Às margens ou no entorno da RS-235, o interior de Nova Petrópolis se consolida como um destino de visitação cada vez mais procurado, na mesma medida em que mais atrativos são oferecidos aos turistas que buscam na região um refúgio bucólico e romântico. À paisagem natural, que tem como protagonista o Monte Malakoff, somam-se belezas arquitetônicas como as construções com a técnica enxaimel, trazida pelos imigrantes alemães no século 19, que podem ser apreciadas ao sabor da boa gastronomia colonial.
O Roteiro Caminhos Germânicos reúne empreendimentos que ficam nas localidades de Linha Brasil, Linha Imperial e 9 Colônias, onde os traços da imigração são ainda mais presentes num município conhecido pelo culto às tradições dos povos colonizadores. Cabe destacar que a maioria dos moradores de Nova Petrópolis descende imigrantes das regiões da Pomerânia, Saxônia, Boêmia e Hunsrück, que fundaram o município em 1858.
Umas das construções mais imponentes das primeiras décadas da imigração, hoje passa quase despercebida de quem trafega pela rodovia. No entanto, o Moinho Hillebrand, da família homônima, ainda é um dos lugares mais charmosos das redondezas, e que melhor preservam a história. O visitante pode ser recebido para uma visita guiada pelo proprietário, Cláudio Hillebrand, que aciona o moinho, construído em 1878, para mostrar como era gerada energia até os anos 1950, e como eram beneficiados diversos cereais, em especial o trigo, que eram a base da alimentação na época. Anexo ao moinho também há uma antiga serraria, com exemplares de peças em diversas espécies de madeira.
– O moinho era parte central da vida comunitária, como uma prestação de serviço para os agricultores e para o consumo próprio das famílias. Se não moesse o trigo, não tinha pão. Hoje em dia os jovens nem sabem de onde vem o trigo, a aveia, o centeio…só compram pronto no supermercado. Quando a gente viaja para a Europa vê muito patrimônio histórico preservado, e isso de certa forma nos motiva – comenta Cláudio Hillebrand.
Para tornar o patrimônio histórico ainda mais atraente, a família planeja ainda para este ano abrir um pub no antigo porão, e um Bier Garten, pátio para degustação de cervejas, oferecendo a mais tradicional das bebidas alemãs.
Adentrando a propriedade, chega-se ao museu da família, construído num antig estábulo e mantido com todo zelo pelo casal Adélia e Ovídio Hillebrand, ambos professores aposentados e apaixonados pela história da chegada dos antepassados à região, vindos de onde atualmente é a República Tcheca. Além de farta documentação sobre os primórdios do cooperativismo na região, o museu abriga diversos jornais locais escritos em alemão, objetos pessoais, mobília, utensílios e instrumentos musicais.
– A família sempre preservou tudo com muito amor, não pelos objetos em si, mas pelas histórias que eles contam. Quando pensamos em fazer o museu foi por acreditar na importância de que os mais jovens, que estudam a imigração na escola, pudessem vir aqui e ver como era um antigo forno de assar pão, por exemplo. Mas o mais interessante é o quanto os mais antigos se emocionam quando vêm visitar e se reencontram com memórias de suas infâncias – ressalta Adélia.
Saindo da rodovia e pegando o caminho de 9 Colônias, outra parada dos Caminhos Germânicos é a agroindústria familiar Casa Sander, da família de mesmo nome. Além de degustar sucos e geleias produzidas a partir dos frutos colhidos nos pomares da propriedade, com a possibilidade de fazer um piquenique a céu aberto, o visitante tem a opção de se hospedar em chalés aconchegantes, com vista privilegiada para os montes que se espalham pela região. Se a ideia for apenas passar o dia, não é preciso pagar entrada, paga-se apenas o que for consumido.
O proprietário, Adriano Sander, que é de Gramado e adquiriu a área em 2011, conta que o período da pandemia fez aumentar a procura pelos piqueniques e fez redirecionar o foco dos serviços para a visitação, sem deixar de apostar na produção dos sucos e geleias. É uma simbiose:
– Uma coisa vai puxando a outra. A gente comprou a propriedade pensando em ter um lugar de descanso aos finais de semana, depois começou a produção de uva pensando em vender o suco para hoteis e pousadas, dissso veio a ideia de fazer as geleias, que por sua vez nos fez querer diversificar o pomar, daí até abrir para os visitantes.
De volta às margens da ERS-235, outra opção de hospedagem são as Casas Enxaimel, que fica junto à galeria de artes Casa Amarela, onde a artista plástica Marlei Pertile mantém seu atelier de pintura aberto à visitação. A artista e o marido, o arquiteto uruguaio e professor aposentado da UCS, Júlio Ariel Guigou, enxergaram na propriedade, de onde é possível avistar o Monte Malakoff e outros pontos altos (literalmente) da paisagem, um potencial para o turismo que valia a pena apostar, especialmente com o charme das casas típicas alemãs, locadas por temporadas. As construções datam de 1860, 1875 e 1880 e vieram de outros municípios de colonização germânica, como Ivoti, sendo transportadas e reconstruídas em Nova Petrópolis nos anos 1990.
– Além da peculiaridade das casas enxaimel, os turistas se encatam pelo contexto onde a propriedade está inserida, de vegetação natural e de recantos aconchegantes para quem percorre o entorno – destaca Júlio.
Onde a história e os sabores se encontram
Entre os pontos que completam o roteiro Caminhos Germânicos e que ajudam a contar a história da colonização de Nova Petrópolis está o Parque de Esculturas Pedras do Silêncio, na Linha Brasil, que permite passear por quase 100 obras que contam a saga da imigração no município. Os escultores deram um olhar especial para as profissões trazidas pelos imigrantes, e que viraram sobrenomes muito comuns por aqui, como Schneider (alfaiate), Becker (padeiro), Zimmer (marceneiro), entre outras.
Para almoçar, uma opção que une história e sabor na mesma medida. O Armazém Wazlawick, que opera em um casarão erguido em 2011, embora mantenha o nome do comércio que funcionou originalmente no local, é um restaurante que se destaca pela comida caseira, com destaque para bolinhos de batata, diversos sabores de risoto e o purê de moranga com bacon. A decoração,e esta sim, mantém o aspecto de venda antiga, com o balcão, as balanças, o baleiro e diversos objetos que caracterizam as antigas bodegas.
Uma terceira opção de hospedagem é a Pousada Bauernhof, em 9 Colônias, ideal para quem busca silêncio e tranquilidade. Os proprietários são descendentes germânicos, sendo que a bisavó da família veio da Alemanha com um ano de vida. Os hóspedes podem ter uma vivência camponesa que inclui visitar as estufas de morango, a criação de gado, ovelhas, coelhos e galinhas, além de pescar no açude. As acomodações, contudo, oferecem o que há de mais confortável, como ar-condicionado e água aquecida.
Nas redes
Para conhecer mais sobre os lugares mostrados na reportagem e outras paradas do roteiro, basta seguir o perfil no Instagram @caminhosger-manicos ou a página de mesmo nome no Facebook.