Assim como a prática de exercícios físicos está para a saúde do corpo, que reflete na saúde da mente, o autocuidado está para a saúde mental, também com reflexos que irão beneficiar o corpo. Trata-se de um conjunto de práticas preventivas e ao alcance de todos no dia a dia, que ajudam a manter longe a depressão e os transtornos de ansiedade, além de trazer mais qualidade de vida.
Por ocasião do Dia Mundial da Mulher, celebrado na última terça-feira, 8, a Secretaria Municipal de Cultura e o Sindiserv de Caxias do Sul organizaram a primeira edição do Mulheres em Trama, evento que trouxe debates, arte e cultura voltados para o universo feminino. Dentro desta programação, neste sábado, às 9h, a psicóloga Maria Marlene Faria irá apresentar o painel Saúde Mental e Autocuidado, no Centro de Cultura Ordovás.
Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e idealizadora do projeto Vamos Falar de Saúde Mental?, Maria Marlene destaca que a questão primordial ao se falar de autocuidado, em especial para mulheres – que são as que mais sofrem com a sobrecarga psíquica – é a dificuldade de assumir sua natureza imperfeita.
— A realidade da mulher que trabalha fora, que cuida dos filhos e também da casa, foi normatizada pela sociedade, mas gera uma sobrecarga. Nisso o autocuidado fica de lado, porque essa mulher aprendeu a não descansar, não se alimentar bem, não pedir ajuda, não impor limites. Se ela assume que não tem tempo mesmo, que vai viver com dor de estômago, ela está escolhendo não cuidar da própria saúde — explica Maria Marlene.
Ao se trabalhar no resgate do autocuidado, observa a psicóloga, a primeira pergunta que costuma ser feita às pacientes, especialmente durante o período pandêmico, é a seguinte: como está a qualidade do teu sono?
— A maioria responde que não está dormindo bem. Isso porque está acelerada, porque não sai do celular, não sai da pressão que está colocada sobre ela. Os pensamentos estão acelerados como um cavalo selvagem e ela não consegue se acalmar para dormir. Assim como a depressão e a ansiedade aumentaram muito nos últimos anos, a insônia também se tornou muito mais comum.
Ainda sobre o tempo excessivo em que a sociedade atual passa conectada, a psicóloga faz uma analogia que ajuda a compreender os crescentes problemas de saúde mental observados pela psicologia e pela psiquiatria: o cérebro, por mais maravilhoso que seja, ainda é analógico. No entanto, o maior entrave para o autocuidado, segundo Marlene, é a dificuldade em dizer uma palavra curta e simples: não.
— A mulher que não sabe dizer não, logo deixa de ter tempo para descansar. É a chamada armadilha da utilidade, que vem com o medo de se sentir inútil, esquecido e desvalorizado. A energia dessa pessoa passa a estar sempre direcionada para o outro, e assim ela vai enfraquecendo a si mesma —alerta.
A pedido do Almanaque, Maria Marlene Faria elencou 10 medidas que podem conduzir a uma vida com mais bem estar e, consequentemente, melhor saúde mental. Confira a seguir:
10 passos para o autocuidado
- Descanso
O descanso correto envolve, principalmente, o sono. Quando a pessoa não dorme bem, ela vai ter problemas de memória e de concentração, vai ficar irritada, cansada. O sono é fundamental, pois tem um poder de restauração maior do que a atividade física.
- Pedir ajuda
Muitas vezes a gente aprende, em nossas famílias, que pedir ajuda é incomodar o outro. Porém, quando a gente aprende a pedir ajuda, nossa vida passa a ficar mais leve. Por isso é uma forma de autocuidado.
- Dizer não
É fundamental para a saúde mental, porque envolve dar limite para o outro e respeitar os meus limites. Quando digo não para o outro, muitas vezes estou dizendo sim para mim. É libertador. É um ato de autoamor, porque me coloco em primeiro lugar e me agrado mais do que agrado ao outro.
- Desacelerar
É viver um pouco mais devagar. Não coloca 10 tarefas no teu dia, se tu sabes que vais dar conta só de cinco. Se tu combinar de ir almoçar com uma pessoa, por exemplo, mas aquilo vai tomar tempo e te obrigar a acelerar todo o resto da tua agenda, deixa para outro momento. Também envolve saber dizer não.
- Respiração
A gente precisa, todos os dias, fazer exercícios de respiração. Nós somos o país mais ansioso do mundo, e quando estamos ansiosos a respiração fica no peito. É importante fazer a respiração abdominal. Para se acalmar, principalmente.
- Alimentação
A gente só vai se alimentar bem se reservar tempo para isso. Senão vai comer muito fast-food e vai ficar doente. O intestino não vai funcionar bem. Começa pela hidratação. Tem que tomar muita água, até pelo fato de 80% do cérebro ser água.
- Exercício físico
Não é só uma questão de gostar, de lazer. Exercício físico também produz neurotransmissores que ajudam na nossa saúde mental. Se a pessoa caminhar 10 mil passos por dia, se ela subir e descer escadas ao invés de pegar sempre o elevador, isso já é atividade física.
- Aceitação
Preciso saber aceitar as coisas que não posso mudar. É como diz o ditado: o que não tem solução, solucionado está. Certas coisas não vão mudar. Às vezes, no nosso próprio corpo, na nossa saúde, tem coisas que a gente precisa aceitar.
- Terapia
Buscar psicoterapia, se conhecer, ser escutado por outra pessoa que está fora dos teus conflitos, é um presente que tu te dás. Isso te tornará uma pessoa mais forte e mais feliz.
- Pensamentos saudáveis
Assim como tu podes pensar numa coisa ruim, tu também podes pensar em algo saudável. Isso vai depender do quê eu estou nutrindo o meu cérebro: o que eu estou assistindo, o que eu estou escutando. Muitas notícias negativas, músicas muito agitadas…o cérebro não distingue o real do imaginário, por isso que, acompanhar com muito afinco o noticiário da guerra, por exemplo, vai te deixar com medo e acelerado. É preciso fazer um esforço para exercitar os pensamentos saudáveis.