Cenários coloniais da Região da Uva e do Vinho e a língua talian podem ser considerados protagonistas de Até Que A Música Pare, talvez tanto quanto o elenco formado em grande parte por atrizes e atores da Serra. O longa dirigido pela porto-alegrense Cristiane Oliveira, que será exibido segunda-feira (12), às 14h, no 52º Festival Internacional de Cinema de Gramado, é um dos concorrentes na mostra Longas Gaúchos.
Protagonizam o filme a atriz Cibele Tedesco (Chiara) e o ator Hugo Lorenzatti (Alfredo), ambos integrantes do grupo teatral caxiense Miseri Coloni, convidado também a prestar uma espécie de consultoria para a produção, por ser um guardião da preservação do talian através da arte. O filme tem parte de seus diálogos falados na língua criada pelos descendentes de italianos, a partir da junção de diversos dialetos, mas predominantemente o vêneto, com o português.
Na trama, Chiara é a matriarca de uma família de descendentes de imigrantes italianos, que, se sentindo solitária após o último filho sair de casa, decide acompanhar o marido em suas viagens como vendedor pelas bodegas e botecos da Serra. Ao longo do caminho, a relação será colocada à prova, na medida em que a protagonista revisa sua existência. Nesta jornada, a relação que Chiara desenvolve com uma tartaruga comprada pelo marido irá se mostrar central para a história, bem como um baralho de cartas.
— É um filme que tem uma dramaticidade muito forte sobre a mulher, e como esta mulher que vive na zona rural, uma dona de casa, que vive para os filhos e para o marido, qual o sentimento que ela tem? E o que pode acontecer a partir do momento em que ela decide mudar alguma coisa? É uma visão diferente da que a gente está acostumado a ter, daquele lado alegre da colônia, dos filós…é um filme mais sobre a solidão, sobre a encruzilhada entre deixar a vida te levar ou batalhar para que possa ser diferente — comenta Cibele, maestrina que aos 64 anos teve sua primeira experiência atuando para o cinema.
Filmado em grande parte no interior de Antônio Prado, Até Que A Música Pare tem ainda locações em Veranópolis, Nova Bassano e Nova Roma do Sul. O longa já rendeu a Cristiane Oliveira o prêmio de Melhor Direção no 42º Bergamo International Film Festival, em março. Em Gramado, concorre com A Transformação de Canuto (de Ariel Kuaray Ortega e Ernesto de Carvalho, de São Miguel das Missões), Infinimundo (Bruno Martins e Diego Müller, Lajeado), Memórias de um Esclerosado (Thais Fernandes e Rafael Corrêa, POA) e Um Corpo Só (Cacá Nazário, POA).