No ano em que debuta em pleno frescor de seus 15 anos, nada mais justo que o Mississippi Delta Blues Festival estar no local que já promoveu tantos bailes históricos, mas que em seu momento de revitalização abre espaço para uma manifestação cultural que, mesmo tendo os EUA como berço, também já é um pouco caxiense graças ao sonho que nasceu na Estação Férrea, passou pela Festa da Uva, e pela primeira vez, a partir da próxima quinta-feira (21), chega ao coração de Caxias do Sul.
Até sábado, o Clube Juvenil e a Rua Marquês do Herval serão palco do maior festival de blues da América Latina, que neste ano terá sua lotação reduzida — limitada a mil pagantes —, mas sem deixar de trazer uma programação robusta: serão oito palcos, incluindo shows e intervenções, e mais de 50 atrações, incluindo artistas internacionais que estreiam por aqui, como o guitarrista de Chicago Tom Holland, e que retornam ao festival, como o também guitarrista Super Chikan, de Clarksdale, no Mississippi. Entre os shows nacionais, destaque para a cantora carioca Taryn e para o guitarrista argentino Victor Biglione, que irão interpretar, junto com o baixista Dudu Lima, o repertório do álbum "Cássia Eller & Victor Biglione in Blues", gravado no início dos anos 1990, antes de Cássia virar um fenômeno popular, mas só lançado postumamente, em 2022.
Além de ajudar a promover o bar de blues inaugurado em setembro na sede do Juvenil, o Memphis Juke Joint, a mudança de local atende a um convite feito pela prefeitura durante as conversas sobre esta edição, no sentido de contribuir para a revitalização do centro histórico de Caxias, oferecendo, através da música, mais vida para a área central.
— A vinda do festival para o centro vem muito de encontro ao entusiasmo que a prefeitura tem com a ocupação do ambiente urbano e dos prédios históricos, tanto público quanto privados, celebrando a cultura. Em lugar onde tem circulação de pessoas a sensação de segurança é maior, o lugar fica mais bonito, aumenta o bem estar, gera mais encontros e convívio, e nada melhor do que a música para fazer tudo isso. Ao mesmo tempo, é de grande valia o MDBF estar dentro da programação do nosso Mês da Consciência Negra, que há três anos nós temos feito junto da iniciativa privada, promovendo conscientização sobre a luta antirracista — destaca a secretária municipal de Cultura, Cristina Nora Calcagnotto.
O idealizador do festival e sócio do Memphis Juke Joint, Toyo Bagoso, considera que a mudança pode marcar uma nova era para o MDBF mais próximo da comunidade caxiense, em que a ocupação da Rua Marquês do Herval seja só o começo:
— Quando o festival nasceu foi em uma área histórica da cidade, que é a Estação Férrea. Também quando o Mississippi (o bar) abriu no Rio de Janeiro foi na histórica região portuária, que ainda está em processo de revitalização. É muito bacana poder agora fazer parte dos esforços da prefeitura em revitalizar o centro de Caxias do Sul com o festival. A gente acredita que para os próximos anos será possível expandir a programação para outros locais do centro, ter alguns shows na calçada… é da tradição dos festivais de blues norte-americanos ter atrações espalhadas pela cidade, e a gente ainda quer trazer isso aqui para Caxias.
Falando em EUA, a edição deste ano traz a temática de Cleveland, uma homenagem à pequena cidade do estado do Mississippi, que é considerada o berço do blues. Isso porque é lá que está a Dockery Farm, propriedade rural onde viviam e trabalhavam alguns dos primeiros cantores e tocadores de blues na virada do século 20, e onde o estilo foi moldado pela transmissão de ensinamentos entre gerações de trabalhadores das plantações de algodão. Também em Cleveland fica a Delta State University, universidade parceira do MDBF e de outras iniciativas de preservação do blues pelo mundo, através de um programa dedicado a valorizar a herança cultural daquela região.
Como já virou tradição, a homenagem irá se dar principalmente pela identidade visual do evento, pelos produtos que estarão à venda na loja (gift shop) e pelos nomes de cada palco, que representam algum traço cultural ligado a Cleveland e arredores, como o Harlem Inn, nome de uma antiga casa de shows frequentada pela comunidade negra no período da segregação racial no Sul dos EUA, e o Po' Monkey Lounge, icônico bar que irá emprestar seu nome à casinha do blues.
INGRESSOS
As entradas para o 15º MDBF estão à venda pela plataforma Uniticket, com valor integral de R$ 230 (quinta), R$ 340 (sexta) e R$ 440 (sábado). O direito à meia entrada vale para estudantes, idosos, pessoas com deficiência, professores da rede pública, moradores e/ou naturais de Caxias do Sul ou da cidade do Rio de Janeiro e doadores de sangue. Também é possível adquirir o ingresso solidário (40% de desconto), mediante a doação de 2 quilos de alimento não-perecível.
Vale lembrar que dois palcos são gratuitos, na Praça Dante Alighieri. O acesso à área paga será com pulseira dada na entrada do evento, que permitirá ao portador sair e entrar quando quiser.
TRÂNSITO
Entre os dias 19 e 24 de novembro, dois trechos da Rua Marquês do Herval permanecem bloqueados durante todo o período do festival: da Rua Sinimbu até a Avenida Júlio de Castilhos e da Júlio até a Rua Pinheiro Machado. (Ou seja, a Júlio fica liberada nos dois sentidos na altura da Marquês). Nos dias 21, 22 e 23 de novembro, a partir das 18h, a Avenida Júlio de Castilhos será bloqueada no trecho entre as ruas Dr. Montaury e Borges de Medeiros.
