Ao escutar que é de Caxias do Sul o jornal para o qual havia acabado de dar entrevista, o cartunista Mauricio de Sousa puxa pela memória para contar que, nos anos 1950, conheceu a Serra gaúcha viajando sozinho, tentando vender suas primeiras tirinhas a jornais regionais, chegando até a fronteira gaúcha com o Uruguai.
O criador da Turma da Mônica não chega a terminar o relato pois é interrompido pelo gentil pedido de silêncio de um membro da equipe, já que atrás dele uma equipe de TV já havia começado a gravar entrevista com a empreendedora à frente da Vila da Mônica Gramado, Manoela Moschen. Faz-se silêncio e, quando a empresária o cita na entrevista, ele fala baixinho:
– Estão falando meu nome.
O bom humor e a disposição são marcas tão presentes quanto o talento na figura do senhor de 86 anos que esteve na Região das Hortênsias na última semana, conferindo de perto o mais recente lançamento da marca que começou a construir há mais de 60 anos. Da sua mente criativa vieram a gorducha Mônica, a gulosa Magali, o esperto Cebolinha, o sujinho Cascão e outras 400 personagens que saíram das tiras e dos gibis para serem exploradas em desenhos animados, filmes, jogos e parques de diversão, como o que desde a última quarta-feira recebe o público às margens da RS-235, em Gramado.
Mauricio começa a entrevista ao Almanaque saciando a curiosidade do repórter sobre a receita para se comunicar com infâncias de pelo menos seis décadas diferentes, mesmo com tantas mudanças implicadas especialmente pelos avanços tecnológicos. Ele balança a cabeça negativamente e sorri:
– Acho que tem a ver com a proximidade com as crianças que eu tive nesses 60 anos, principalmente com os meus 10 filhos, mas também com os amigos deles, com os meus netos e sobrinhos. Eu vivencio a infância, converso com as crianças e aprendo muito. Quando comecei a desenhar eu não tinha personagens adultas. Eu me lembrava da minha infância e me baseava nos meus amiguinhos. Cebolinha e Cascão jogavam bola comigo. Mais do que as características físicas, eu me preocupava com a personalidade, como eles agiam e como eles pensavam. Com isso senti que, por mais que o tempo passe, as crianças gostam e não gostam das mesmas coisas, em qualquer lugar do mundo.
Acompanhando Mauricio em Gramado estavam a esposa, a diretora de arte Alice Takeda, 74, e o filho Mauro Takeda de Sousa, 35, diretor-executivo da Mauricio de Sousa Produções. Mauro destaca a empolgação do pai com o projeto:
– É uma vontade muito antiga nossa de ter um parque nesta cidade que é tão importante para o turismo, por onde passam pessoas do Brasil inteiro. O sorriso vai de um canto do rosto até o outro. Ele também fica muito feliz e orgulhoso de ver o universo criado por ele sendo tratado com tanto carinho.
OLHAR PARA A DIVERSIDADE E INCLUSÃO
Entre um beijo e outro jogado para a esposa, que assistia a sessão de entrevistas sentada à relativa distância, e antes de sacar do bolso esquerdo do casaco um dos seus cartões de visita com personagens como o cientista Franjinha e a caipira Rosinha, Mauricio comenta sobre a diversidade que é cada vez mais presente entre suas personagens, algumas com status de protagonista tanto nos gibis quanto no parque em Gramado. Só para citar algumas, nos últimos anos a turma do bairro do Limoeiro ganhou o Luca, menino cadeirante apaixonado por basquete; a Tati, menina simpática e brincalhona com síndrome de down; Igor e Vitória, irmãos portadores do vírus HIV; e mais recentemente o menino Bernardo, nascido com nanismo, inspirado em um menino de Caxias do Sul.
– No meio dos meus amigos tinha crianças com deficiências físicas que brincavam junto. Quando me dei conta de que eu não as incluía nas historinhas, vi que estava fazendo uma coisa falsa, que não falava da realidade. Comecei então a estudar sobre todas as crianças, como elas viviam com diferentes moléstias, como os cegos escolhiam suas roupas, como os jogadores de basquete de cadeiras de roda resolviam seus problemas, convivi com uma menina com síndrome de down que escrevia e atuava nas suas próprias peças de teatro. Aprendi muito indo pesquisar junto a essas pessoas – conta o cartunista.
