Sacro é o nome da exposição com obras do acervo da coleção particular de José Antonio e Hieldis Martins, uma das mais representativas no país, com enfoque na arte brasileira. Sacro, no dicionário, se refere ao divino, à religião, ao rituais e ao culto. Como se vê, vai além do sagrado como sinônimo do que é relativo ao cristianismo.
Pois é dentro dessa pluralidade, entre variações de Cristo, Iemanjá e buda, de objetos religiosos a esculturas e livros de oração, que se revela o recorte da mostra Sacro, que abre nesta quinta-feira (4), à noite, na Galeria de Arte Gerd Bornheim, em Caxias do Sul.
Outra revelação implícita — que transcende a espiritualidade — está no caráter educativo e de acesso à cultura, sobretudo aos estudantes da rede pública.
— Nosso interesse maior é tornar o acervo acessível às crianças. Porque, para os adultos a minha casa está sempre aberta. Se as pessoas quiserem ver é só me pedir. Agora, as crianças, principalmente da rede pública, se não fossem trazidas para cá, tendo a orientação das professoras, elas não teriam acesso a um acervo como esse — justifica a colecionadora Hieldis Martins, responsável pela curadoria, ao lado de Ademar Roberto Sebben.
Sacro apresenta ao público obras de expoentes do modernismo brasileiro, como Anita Malfatti e Alberto da Veiga Guignard (leia mais abaixo), além de cinco telas de Ado Malagoli, criador do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs), que atualmente leva o seu nome. Fazem parte ainda, obras de artistas locais como Rogério Baierle e Sergio Lopes.
E por que esse recorte da arte sacra? Hieldis responde:
— Na realidade, foi a chegada daquele quadro ali do Locatelli (apontando para a tela A Ceia dos Cardeais), que movimentou o interesse por essa temática. Daí, fomos ver que tínhamos muita arte sacra na coleção e que fazia sentido expor junto.
Hieldis complementa:
— Esse quadro estava sumido, ninguém sabia nada sobre ele. Estava com uma família não sei onde, não quis saber e não perguntei. Como eles queriam segredo, mantém-se o segredo.
A respeito da disposição das obras na galeria, a arquiteta Marcele Muraro diz que optou pelo didatismo.
— Como lidar como essa pluralidade? Tu tens de pensar em simplificar para o público, principalmente para as crianças, o público principal. Então, não adianta separar por movimento artístico ou por técnica. Setorizamos para deixar a exposição com uma cara mais didática.
Três obras em destaque
Leia a seguir, detalhes de três obras que a reportagem destaca, dentre as mais de 30 que estão à mostra:
“A Ceia dos Cardeais”
Tela do italiano Aldo Locatelli (1915-1962), mais conhecido por sua pintura mural, como na Igreja de São Pelegrino. A Ceia dos Cardeais, de 1952, foi uma das mais recentes aquisições da família Martins. Segundo Hieldis, foi a partir dessa obra que nasceu a ideia de reunir parte do acervo sob a temática sacra para expor na Galeria Gerd. Hieldis diz ainda que a obra foi comprada por intermédio de um marchand, mas não revela o preço da obra, tampouco quem eram os antigos proprietários da tela de Locatelli.
“Cristo”
Desenho a carvão da pintora paulista Anita Malfatti (1889-1964). O poeta e crítico de arte Ferreira Gullar (1930-2016) escreveu artigo na Folha de S. Paulo, em 2012, afirmando que, historicamente, o modernismo na pintura nasce com Anita Malfatti, em uma exposição individual que ela fez em 1919, em São Paulo. Ou seja, três anos antes da famosa Semana de Arte Moderna, marco seminal do movimento no país. Inclusive, a obra Cristo, exibida na Galeria Gerd, foi apresentada ao público pela primeira vez na Semana de Arte de 1922.
“São Sebastião”
Dentre as cinco telas do carioca Alberto da Veiga Guignard (1896-1962) expostas na Galeria Gerd está São Sebastião, em óleo sobre madeira. Conforme a Enciclopédia Itaú Cultural, a obra de Guignard tem “traços da nova objetividade — movimento alemão que transpõe os limites do real, buscando impregná-lo de poesia”. O artista é considerado um dos expoentes do modernismo brasileiro do século 20. O imaginário religioso sempre permeou a sua produção, além de retratar paisagens ao longo de sua carreira.
Programe-se
- O quê: “Sacro”, exposição com obras da Coleção de José Antonio e Hieldis Martins.
- Quando: abertura nesta quinta-feira (4), a partir das 19h. A mostra segue para visitação até o dia 27, de segunda a sexta-feira (8h às 18h) e sábados (10h às 16h).
- Onde: Galeria Municipal de Arte Gerd Bornheim (Casa da Cultura - Rua Dr. Montaury, 1.333 - Centro).
- Quanto: entrada franca.
- Agendamento para visitas por meio do telefone (54) 3221-3697.