Oito palcos, 50 atrações e algumas novidades
Até quem já foi em apenas uma das quase 50 noites de MDBF ao longo dos últimos 15 anos sabe que o festival proporciona uma experiência que vai muito além da música. E em seu primeiro ano no centro de Caxias do Sul não seria diferente. Entre as novidades que o público poderá conferir neste ano estão um bar suspenso que ficará instalado junto à Praça Dante Alighieri, que poderá chegar a 40 metros de altura, permitindo degustar drinks e assistir aos shows de uma perspectiva única.
Outra novidade é a inclusão de dois palcos gratuitos, também na praça, que permitirão aproximar ainda mais o evento da comunidade. Um deles será a tradicional casinha, que ficava originalmente na Estação Férrea. Também gratuito e aberto ao público serão os bate-papos e workshows marcados para o saguão do Hotel Swann, ao longo dos três dias do festival. E, no Dia da Consciência Negra (quarta-feira, 20 de novembro), o Memphis Juke Joint será palco para um show da cantora Etiene Nadine e sua banda All-Stars.
Também há novidades na praça de alimentação, que neste ano terá como opções de lanche a Shelter Pizzaria, Bodega Del Toro e Sara Culinária Árabe, além da cozinha do Memphis, com a culinária típica do Sul dos Estados Unidos. Participam ainda as cervejarias artesanais Don Uller, Lands e Blauth Bier.
A seguir, confira a programação completa do evento:
DOCKERY FARM STAGE (Palco principal)
Três shows por noite + Crossroads time (intervenção de 5 minutos)
Quinta-feira (21/11)
20h: Fabio Magic Boy (POA-RJ)
21h45min: César Lascano Plays the Samba (Pelotas)
23h30min: Crossroads time: Renato Piau (PI) & Beto Saroldi (RJ)
23h45min: "Homenagem a Cassoa Eller in Blues", com Victor Biglione (RJ-ARG), Taryn (RJ) e Dudu Lima (MG)
Sexta-feira (22/11)
20h: Big Walker (USA)
21h45min: Tom Holland (USA) & Ale Ravanello Blues Combo (POA) & Mari Kerber (NH)
23h30min: Crossroads time: Renato Piau (PI) & Beto Saroldi (RJ)
23h45min: Alamo Leal Band (RJ) feat. Beto Saroldi (RJ) & Al Pratt (RJ-USA)
Sábado (23/11)
20h30min: Mokambo (RJ)
22h: J.J. Thames (USA) & Alexandre França Blues Band (POA)
23h30min: Crossroads time: Renato Piau (PI) & Beto Saroldi (RJ)
0h: Super Chikan (USA)
MEMPHIS JUKE JOINT STAGE (palco do bar)
Três atrações por noite, com dois sets para cada
Quinta-feira (21/11)
18h20min e 19h30min: Priscilla & The Honeydrippers (BG)
21h e 22h10min: Mamma Doo (CXS)
23h40min e 0h50min: Gisa Londero Blues Band (CXS)
Sexta-feira (22/11)
18h20min e 19h30min: Lady Boots & Mariana Dinnebier (RS)
21h e 22h10min: Super Chikan (USA)
23h40min e 0h50min: Mokambo (RJ)
Sábado (23/11)
18h20min e 19h30min: The Cotton Pickers (CXS)
21h e 22h10min: Renato Piau (PI) & Beto Saroldi (RJ)
23h40min e 0h50min: Tom Holland (USA)
PO' MONKEY STAGE (Casinha - gratuito)
Um show por noite em dois sets, exceto no sábado, que são dois shows com dois sets para cada
Quinta-feira (21/11)
20h45min e 21h45min: Lazaro Nascimento & Rafa De Boni (CXS)
Sexta-feira (22/11)
20h45min e 21h45min: Uncle George Trio (NH)
Sábado (23/11)
18h15min e 19h45min: Guto Konrad (Sta. Cruz do Sul)
21h e 22h: Al Pratt (EUA - RJ) feat. Alamo Leal (RJ)
OLD KITCHEN STAGE/OPEN STAGE (subsolo do Clube Juvenil)
Um show por noite, em dois sets
Quinta-feira (21/11)
19h20min e 21h20min: Barba & Blues (São Chico)
Sexta-feira (22/11)
19h20min e 21h20min: Ícaro Chaves Band (RS)
Sábado (23/11)
19h20min e 21h20min: Hard Blues Trio (POA)
HARLEM INN STAGE (Praça Dante - gratuito
Um show por noite, na quinta e na sexta
Quinta-feira (21/11)
19h45min: Guto Konrad (Sta Cruz do Sul) e Andy Serrano (POA)
Sexta-feira (22/11)
19h45min: Renato Piau & Beto Saroldi (RJ)
DEMAIS PALCOS
OLDMAN'S SHOW STAGE
Jam session comandada pelo músico Renato Velho, recebendo convidados e expondo instrumentos artesanais
HANG SUITE 122 (Boate Pelourinho)
Todos os dias: sets com DJ's Augusto Nesi, Beta Viegas & Coyote, entre outros.
JUKE JOINT CHAPEL (na Marquês do Herval)
Intervenções da Cia. Municipal de Dança, com releitura do espetáculo I See The Light (da primeira apresentação do grupo no MDBF)