Mais do que divertir, gerar identificação parece ser uma das fórmulas que explicam o sucesso da Turma da Mônica através dos anos. Responsável pela área de parques de diversões da empresa, Mauro Sousa considera que a experiência “olho no olho” oferece às crianças uma maneira ainda mais intensa de se reconhecer nas personagens:
– A experiência tão realista da interação ao vivo com as personagens é muito poderosa. Fica marcada para sempre no coração das pessoas. Cada personagem tem o seu jeitinho, sua etnia, idades diferentes, e é muito importante tê-los nesse projeto, porque as crianças e as famílias que acompanham a Turma da Mônica se sentem cada vez mais representadas.
O tédio não tem vez no bairro do Limoeiro
Inaugurada em um evento à altura da expectativa de gerar faturamento de R$ 60 milhões por ano, a Vila da Mônica Gramado está instalada próxima às margens da RS-235, quase vizinha ao outro empreendimento de vulto da empresária Manoela Moschen na cidade, o parque temático Snowland.
Com funcionamento diário das 10h às 17h, a Vila oferece quase 30 atrações, tendo cada uma delas um personagem da Turma da Mônica para interagir, com a presença de atores que representam os próprios ou de monitores. Ao entrar no Atelier da Marina, por exemplo, o visitante irá aprender a desenhar suas personagens preferidas com giz de cera, podendo levar o desenho para casa como recordação.
Na Casa do Cebolinha, os visitantes farão um exercício de agilidade e coordenação motora com um jogo de apertar botões desenvolvido pelo menino-gênio Franjinha, a fim de ajudar o garoto que troca os “erres” por “eles” a recrutar novos ajudantes para um plano infalível para derrotar a Mônica.
No Corpo de Bombeiros, as crianças recebem um treinamento divertido, com direito a uniformes em tamanho-mirim, para ingressar na Brigada de Incêndio do Limoeiro. Quando já estão craques no uso da mangueira, são chamadas a combater um incêndio no Hotel Pet, garantindo uma aventura e tanto.
Na Casa do Luca, o menino cadeirante, é o momento de jogar basquete com o anfitrião. O excêntrico Do Contra, no entanto, propõe um jogo diferente, em que é a cesta quem arremessa a bola para o jogador.
No Espaço Veterinário, as crianças serão auxiliares da Dra. Silvia, a veterinária mais experiente do Limoeiro, aprendendo os cuidados mais básicos para ter com cada tipo de pet.
– É importante destacar que o parque tem muita tecnologia, muita diversão, mas também tem muita mensagem. Cada atração foi pensada com muito carinho e cuidado para contribuir também com o desenvolvimento das nossas crianças – destaca a CEO Manoela Moschen.
Além das atividades interativas e pedagógicas oferecidas em cada casa dentro da Vila, também há espaços que remetem a um parque de diversões mais convencional, como o Carrossel do Chico Bento, a Roda Gigante e a Praça do Sansão, onde o visitante pode tirar uma foto debaixo de um ipê azul florido com miniaturas do icônico coelhinho da Mônica.
A Vila também conta com opções de lanches saudáveis, carrinho de pipoca e um restaurante, permitindo às famílias se programarem para passar o dia todo numa imersão junto à turma mais querida do Brasil.
SERVIÇO
O quê: Parque temático Vila da Mônica Gramado
Quando: a partir de 12 de outubro
Onde: Rua Germano Boff, 611, bairro Carazal (às margens da RS-235)
Quanto*: ingressos à venda no site www.viladamonica.com.br.
Antecipados (baixa temporada): R$ 179, (alta temporada) R$ 189.
Para pessoas acima de 60 anos, R$ 119. PCD infantil tem acesso gratuito; PcD adulto e acompanhante PCD, R$ 89. Moradores de Gramado, Canela, Nova Petrópolis, Picada Café e São Francisco de Paula, R$ 89