Uma semana após o temporal que atingiu a região, Elias Zambon ainda olha incrédulo para a plantação de caqui na Linha Palmeira, interior de Farroupilha. O granizo do sábado, dia 13, não poupou nenhuma fruta. As pedras de gelo pegaram a safra em cheio. O agricultor perdeu toda a produção dos 10 hectares, estimada em 250 toneladas — o equivalente a 10 carretas de 25 toneladas. Com o quilo do caqui pago ao produtor na casa dos R$ 2, a estimativa é que ele tenha perdido cerca de R$ 500 mil.
A fruta estava graúda e bonita, com excelente qualidade, própria para exportação, segundo Zambon. A colheita do caqui kioto (chocolate preto) começaria na segunda-feira seguinte. Em seguida, seria o da variedade fuyu (chocolate branco). Os diaristas já estavam até contratados para o trabalho. Com o fenômeno, acabaram dispensados.
— Belo presente de aniversário — comenta Zambon, que completou 53 anos no dia 15, dois dias após o temporal.
Ele vai deixar os caquis, que parecem ter levado tiros, apodrecer no pé. Retirá-los das árvores traria um prejuízo ainda maior, já que gastaria entre R$ 15 mil e R$ 20 mil no processo. O produtor chegou a colher 4 toneladas antes do temporal, mas a quantidade é insignificante (menos de 2%) diante da safra perdida.
— Estou arrasado. Investi R$ 150 mil. Perdi não só essa safra, mas o lucro da safra passada — lamenta, com a voz embargada.
Sem seguro, Zambon terá de recorrer às economias dos últimos anos para a produção de 2019. As últimas safras proporcionaram ao agricultor fazer uma poupança específica para situações de emergência como essa. Embora tenha reservas, reclama da falta de ajuda do governo federal.
— É duro — resume.
Felizmente, os galhos dos pés de caquis não tiveram danos e poderão dar frutas novamente no ano que vem. Mas Zambon teme que a qualidade não seja tão boa como a deste ano. Além do caqui, carro-chefe da propriedade, ele tem quatro hectares de uva e um de ameixa.
Perdas em anos anteriores
Não é a primeira vez que a propriedade é destruída por eventos climáticos. Em 1992, uma chuva de granizo, pior que a de sábado, na opinião de Zambon, acabou com a plantação de caqui. No entanto, ela não era o principal cultivo na época. Há quatro anos, foi a geada que atingiu os caquis e os parreirais.
Zambon plantou os primeiros pés de caqui em 1983. Foram 400 plantas. Na década de 1990, ele ampliou a produção e hoje o caqui domina as terras da família. A maioria é da variedade fuyu, equivalente a cerca de 60%. O restante é o kioto.
Vai longe
Elias Zambon fornece caqui para terceiros, que vendem para São Paulo, Paraná e Mato Grosso, além da rede Zaffari no RS. Em 2018, ele colheu 183 toneladas. Em 2017, 272 toneladas.
Prejuízo de mais de R$ 3,2 milhões
Conforme a Emater, as perdas nas lavouras de caqui causaram prejuízo de R$ 3,22 milhões. A área atingida foi de 225 hectares, com a perda de 2,1 mil toneladas. Isso representa quase um quarto da produção que ainda resta colher, próximo de 10 mil toneladas. Cerca de 30% do total, das 14 mil toneladas de caqui previstas para esta safra na Serra, foram colhidos até agora. O prejuízo total com o granizo chegou a R$ 6,6 milhões na agricultura.
O levantamento foi feito em propriedades de Caxias do Sul, Garibaldi, Bento Gonçalves e Farroupilha.