O cinema gosta de explorar potencialidades da metalinguagem. No caso de Sibyl, drama psicológico francês que estreia nesta quinta (11) na Sala de Cinema Ulysses Geremia, a protagonista encontra seus próprios demônios flertando com duas vertentes artísticas potentes. Estão presentes na narrativa a literatura (a protagonista está escrevendo um livro), e o próprio cinema (boa parte da história é ambientada num set de filmagem). Soma-se a isso a particularidade de Sibyl (vivida por Virginie Efira) ser psicóloga e acabar se deixando envolver pelas histórias contadas por uma paciente. Tudo isso resulta numa atmosfera inebriante, na qual a realidade, a ficção e a memória formam um combo lisérgico e perigoso.
Sibyl é apresentada ao espectador como uma psicóloga bem sucedida que retoma uma paixão do passado: a escrita. Para isso, ela decide dar um tempo no trabalho e se dedicar à produção de um livro. Neste mesmo período, Sibyl acaba aceitando atender uma paciente que a procura com urgência. É Margot (Adèle Exarchopoulos, conhecida pelo polêmico Azul é a cor mais quente), uma atriz que se encontra bastante desequilibrada emocionalmente por conta de uma gravidez inesperada, fruto de um relacionamento com um colega de profissão comprometido. A atriz e o pai da criança estão participando das gravações de um longa e a pressão contida nesse ambiente parece dificultar as coisas para Margot, que se torna cada vez mais dependente de Sibyl.
Enquanto tenta criar suas personagens na literatura, Sibyl acaba deixando a ética profissional (como psicóloga) de lado e passa a utilizar Margot como fonte para suas histórias. Paralelo a isso, a protagonista remexe em memórias que envolvem o doloroso fim de uma paixão tórrida, o desenvolvimento de um vício, problemáticas relações familiares e até mesmo a chegada inesperada de um bebê. Aqui vale um alerta: espectadores que não gostam de filmes que vão e voltam do passado para o tempo atual com frequência correm o risco de não curtirem o estilo narrativo da produção.
A mulher decidida e corajosa apresentada no início do filme vai abrindo espaço para uma sensação cada vez mais forte de desnorteio, como se Sibyl ainda não tivesse encontrado seu lugar no mundo. Tudo piora quando ela aceita o convite de Margot para acompanhá-la no set de filmagem onde está trabalhando. As cenas que envolvem esse momento “cinema dentro do cinema” foram gravadas na paradisíaca ilha de Stromboli (que evoca a memória cinematográfica do filme de Roberto Rossellini). A diretora, no entanto, disse ter escolhido o lugar por conta de sua beleza quase “irreal”, que confunde a personagem envolta pela ficção.
Num momento derradeiro de Sibyl, a protagonista se desespera ao se dar conta de que “não faz parte de nenhuma realidade”. A constatação poderia render um paralelo sempre bem-vindo com o mundo contemporâneo de rostos e cenários inventados por filtros de Instagram, por exemplo. Para Sibyl, a questão é muito mais emocional do que estética, e essa delicada investigação sobre o que é real conduz o molho mais saboroso do filme.
Programe-se
- O quê: estreia do longa francês “Sibyl”, de Justine Triet.
- Onde: na Sala de Cinema Ulysses Geremia (Rua Luiz Antunes, 312), em Caxias.
- Quando: estreia nesta quinta (11) e fica em cartaz até o dia 21 de novembro, com sessões de quinta a domingo, sempre às 19h30min.
- Quanto: R$ 5 (estudantes, idosos e servidores) e R$ 10 (geral).
- Duração: 1h40min.
- Classificação: 16 anos.