“O impossível é só questão de opinião”. Retirada de uma letra do Charlie Brown Jr., a frase que Rodrigo Castelhano escolheu para o seu perfil no WhatsApp reflete este momento em que o morador de Picada Café, de 42 anos, embarca rumo a uma jornada de 90 mil quilômetros tendo como única companhia De Niro, um Fusca 1974. Com uma barraca de teto como casa e o Alaska como destino final, a Expedição Malte iniciou nesta quinta-feira e deve durar até dois anos, mas não tem data para terminar.
Engana-se, contudo, quem pensa que Castelhano pretende tirar um período sabático sobre rodas. A ideia é trabalhar – e muito – ao longo do caminho, produzindo conteúdo para as redes sociais do projeto, mas principalmente para os clientes/patrocinadores que já estão agendados e para os que vierem a agregar ao longo da jornada. No caso, cervejarias artesanais que o cineasta e videomaker atende com a elaboração de material audiovisual.
Foi justamente uma desilusão profissional pontual que fez o cineasta buscar um novo projeto de vida. Castelhano estava com 70% de um filme de ficção rodado quando a pandemia do coronavírus forçou a interrupção do projeto, que já tinha tomado tempo e recursos impossíveis de serem recuperados.
– Já tinha rodado em diversas cidades da região, tinha atores de fora já contratados, mas de repente parou tudo. Quando a pandemia arrefeceu e finalmente pude voltar a filmar, as crianças do filme já tinham crescido, atores já tinham morrido de Covid…não tinha como continuar. Aquilo me deixou desesperado. Foi naquela época que conheci a história do Jesse e do Shurastey (influenciador catarinense e seu cachorro, que viajavam pelas Américas de Fusca e morreram em um acidente nos EUA, no ano passado) e aquilo foi muito inspirador. Cheguei a trocar mensagens com o Jesse, tirei dúvidas…acho que o desejo da viagem veio de uma mistura desse conflito existencial pandêmico com um pouco de crise dos 40 anos – conta.
Após conversar sobre a ideia com a esposa e com os três filhos, todos do primeiro casamento, antes mesmo de Rodrigo pensar em como viabilizar financeiramente a viagem, o primeiro patrocínio surgiu de forma espontânea. E indicou um caminho para tornar a expedição possível.
– Um cliente que é dono de uma cervejaria soube do projeto e comentou que eu estava realizando o sonho dele, que era viajar para o Alaska. Ele se ofereceu para ajudar com patrocínio, e ali eu vi que poderia dar um caldo. Fui procurar outros clientes e vários entraram como parceiros. As cervejarias são um universo muito rico de informação e de conteúdo, e as pessoas que estão nesse meio gostam de se encontrar e de conhecer a forma do outro trabalhar – comenta o cineasta.
EM BUSCA DE HISTÓRIAS
Com a cidade argentina de Ushuaia, na Patagônia, como primeiro destino antes de seguir rumo à América do Norte, o cineasta pega a estrada com sete cervejarias como patrocinadoras e algumas visitas já agendadas visando novas parcerias. A primeira parada, em Pelotas, neste final de semana, será para produzir material para um cliente cervejeiro. Ao longo do trajeto, conforme for ganhando mais visibilidade nacional nas redes, a intenção é conquistar novos apoios na mesma medida em que vai conhecendo novos fabricantes de cerveja, buscando a maior diversidade de perfis. Como o roteiro é aberto, a busca é por histórias que ainda não foram contadas.
– Quero chegar numa cidade e pedir para um cervejeiro me indicar a cervejaria mais interessante, que às vezes pode ser a menos conhecida. A maioria dos sites e perfis indicam sempre os mesmos lugares, contam sempre as mesmas histórias, e é disso que eu quero fugir – diz.
Embora a “Expedição Malte” tenha Rodrigo como personagem principal, o coadjuvante também merece atenção. Afinal, como De Niro, um “senhor” prestes a completar 50 anos, irá encarar uma jornada que promete ser exaustiva não apenas para o humano envolvido? O Fusca recebeu poucas modificações, sendo que a mais significativa foi a troca dos bancos originais por dois bancos de Chevrolet Ônix, para ter mais conforto.
O viajante também parte munido de um estoque de peças sobressalentes e do máximo de conhecimento de mecânica que conseguiu acumular. Conta principalmente, no entanto, com a ajuda de um experiente mecânico de Estância Velha, no Vale do Sinos, especializado no modelo mais famoso da Volkswagen e que irá oferecer assistência remota:
– A parte mecânica foi a mais difícil de resolver e a mais cara até aqui. Mas aprendi a resolver boa parte dos problemas, e tem esse mecânico especializado em Fusca que consegue identificar os problemas apenas escutando o ruído que o carro está fazendo. Ele dá o passo a passo e eu resolvo na estrada mesmo.
ÁLCOOL SIM, DIREÇÃO NÃO
Entre as curiosidades que uma ideia como essa despertam, invariavelmente surge a questão: como fazer uma viagem etílica sendo o motorista? Rodrigo explica prontamente que fará a expedição com responsabilidade, sempre dando um dia de intervalo entre as degustações e o volante. E não apenas por questão de segurança ou mero cumprimento das leis de trânsito, mas também por razões fisiológicas:
– Nos vídeos sempre vou deixar claro quando é dia de beber e quando é dia de viajar, com intervalo de pelo menos um dia. Até porque já passei dos 40, né? Se antigamente bebia três noites seguidas e me recuperava em uma, hoje é o contrário (ri).
Além de dar o exemplo, Rodrigo também irá incluir em todos os vídeos a mensagem “Se beber, não dirija”, a fim de estimular a responsabilidade na direção.
Para acompanhar os conteúdos produzidos por Rodrigo Castelhano ao longo da viagem, a dica é seguir o perfil @expedicaomalte no Instagram, que terá atualizações diárias, e o canal Expedição Malte no Youtube, onde Rodrigo pretende postar vídeos mais elaborados a cada 15 dias.