Engane-se quem acredita que para mandar uma peça de queijo o mais longe possível é preciso força no braço acima de tudo.
– O segredo é força nas pernas – explica Andressa Boff, 35 anos, que se mostrou imbatível no Arremesso de Queijo na etapa de Fazenda Souza dos Jogos Coloniais da Festa da Uva, realizada no último domingo na localidade de Carapiaí, o chamado “interior do interior”.
Andressa, que também concorreu na corrida de trator e na pisa da uva, irá representar o distrito na grande final, marcada para o dia 6 de março. Ela irá defender o título conquistado em 2016 e terá a companhia, no masculino, do irmão Alisson, 25. Entre os homens, ninguém em Fazenda Souza superou o arremesso de Alisson, que alcançou 34 metros e arrancou aplausos da torcida.
– Segui as dicas da minha irmã e lembrei da infância, quando brincava com os amigos de quem atirava a pedra mais longe – comenta Alisson, que também estará na final da corrida de carriola (carrinho de lomba).
Emular a infância de antigamente no interior é o espírito dos Jogos Coloniais, que voltaram a ser realizados após um hiato de seis anos. Ao mesmo tempo em que a Festa da Uva contempla o trabalho e a fé dos imigrantes, a diversão é representada pelas divertidas competições que a Festa leva a diversas localidades de Caxias, promovendo risos e descontração, com muita espontaneidade.
As inscrições são feitas na hora, conforme o locutor anuncia provas como a corrida da plantadeira, o pau de sebo ou a novidade deste ano, a corrida do salame (variação da corrida da carriola em que um dos competidores pega um salame no meio do caminho e precisa deixá-lo pendurado antes de dar meia volta rumo à linha de chegada). Em muitas das provas os competidores também precisam ser rápidos para engolir um copo de suco de uva ou encher a boca de biscoito, antes de prosseguir no trajeto.
Nem todas as provas fazem alusão a brincadeiras antigas, contudo. Algumas emulam o trabalho pesado na roça, como a corrida de plantadeira e debulhar o milho, e também o serviço doméstico, como fazer o bigoli, massa de fios grossos e compridos, como um tipo de macarrão. Foi essa prova que fez Márcia Moreira regressar mentalmente à infância em Antônio Prado, enquanto se esforçava para produzir a maior quantidade de massa possível em três minutos. Conseguiu a expressiva marca de 400g.
– Claro que a gente sua e faz força, mas o segredo está na concentração. Não dá pra se distrair. Quando vinha alguma distração eu só voltava o pensamento pra infância, quando ajudava minha mãe a fazer massa em Antônio Prado. Mas essa aqui é um pouco mais dura – diverte-se.
“NÃO É FORÇA, É JEITO”
Outro jogo típico das comunidades rurais que também movimenta a competição é o mini 48, variação da bocha, tradicional jogo que anima os salões comunitários pelo interior. O objetivo é acertar as peças dispostas em círculo em um cepo de madeira, de modo a derrubar o máximo de bochas possível por arremesso. O campeão da etapa de Fazenda Souza, Adélio da Silva, 45, dá a receita do sucesso.
– Tem que mirar na última bocha, de modo que ela volte e acerte as outras peças. Não é força, é jeito – ensina.
Além de resgatar a identidade das comunidades pela memória afetiva e pela valorização do lazer, a fim de mostrar que nem só de trabalho se faz a vida na colônia, os Jogos foram criados em 1994 como um convite para que a população do interior participasse e se fizesse mais presente no evento maior de Caxias, cuja 33ª edição se inicia na próxima sexta-feira após um hiato de três anos. Neste final de semana é a vez de outras três comunidades receberem os Jogos: Criúva, Santa Lúcia do Piaí e Vila Oliva.
– Acho que os Jogos Coloniais são o coração da Festa da Uva, porque trazem o colono de volta às suas origens, lembrando como conseguiam se divertir e ser felizes apesar das dificuldades da vida. O sucesso que está sendo essa volta nos faz acreditar que vem aí não a maior, mas talvez a mais animada das festas – vibra o diretor-geral dos Jogos, Sadi Pirovano.
Nem tudo, no entanto, é sobre diversão. Também é sobre inclusão e responsabilidade social. Além das etapas espalhadas pelo interior de Caxias, no dia 4 de março será realizada no entorno do ginásio Enxutão a Paralimpíada Colonial, que reunirá alunos das escolas especiais do município. Ao final, a comunidade que tiver somado mais pontos irá receber um prêmio de R$ 10 mil, valor que será destinado à escola municipal do distrito.
Próximas edições
Sábado (12) Criúva – 15h
Local: Em frente ao salão paroquial
Domingo (13) Santa Lúcia do Piaí – 10h
Local: Na rua em frente à igreja
Domingo (13) Vila Oliva – 15h
Local: Na rua em frente à igreja
19/02 - Vila Cristina- 15h
Local: Campo de futebol
20/02 - Forqueta – 10h
Local: Rua lateral da praça da igreja
20/02 - Desvio Rizzo – 15h
Local: Entorno da lagoa
26/02 - Vila Seca – 15h
Local: Em frente à igreja
27/02 - Ana Rech – 10h
Local: Praça
04/03 – Paralimpíada Colonial - 14h
Local: Enxutão
06/03 – Final dos Jogos – 10h
Local: Praça Dante (em frente à Catedral).