De uma forma resumida e ampla, o sommelier é um especialista em bebidas. E, nesse cenário, os mais conhecidos são os sommeliers de vinhos. De uma maneira mais simbólica e até mesmo literal para essa história, eles são os verdadeiros guardiões desses rótulos. Na Serra gaúcha, não faltam oportunidades para quem busca ingressar nessa área para saborear um misto de cultura, história e tradição. Há cursos oferecidos pela Associação Brasileira de Sommeliers (ABS-RS), pela Universidade de Caxias do Sul (UCS) e também pelo Senac.
O diretor da Escola de Gastronomia da UCS, Mauro Cingolani, descreve o sommelier como uma pessoa elegante, que se apresenta com carisma ao público e tem desenvoltura para explicar as mais diversas nuances do vinho. Cingolani diz que ingressar profissionalmente nessa área é uma entrega para a vida, uma vez que esse profissional precisará viajar e estar em contato constante com vinícolas para entender melhor sobre os produtos e as novas safras.
— Ele é um conhecedor e especialista de todos os vinhos possíveis do mundo, por isso que é muito difícil ser um sommelier. Os vinhos têm várias características que compreendem os cinco sentidos. E, para que um vinho seja completo, todos esses aspectos têm que ser harmônicos e também dentro de um padrão. O sommelier conhece de forma geral qual é a característica de cada vinho — contextualiza Cingolani.
Atualmente, qualquer pessoa que tenha 18 anos ou mais pode se tornar um sommelier de vinhos. Mas é necessário ter em mente que, para isso, é preciso ir além do conhecimento sobre a bebida. Os especialistas garantem que é preciso haver uma conexão com ela.
São inúmeras as possibilidades de atuação nesse mercado, de restaurantes a lojas físicas e online que vendem vinhos, chegando também aos estrelados cruzeiros que percorrem o mundo. Nesses locais, o profissional conduz os clientes à experiências únicas, principalmente explicando como harmonizar o vinho com alimentos e momentos especiais.
Mais do que um hobby
A presidente da ABS-RS, Caroline Dani, destaca que esse é um setor que tem crescido nos últimos anos. Segunda ela, um dado tem chamado atenção na associação: cerca de 80% dos alunos chegam buscando a formação apenas por hobby, algo que acaba mudando após a conclusão, com as pessoas buscando também investir na vinicultura. Uma alternativa que tem ganhado força são os perfis em redes sociais ou blogs na internet para difusão do vinho.
— Esse é um mundo que só tem uma porta: a de entrada. A de saída tu não encontra nunca mais, porque toda hora tem um conhecimento novo. Nós estamos a todo momento fazendo cursos de aperfeiçoamento, no exterior, viajando. Tenha a certeza de que, nesse mundo, a gente nunca para de estudar, ainda mais quando falamos em sommelier profissional, que envolvem outras bebidas, sempre tem que se atualizar — explica Caroline.
Ex-presidente e atual diretor de relações institucionais da ABS-RS, Júlio César Kunz, vai na mesma linha de pensamento que Caroline, e ainda diz que o sommelier precisa ter repertório.
— O Sommelier é um profissional de bebidas. Claro, o mundo do vinhos é o mais complexo, é onde surgem conceitos como terroir, valorização de tipicidade, de pequenos produtores, de regionalidades, que outras bebidas foram usar posteriormente.
Amor e prazer pelo mundo do vinho
Formado em marketing e atuando há mais de duas décadas no setor de tecnologia, Samuel Jardim, 43, preserva um sonho antigo: “se aposentar atrás de um balcão”. Algo que já começa a se concretizar, diz ele.
Há alguns meses, Jardim se tornou sócio do Tempo Bar de Vinho, no centro de Caxias. No mesmo período começou o curso de sommelier na ABS-RS, de forma presencial em Bento Gonçalves, com formatura prevista para julho desse ano. O mergulho nesse universo dos vinhos, revela ele, se justifica pelo amor à bebida.
— É meio clichê... É algo que com o passar do tempo tu vais ficando mais crítico e querendo entender o que está tomando. Sou meio inquieto e gosto de mergulhar nos assuntos.
Agora, a possibilidade de ingressar como sócio no bar, somada ao curso de sommelier, está se tornando em uma realização pessoal e profissional.
— Quando o cliente toma um gole e fala: “era isso que eu estava querendo”, isso te mostra que o trabalho foi feito com excelência. Sem ter essa teoria é difícil, ela te acelera muito tempo – reconhece Jardim.
Hobby para manter as tradições
A Serra gaúcha é um berço para a produção de uvas, vinhos, espumantes e uma verdadeira infinidade de produtos derivados. Isso também gera um sentimento de pertencimento aos moradores da região. Essa é a percepção da jornalista e professora de inglês Brenda Luisa Dalcero, 25. Moradora de Flores da Cunha, ela se formou em 2021 no curso de sommelier da ABS-RS, de forma online.
No final da graduação de Jornalismo, ela optou por fazer as disciplinas eletivas de enogastronomia e daí para iniciar curso de sommelier foi só uma questão de tempo.
