Assim como a maior parte dos colegas da classe artística, o acordeonista Rafael De Boni teve todos os planos profissionais adiados por conta da pandemia. Quando a notícia da doença se alastrou, aliás, ele estava no Estados Unidos, onde pretendia ficar um mês em turnê. Ao retornar para casa, sem o dinheiro que ganharia com as apresentações e sem a perspectiva de retomar atividades, o músico ainda deparou com críticas desanimadoras nas redes sociais .
– Tinha aquela onda assim: “a gente precisa de médico e enfermeiro, não de artista”. Eu levei um primeiro choque, mas depois eu pensei, não vou admitir que ninguém, em lugar nenhum, diga que minha profissão não é importante – lembra De Boni.
Foi com essa ideia em mente que o acordeonista bolou uma série de vídeos financiada pelo edital FAC Digital - RS. Nos trabalhos, gravados de forma bem caseira, De Boni explorava histórias e sons de alguns ritmos sob a perspectiva do acordeom. Os seis vídeos fizeram sucesso nas redes – ainda estão disponíveis no Facebook do artista – e animaram o músico a continuar. Com o apoio do amigo Luciano Balen, ele então formatou mais uma série audiovisual, Causos e Gaitas, que estreia nas redes do Festival Música de Rua nesta quarta (18). Nela, De Boni vai ao encontro de figuras importantes – e cativantes – para a cultura regional. A primeira temporada do projeto tem cinco vídeos e conta com participações do violeiro Valdir Verona, parceiro musical de longa data de De Boni; do trovador Jorge Boca de Sino (Jorge Rodrigues), um dos responsáveis pela tradicional festa de Ternos de Reis; do gaiteiro Gilney Bertussi, filho de Adelar Bertussi e habitante dos palcos de baile desde muito jovem; e do também gaiteiro Paulo Siqueira, lenda viva do instrumento, criador do conjunto Velha Porteira e parceiro de Honeyde Bertussi.
– São pessoas importantíssimas e esse trabalho acaba soprando uma fagulha para que esses entrevistados se sintam valorizados. A origem da música serrana passou por ali – explica De Boni.
As visitas – todas realizadas respeitando as normas protocolares de segurança – envolveram algumas palhinhas musicais, e muitas histórias que ajudam a construir o mosaico da identidade cultural serrana. Entre elas está, por exemplo, o relato de Siqueira sobre o dia em que decidiu ser artista, aos sete anos, quando tocou sua gaitinha na janela de casa e chamou atenção de um carreteiro que passava.
– Conseguimos filmar ele tocando hoje, na mesma janela, na Mulada. Foi de chorar. Também visitamos a coxilha onde o Fiorovante Bertussi fazia a serenata para a Dona Juvelina. Ali, há 100 anos, ele conquistou ela e se iniciava a família Bertussi – anima-se De Boni.
Difícil foi resumir todo o peso histórico dos relatos nos 10 minutos que cada episódio tem. Os vídeos ficarão disponíveis de forma permanente nas redes do Festival Música de Rua e existe a intenção em dar continuidade ao projeto com uma nova temporada e até com shows, quando a pandemia der trégua.
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