A Capela A do Memorial São José, em Caxias do Sul, já havia recebido quase 30 coroas de flores em homenagem ao escritor José Clemente Pozenato, cujo corpo é velado no local nesta terça-feira. O autor de "O Quatrilho" (1985) faleceu na noite de segunda-feira, aos 86 anos, no Hospital da Unimed, devido a complicações de um procedimento cardíaco.
Até o fim da manhã, a despedida reuniu praticamente familiares do escritor, nascido em São Francisco de Paula, além de amigos da família e do meio literário, como os escritores Dinarte Albuquerque Filho, Marcos Fernando Kirst e Marília Frosi Galvão. Também compareceram nas primeiras horas os ex-secretários de Cultura Antônio Feldmann, também ex-vice prefeito, e João Tonus, também presidente da Associação Cultural Miseri Coloni.
- No início dos anos 1990, quando montamos um espetáculo teatral baseado em O Quatrilho, nossa relação se estreitou muito e Pozenato passou a nos acompanhar sempre, como um interlocutor cultural do Miseri Coloni. Foi sempre uma fonte de consulta, orientador de espetáculos, sempre disponível. Como professor, poeta e escritor, ele deixa o legado de ter escrito a grande obra da imigração italiana. O Quatrilho é um livro que mostra as relações, os valores, as formas de agir daquelas comunidades iniciais que fizeram o desenvolvimento da região - destaca Tonus.
A atual secretária municipal de Cultura, Cristina Nora Calcagnotto, também prestou suas condolências à viúva, Kenia Pozenato. O casal completaria 50 anos de união em dezembro deste ano. A secretaria ressalta o quanto Pozenato deixa de ensinamentos para todos que puderam desfrutar da sua convivência e beber da sua sabedoria.
- Pozenato vai deixar saudade do seu corpo presente e dos seus ensinamentos, mas ao mesmo terá lembrado com muita frequência por todos que estudam e trabalham na área da cultura. Pessoalmente, tive a alegria de tê-lo como professor, o que fez com que a gente se aproximasse ainda mais. Ele e a professora Cleodes (Piazza), sabendo que eu era bailarina, sempre me diziam para trazer mais dança e movimento para os Desfiles da Festa da Uva, o que pra mim era uma ordem. Já fiz sete Festas, e nunca deixei de consultá-los. Pozenato também falava muito sobre processos culturais, sobre a importância da arte e da cultura para o povo de um lugar saber quem ele é.
Entre as entidades que prestaram suas homenagens através do envio de coroas de flores estão a UCS, Sinpro Caxias e Amigos da Justiça Federal de Caxias do Sul, Associação Miseri Coloni, além do restaurante A Cocanha (2000), cujo nome faz referência a uma das obras literárias mais conhecidas de Pozenato.
Além da esposa, José Clemente Pozenato deixa ainda três filhas, Maria Helena, Heloísa e Ana, e três netos. A prefeita em exercício de Caxias do Sul, Paula Ioris, decretou luto oficial de três dias, em homenagem ao escritor.
Ligação com a universidade
Desde o início como docente em 1973, ministrando aulas de Ética para o curso de Filosofia, até a atuação mais recente como membro do conselho editorial da EDUCS, José Clemente Pozenato sempre esteve de alguma maneira ligado à Universidade de Caxias do Sul. Nesta terça-feira, o reitor, Gelson Leonardo Rech, lamentou a morte do escritor e professor:
- O professor Pozenato, para a nossa Instituição, é uma grande referência como docente, como pesquisador e como gestor. Na docência, formou gerações com sua sabedoria, inteligência, sagacidade, profundidade e equilíbrio. Como pesquisador, deixou um legado de reflexões e de pesquisas regionais da cultura material e imaterial, especialmente da região, com levantamentos, obras reflexivas, pesquisa de campo junto às diversas equipes que construiu, com seus escritos e sua literatura. Como gestor universitário, deixa marcas também na estruturação institucional da própria pesquisa na UCS. Pozenato foi ainda o grande mentor do projeto da regionalização da UCS, que permitiu que ela avançasse para outros municípios e cumprisse sua missão de desenvolvimento regional.
Marido e pai devotado
Ainda tomadas pela emoção da perda e tocadas pelo carinho recebido, a esposa de Pozenato, Kenia, e uma das filhas, Maria Heloísa, falaram um pouco sobre como era José Clemente fora da vida literária e acadêmica.
- Ele foi realmente muito importante para Caxias, mas mais importante ainda para mim e para nossas filhas. A melhor coisa que me aconteceu foi ter casado e poder viver com um marido e pai maravilhoso. Ele colocou Caxias do Sul, o Rio Grande do Sul e o Brasil no mundo com O Quatrilho e com o restante da sua obra - diz a esposa.
- Foi um pai de bondade, de cuidado, de muito carinho, um pai-mãe, que vai fazer muita falta - complementa a filha.