— Eu costumo brincar com meus amigos que a gente nasceu na terra da uva e do vinho, o melhor lugar do mundo. É um contato bastante comum, e eu sempre gostei de estudar, e conforme o tempo foi passando eu fui apreciando mais a bebida — conta Brenda.
Ela não seguiu a profissão de sommelier, mas acredita que a formação lhe trouxe um contato maior com a história e cultura da região. Para ela, apreciar um bom vinho é também uma forma de valorizar a cadeia produtiva, desde os safristas que colhem a uva aos enólogos que ajudam elaboração da bebida que é símbolo da Serra.
— O que o curso melhor me proporcionou foi a constância na prática da degustação. Essa constância fez com que, no final do curso, estivesse muito fácil de fazer, e o que mais me marcou foi conseguir levar isso para fora da sala de aula. Esse ritual da degustação eu faço até hoje, porque tu pega o hábito.
Confraria feminina após curso
A médica Raquel Cristina Lovison, 41, diz ser apaixonada por vinho. O gosto pela bebida foi se desenvolvendo com o passar do tempo e, há quatro anos, começou a despertar a vontade de realizar o curso de sommelier, formação que concluiu em maio de 2023 na Escola de Gastronomia da UCS.
— É um universo que se abre. Uma coisa é tomar e gostar, mas quando tu começa a estudar e entender a história é muito bacana. Quando começa a saber de todo o processo tu começa a tomar vinho de forma diferente. É um outro olhar — defende Raquel.
Após a formação, Raquel comprou alguns livros, principalmente de harmonização, para mergulhar ainda mais no mundo dos vinhos. E, em agosto do ano passado, após conversar com uma amiga, decidiu montar uma confraria para analisar vinhos. Em outubro, o grupo de nove mulheres se reuniu pela primeira vez. Os encontros ocorrem uma vez por mês, normalmente na última quinta-feira do mês. Ela diz que segue à risca os ensinamentos do curso.
Durante os encontros da confraria, as participantes levam fichas de avaliação e também materiais que podem auxiliar no processo de análise dos vinhos. Raquel também guarda consigo o tastevin — utensílio que era utilizado pelos sommeliers no passado, no processo de análise — que ganhou da UCS após a formatura.
— Antes de comer, analisamos todo o vinho como era feito no curso. Temos as fichas de degustação, que compreende a parte visual, degustativa e olfativa, e avaliamos os vinhos que vamos tomar.
Qual a diferença entre o enólogo e o sommelier?
De um lado está o enólogo, profissional com formação por meio de um curso de graduação ou técnico, que planeja, implanta e executa os processos de produção, além de gerenciar e supervisionar os processos de produção de vinhos e derivados. Do outro, está o sommelier, que, como os especialistas explicam, atua no pós engarrafamento da bebida.
— Um começa produzindo o vinho, o enólogo nesse caso. E o sommelier, a partir disso, vai conhecer o vinho, analisar sensorialmente. Ele é o guardião do vinho — diferencia Mauro Cingolani, diretor da Escola de Gastronomia da UCS.
Opções de cursos na Serra
Associação Brasileira de Sommeliers
A Associação Brasileira de Sommeliers (ABS-RS) tem duas opções de cursos. Uma de forma presencial e outra de forma online. As atividades oferecem vivência e imersão no universo dos vinhos. No formato presencial as aulas acontecem em Bento Gonçalves e são divididas em sete módulos com duração aproximada de sete meses. A formação dá certificado que tem a chancela da Association de la Sommellerie Internationale (ASI), com sede na França.
As inscrições podem ser feitas pelo site. Para o curso online, as inscrições se encerram no final de fevereiro e as aulas começam em 14 de março. Já no formato presencial as inscrições vão até a o final da manhã de 15 de março, com as aulas iniciando no mesmo dia.
Investimento do curso presencial: R$12.312 ou R$11.365 para sócios.
Investimento do curso online: R$10.226 ou R$ 9.052 para sócios.
Universidade de Caxias do Sul
A UCS oferece o curso de extensão de Sommelier Internacional em parceria com a Organizzazione Nazionale Assaggiatori di Vino, da Itália. Ele tem duração de 8 dias seguidos de aulas presenciais e visitas técnicas em diferentes vinícolas da região. Além disso, o curso contempla conteúdos extras no módulo ensino à distância (EaD). As aulas presenciais são na Escola de Gastronomia, em Flores da Cunha.
Ao final do curso, o aluno realiza um exame escrito, prático e oral. Se aprovado, receberá o Certificado de Sommelier Internacional UCS/ONAV. Para 2024, já está programada a abertura de três turmas do curso de Sommelier Internacional, nos meses de maio, agosto e novembro. Mais informações podem ser consultadas no site da Escola de Gastronomia da UCS.
Investimento do curso: R$ 9.060
Senac
O Senac oferece curso em Bento Gonçalves e Gramado, de forma presencial. A formação tem carga horária de 144 horas, e ensina mais sobre a atuação do profissional em restaurantes, hotéis e bares, atendendo aos clientes, orientando sobre o vinho mais adequado para acompanhar o cardápio, respeitando o perfil dos clientes. Todas as informações podem ser consultadas no site do Senac.
Investimento do curso em Bento: R$ 7.880
Investimento do curso em Gramado: R$ 6.781