Opção de todo verão para famílias com crianças em casa, as colônias de férias passaram a ser ainda mais procuradas em meio à pandemia. Isso porque, após um ano em que na maior parte do tempo as escolinhas estiveram fechadas – o que obrigou os pais a manter os filhos em casa – brincar e ter contato com outras crianças se tornou ainda mais urgente. Por outro lado, para os diversos espaços dedicados a receber o público infantil em Caxias do Sul, que ao longo das últimas semanas deram início às suas atividades de férias, poder atender os pequenos com a segurança necessária e atendendo aos protocolos sanitários tem sido um desafio.
No espaço educativo Na Ponta do Lápis, no bairro Lourdes, a colônia de férias é a vitrine para atrair novas crianças para as atividades de contraturno escolar desenvolvidas ao longo do ano. O foco, segundo explica a pedagoga Daniela Aline Finimundi, é trabalhar o desenvolvimento através das linguagens artísticas, como o teatro, a música, a dança, a pintura e a contação de histórias.
Desde o último dia 4, a equipe recebe crianças de dois a 10 anos para tardes de muito estímulo à criatividade, sem descuidar do coronavírus.
– Seguimos e criamos diversas regras. Os adultos não sobem, as crianças trocam de calçado ao chegar, medimos a temperatura. Fora os cuidados que já se tornaram habituais, como a máscara, o álcool gel e o distanciamento. Acho que as crianças devem sonhar com a minha voz, de tanto que chamo a atenção para esses cuidados (risos). Mas elas são a parte mais fácil de trabalhar, são muito compreensivas – conta Daniela.
A pedagoga ressalta que um dos focos do trabalho é estimular a partilha e o relacionamento entre as crianças, um fator prejudicado pela pandemia, mas que gerou novas dinâmicas de convívio:
– Uma das regras é que os brinquedos sejam colocados em caixas separadas. No início a gente achou que as crianças não iam gostar disso, porque elas gostam de compartilhar, de trocar o brinquedo com o colega. Mas fomos surpreendidas, porque elas acabaram gostando muito. Criou nelas a expectativa do que a profe vai colocar dentro da caixa pra eles brincarem naquela semana. É incrível como elas sempre dão um jeito de dar a volta na confusão e transformar em brincadeira.
Também no bairro Lourdes, a academia infantil Happy Kids, que oferece atividades físicas e práticas esportivas para auxiliar o desenvolvimento físico, motor e cognitivo, iniciou na última segunda-feira a sua colônia de férias, para crianças de cinco a 11 anos. A sócia-proprietária Nicolle Demari Rossi conta que a pandemia impediu a realização da colônia no inverno, e também das festas na piscina, outro atrativo do espaço inaugurado em 2019. Para a colônia de verão, que seguirá até 12 de fevereiro, as vagas estão concorridas. Principalmente porque, além de cumprir as exigências sanitárias, a Happy reduziu o limite de crianças no espaço, de 40 para 15 por dia.
– O primeiro momento da pandemia nos deixou tão receosos quanto os pais, afinal, estamos lidando com os filhos dos outros. O maior medo era que nossa escola fosse um centro de transmissão. Hoje sinto que os pais estão mais preocupados com o que aconteceu com os seus filhos ao longo do último ano. Crianças que ficaram muito tempo em casa, que perderam a energia, que abusaram do uso de aparelhos eletrônicos. Querem que o filho recupere esse tempo perdido e volte logo a praticar uma atividade física. Mas também há os que seguem mais preocupados com o vírus, especialmente aqueles que têm os avós ou pessoas com comorbidades em casa – avalia Nicole.
Para os proprietários da Park Festa & Folia, parque de diversões infantis no bairro Floresta, Luiz Fernando Pez e Cleane Coelho, realizar a colônia de férias no verão pandêmico está sendo um desafio. Menos crianças, algumas brincadeiras a menos, como a caça ao tesouro na piscina de bolinhas e o desfile à fantasia, lanches que passaram a ser servidos em combos individuais. Segundo Pez, são cuidados que refletem uma aceitação positiva dos pais nos primeiros dias:
– As famílias reconhecem que os filhos precisam gastar energia, e que é possível proporcionar a eles um momento de diversão com segurança. Para nós ficou evidente que as crianças seguem muito mais os protocolos do que os adultos, porque tudo o que elas querem é brincar.
Pez critica a demora do governo estadual e da prefeitura em liberar a abertura de espaços de recreação infantil, que na maioria do tempo estiveram fechados, enquanto outros segmentos tidos como não essenciais puderam abrir suas portas:
– Com respeito aos protocolos, dá para trabalhar. As crianças querem, os pais precisam. Vamos sair dessa pandemia com grandes aprendizados de higiene e de segurança, mas também com a noção de que a diversão é fundamental para a saúde mental e também é saúde –destaca o proprietário.
A colônia vai à colônia
Tradicional colônia de férias realizada pelo Sesc Caxias do Sul, o projeto Brincando nas Férias não irá ocorrer esse ano. De acordo com o técnico em esporte e lazer da entidade, Cassiano Somensi, a entidade avaliou que não teria estrutura para oferecer o serviço com segurança no cenário de pandemia. Como alternativa, surgiu o Partiu Natureza, que irá oferecer a princípio dois passeios para meninos e meninas de seis a 12 anos. O primeira será na próxima quarta-feira (20), o segundo no dia 3 de fevereiro (também uma quarta).
O Sesc irá levar até 20 crianças até a Colônia Muraro, propriedade rural e espaço de recreação no interior de Flores da Cunha. No local, será servido almoço e lanche, e as crianças irão fazer duas trilhas temáticas com contação de histórias, passear de carretão pelos parreirais, pisar a uva, brincar de carrinho de lomba, entre outras atividades para gastar a energia acumulada.
O investimento é de R$ 150 (R$ 130 para associados) e inclui transporte, acesso ao parque, almoço e lanche e uma camiseta. A saída será às 9h30min. Cassiano destaca que novas datas podem ser abertas entre fevereiro e março:
– É um passeio que em anos anteriores fazíamos com os adultos, mas que neste ano surgiu a possibilidade de realizar com as crianças. Tomaremos todos os cuidados, os pais só precisam levar os filhos até o Sesc, com suas máscaras. É uma primeira experiência, que podemos vir a repetir.