Com seus 1, 55m e 1,65m, respectivamente, Tais Rancan e Luiz Canei, 30, são pequenos e desde o início de maio moram numa casa bem pequena, mas que permite ao casal sonhar grande. É num lar sobre rodas, milimetricamente adaptado em uma van Sprinter, que os farroupilhenses irão desbravar o Brasil e o mundo a partir de junho, numa aventura sem prazo para terminar. É a adesão a um estilo de vida que se torna cada vez mais comum, especialmente entre casais que compartilham não só a vida, mas a vontade de descoberta e a inconformidade com a rotina.
O sonho começou a ser gestado há quatro anos, após o casal retornar da primeira viagem internacional juntos, para o Japão. Foi a primeira experiência fora dos limites do Estado para Tais, enquanto Luiz Canei, 30, sempre foi acostumado a viajar com a família – razão pela qual seus pais são os maiores incentivadores da ideia e já aguardam dicas de destino para visitá-los quando for possível.
– Quando voltamos do Japão só pensávamos nisso: queríamos viver viajando. Começamos a pesquisar a história de outros casais que já haviam feito isso, já iniciando um planejamento financeiro, sem saber que a pandemia ia deixar tudo muito mais caro. Quando vimos que havia fila de espera para a customização das vans percebemos o quanto as pessoas estão interessadas nesse estilo de vida – diz Luiz.
Para viabilizar a expedição, o casal vendeu o carro e alugou dois apartamentos, um onde moravam juntos e outro que é de Tais. A renda mensal, no entanto, deve ser completada com trabalhos que pintarem ao longo do caminho, tanto presenciais quanto virtuais, já que Tais é designer e Luiz trabalha com informática. Na van, em que cada mínimo espaço é aproveitado, a mesa de jantar tem embutidos dois monitores que permitem virar estações de trabalho.
– A renda mensal que a gente conseguiu assegurar permite viver, mas com aperto. O trabalho vai ser para a gente poder chegar nos lugares e não ficar parado, mas poder aproveitar algum passeio – acrescenta Tais.
O primeiro destino escolhido é Foz do Iguaçu. Após a visita às cataratas, as próximas paradas são incertas, mas o casal quer chegar até o Ushuaia, na Argentina, e de lá partir novamente pelos meandros da América até chegar ao Alasca, nos Estados Unidos. Cumprida essa etapa, o objetivo seguinte é seguir para a Europa ou Oceania, despachando a van por container. O país que não pode faltar no destino? Eles respondem de pronto: a Itália.
Quem quiser acompanhar o casal pode seguir o perfil @viajodecasa no Insta.
Um casal, uma Kombi e dois cachorros
Há um mês, o casal de artistas caxienses Augusto Bazzo e Andressa Maciel partiu com os cães, Cida e Odin, numa jornada Brasil adentro a bordo de uma kombi, transformada em casa e colorida com um chamativo grafite na parte externa, que traz o nome que deram ao projeto que é de vida, mas também de trabalho: Lado Sul Pro Mundo.
Após três anos dedicados a economizar dinheiro para a compra e a customização do veículo, a viagem começou pelo litoral gaúcho e seguiu para SC. Sem roteiro definido, Augusto, especialista no lettering (grafite com letras), e Andressa, cuja especialidade com o spray são as mandalas, se guiam por oportunidades de trabalho, desde que surjam em locais próximos aos que desejam conhecer. Nisso fazem contato com pubs, academias, escolinhas infantis, qualquer lugar que possa querer dar mais cores às suas paredes. Alguns eventos de graffitti ao longo do ano vão ajudar a nortear os passos, como um festival no Espírito Santo, em julho.
– O primeiro objetivo da viagem foi o de rever amigos e conhecer amigos novos que fazem acontecer a cultura hip hop no país. A isso a gente une a vontade de viajar e conhecer lugares novos. A gente sempre quis viajar e levar nossa arte pelo mundo, mas como não somos herdeiros, não parecia muito viável. Foi conhecendo a história de outros casais que deram o seu jeito que a gente viu que era possível adaptar o sonho à nossa realidade e fazer isso acontecer – conta Andressa, que era servidora do município até pedir exoneração para fazer a viagem.
Nas primeiras semanas de aventura, o casal relata que os cães parecem já estar mais adaptados à vida na estrada do que eles próprios.
– Antes eles tinham uma vida muito acomodada, de pátio, e agora todo dia eles podem correr, brincar e fazer xixi num lugar diferente – brinca Augusto.
Tanto os caxienses quanto o casal farroupilhense do início desta reportagem comentam que a principal razão para compartilhar a rotina nômade nas redes sociais é a de poder reviver a experiência sempre que quiserem, de preferência daqui a muitos anos.
– A gente quer que esses registros sirvam como um documentário para que a gente mesmo possa assistir quando tiver mais idade – diz Augusto.
Para acompanhar os caxienses, basta seguir o Instagram do projeto: @ladosuldomundo ou o canal homônimo no YouTube. Para conhecer melhor a arte de ambos, melhor é segui-los nos perfis pessoais: @gutera–ctgk e @dessamandalas.
Crônicas que inspiram
A intenção nunca foi ser influencer, mas fato é que as Crônicas na Bagagem, do casal João Paulo Mileski e Carina Furlanetto, 34, são hoje acompanhadas no Instagram por mais de 160 mil seguidores. E muitos deles já cruzaram com os bento-gonçalvenses ao longo do caminho trilhado desde setembro de 2018, quando saíram de Bento para conhecer a América Latina a bordo de um veículo de um Renault Sandero transformado em casa.
A jornada, que só terminou em abril de 2020, resultou em um livro, que poderia dar um fim ao capítulo viajante na vida dos jornalistas. O espírito inquieto, contudo, os fez embarcar numa nova viagem de descobrimento, dessa vez Brasil adentro. Desde maio de 2021 o casal já passou por 17 estados, e nesta semana estão no Maranhão. A viagem ainda deve durar pelo menos mais um ano.
– A ideia nunca foi inspirar pessoas a viajar, porque a gente não acredita que esse seja o único caminho da felicidade. O mais importante é que as pessoas percebam que muitas vezes elas já têm o que é necessário para ir atrás do que irá realizá-las, só não se dão conta porque se acostumaram a dar muito ouvido para as opiniões dos outros – destaca João Paulo.
– Se tivéssemos ficado esperando ter dinheiro para comprar um motorhome ou ter um carro ideal, acho que estaríamos esperando até agora – complementa Carina.