Clarice Lispector, a voz de tantas águas profundas dentro e fora da literatura, escreveu: "como começar pelo início se as coisas acontecem antes de acontecer?". A frase cunhada para o romance A hora da estrela reverbera (ou seria, deságua?) no ensaio poético A longa chuva, obra mais recente da jornalista, psicanalista e escritora caxiense Adriana Antunes.
O livro será lançado neste sábado (14), às 18h, no Zarabatana Café, seguido de bate-papo (leia mais abaixo).
O título da obra é uma referência — e uma espécie de homenagem — ao escritor e roteirista norte-americano, Ray Bradbury, autor de O homem ilustrado, sendo que um dos contos se chama, justamente, A longa chuva.
E por que Clarice deságua em Adri Antunes? Porque a escritora caxiense, submersa nas águas de maio — fechando o mais soturno outono da nossa história — atravessa as mais de 100 páginas de A longa chuva, empilhando perguntas, questionando o nosso paradeiro, colocando em cheque o frágil fio de esperança.
"Esperança?", questiona Adri, que prossegue: "há uma coisa viva, sem nome, que se inicia como um córrego inocente em meio ao nada". Esse "em meio ao nada", mais do que paisagem, nos revela Adri, é a condição de sermos e estarmos nesse (des)mundo. "Como era mesmo antes? O que havia aqui antes das chuvas acontecerem?".
Poética, agarrada à força descomunal do curso das águas, a autora sublima tempo e espaço: "maio nunca teve tantos dias dentro de um único mês. Um maio maior. Perdemos a noção de que dia é. Perdemos tudo."
O texto comporta o espanto, a estranheza e as dores, cita os corpos soterrados e descreve as memórias dilaceradas. "Nos deparamos com a água em estado de fúria. Escrevo e lembro. Lembro e desejo esquecer. Escrevo para suportar o vazio de meu corpo", deságua Adri. "Não sei da emoção das águas, mas acabamos de conhecer a sua fúria".
A leitura do livro é mais do que fruição, é imersão no mais longevo mês de maio da história do Rio Grande do Sul. E como preconiza Adri, "é preciso cuidado, amanhã pode não ser um outro dia. Pode ser outra vez maio". Afinal de contas, "o rio do tempo arrastou tudo".
Programe-se
- O quê: sessão de autógrafos do livro A longa chuva (Editora Libertinagem), de Adriana Antunes. Logo após, vai rolar bate-papo com os escritores Ana Júlia Poletto e Marcelo Mugnol.
- Quando: sábado (14), a partir das 18h.
- Onde: Zarabatana Café (Centro de Cultura Ordovás - Rua Luiz Antunes, 312 - Caxias).
- Quanto: o livro estará à venda no local a R$ 50.