceitei porque, apesar de parcelado, eles pagavam bem. Enquanto teve empresa que me ofereceu R$ 1,3 mil, eles me pagavam entre R$ 2,4 mil e R$ 2,6 mil. O problema foi sair com uma mão na frente e outra atrás — lamenta.
Ele relata que não tem esperanças de receber valor rescisório por entender as dificuldades burocráticas dos processos de falência, porém, contesta o não pagamento do mês trabalhado
— Ele (Osvaldo Voges) com certeza está bem, mas tem amigos meus que estão chorando. Eu ainda tenho condições, mas tem gente que não tem a mesma sorte.
Farias mora com a mulher e o filho de sete anos no bairro Victorio Trez. A esposa trabalha como vendedora, o que ameniza a situação da família. Ainda assim, afirma que passou a fazer bico como motorista para conseguir pagar contas em atraso.
— Vou encaminhar seguro e estou pensando em ir embora de Caxias e voltar para Lajeado, onde tenho casa. Se é para trabalhar para comer, eu volto para minha casa.
Morador de Caxias há 18 anos, ele afirma que a cidade deixou de ser a referência que já foi um dia:
— Dizem que Caxias é cidade de oportunidade, mas, na verdade, é só ilusão. Já se foi a época de ganhar dinheiro aqui. Hoje em dia o empresário oferece R$ 1,3 mil e se você não quiser tem outros 500 que querem.
"Posso te dizer o que tem na geladeira"
Desde que as atividades da Metalcorte foram encerradas, Everton Silva Vinholla, 29 anos, e sua família atravessam dias difíceis. Morando de aluguel, ele, sua esposa Gizele e o pequeno Lorenzo, de 5 meses, temem os próximos dias:
— Moramos de aluguel, dia 25 é a data limite que o locatário nos deu para deixar a casa. Tenho duas pensões atrasadas (dois filhos do relacionamento anterior), meu filho precisa de fraldas e leite especial. Posso te dizer o que tem na geladeira, porque ela está quase vazia — relata Vinholla.
Prestes a ficar desabrigado, com todas as contas atrasadas, ele tenta fazer "bico" como pedreiro para, pelo menos, comprar o leite do filho.
— Quinta-feira (22) consegui um vale de R$ 50 e gastei 46 para o leite da criança. Está bem crítica a situação — lamenta.
Como operador de máquina, Everton recebia cerca de R$ 1,4 mil na Metalcorte. O valor o deixava apertado financeiramente, mas eram suficientes para a sobrevivência básica.
— Era pouco, mas conseguia amenizar. Se eu tivesse recebido o salário do mês, não estaria neste aperto. Agora estou procurando o que surgir, fazendo bico para comprar o básico. A água vai ser cortada a qualquer momento, mas o que me preocupa é que depois do dia 25 estou na rua.
Everton se diz especialmente revoltado pela falta de sensibilidade da empresa com os funcionários afetados pela falência:
— Eu não defendo empresário nenhum, se tiver que defender alguém, vou defender a mim ou a minha família, mas trabalhei das 22h às 7h para poder tirar salário do mês, ganhar o pão e o leite para fazer isso aí. Não tinha EPI, passagem às vezes tirava do bolso. Uma vez encontrei uma ruela dentro da vianda que serviam. Esperava o mínimo de consideração, que pelo menos pagassem o mês que trabalhamos.
Além de Everton, cerca de 70 famílias estariam passando por dificuldades após o desligamento.
COMO AJUDAR
Cestas básicas e fraldas são itens solicitados para ajudar as famílias necessitadas. Também são aceitos leite especial (Nestogeno, número 2). Empresas associadas ao Simecs também arrecadam donativos. Confira abaixo outros dois pontos de coleta:
Antiga sede da Metalcorte Fundição / antiga Maesa
Endereço: Rua Dom José Baréa, 1501, Exposição, Caxias do Sul
Telefones: 3026-3100 / 3026-3168 / 3026-211
Entregar na recepção (qualquer horário)
Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Caxias do Sul e Região
Endereço: Rua Bento Gonçalves, 1513, Centro, Caxias do Sul - RS, 95020-412
Horário: De segunda à sexta-feira das 07h30min às 18h30min
Telefone: 4009-8300
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