O encontro de diferentes gerações blueseiras foram a marca do 14º Mississippi Delta Blues Festival, que se encerrou na madrugada deste domingo no Parque da Festa da Uva, em Caxias do Sul. Ao longo de três noites, os fãs puderam conferir desde nomes consagrados até talentos emergentes, que garantirão a continuidade do blues nacional pelos próximos anos ou décadas. E este encontro esteve muito bem representado nas figuras de Guto Konrad, guitarrista de 20 anos nascido em Santa Cruz do Sul, e do experiente Fernando Noronha e sua Black Soul, da Capital Gaúcha.
- Ver o Guto tocar hoje faz lembrar muito o Fernando Noronha quando tinha a mesma idade nos anos 1990, tocando em Porto Alegre - comenta o baixista Sérgio Selbach, que acompanhou os músicos Ian Siegal (UK) e Rachel Fields (EUA) no festival.
A performance de Konrad e seu trio no Club Ebony Stage, nome dado a este ano à "casinha do blues", com músicas autorais misturadas a clássicos de ícones como Albert Collins, foi um dos pontos altos da noite de sábado, que também foi a que reuniu o maior público desta edição. Todos os quatro palcos principais tiveram bom quórum para as apresentações que se iniciaram ainda no fim da tarde e seguiram madrugada adentro.
Entre as novidades apresentadas este ano, a produção acertou em cheio nos shows do High Chaparral Stage, que trouxeram ao festival dedicado à música de raiz norte-americana um pouco da música de raiz do Sul da América do Sul. Se na quinta-feira o palco foi da Yangos, e na sexta-feira de Lúcio Yanel, no sábado foi a cantora caxiense Tatiéli Bueno quem brindou a plateia com sua voz ao mesmo tempo potente e melodiosa, mostrando que o "feeling" é marca das grandes cantoras sem importar a vertente. Etta James e Koko Taylor, divas maiores do blues, certamente aplaudiram no paraíso onde repousam.
Na edição que teve como principal homenageado o icônico B.B. King, ao longo das três noites brilharam pelo festival atrações cuja carreira de alguma forma dialoga com o Rei do Blues. E foi encerrando o palco principal que o baterista Tony "TC" Coleman, fiel escudeiro de B.B. nas baquetas por 25 anos, ofereceu um dos melhores shows da noite. Acompanhado do que há de melhor na cena blues nacional para acompanhá-lo, com uma banda formada pelo guitarrista paulista Igor Prado e pelo tecladista gaúcho Luciano Leães, Coleman entregou muita energia e carisma, tocando bateria e cantando temas autorais e clássicos de B.B. King.
Talvez a maior notícia para os fãs, contudo, tenha vindo antes de subir ao palco a atração principal. Chamado pela mestra de cerimônias Flávia Vidor, o idealizador e curador do MDBF, Toyo Bagoso, confirmou que a 15ª edição em Caxias do Sul será nos dias 21, 22 e 23 de novembro, e terá como tema a cidade de Cleveland, no Mississippi, onde está sediada a Delta State University, parceira das últimas edições do festival. É em Cleveland que também estão o Mississippi Grammy Museum, dedicado aos artistas locais que venceram o prêmio maior da música, e a Hopson Plantation, propriedade rural que é considerada o berço do blues como o conhecemos. Não foi confirmado, porém, se o Parque da Festa da Uva continuará sendo o local para a realização do festival em Caxias.