O conteúdo da seção Casa & Cia é produzido pela jornalista Alessandra Rech, quinzenalmente, especialmente para o Pioneiro (palavrear@gmail.com).
Uma das edificações mais memoráveis de Caxias do Sul, o Palacete Eberle abriu as portas em setembro, para o público que aprecia a alta gastronomia. Residência de Abramo Eberle, ícone da metalurgia na cidade (1880-1945), teve inspiração nas obras renascentistas italianas, com projeto arquitetônico encomendado, na época, ao escritório Barcellos&Cia, de Porto Alegre, e execução do engenheiro e construtor caxiense Silvio Toigo.
A escolha por um espaço tombado pelo Patrimônio Histórico do Município implicou em um trabalho de restauro para preservar ao máximo as características originais da construção, que teve início em 1938. A tarefa ficou ao encargo da arquiteta caxiense radicada em Porto Alegre Adriane Bedin. Formada pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Adriane atua há 13 anos na área e possui experiência em projetos de imóveis tombados.
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Na primeira fase das obras, o foco foi na instalação da cozinha, que ocupa o porão, onde estavam os aposentos dos empregados da família e uma sala de jogos. Era importante realizar ajustes na parte operacional, permitindo que o restaurante funcionasse. Nessa adequação, foi necessária a fixação de uma coifa, que demandou um trabalho maior, uma vez que o pé-direito é baixo e a sua tubulação foi transferida para a área externa, da forma horizontal e não vertical, como é feito usualmente. Para isso, foi preciso realizar uma perfuração na parede com equipamentos adequados e tendo o cuidado de não comprometer a beleza da fachada.
As obras incluíram a substituição de toda a fiação elétrica, anteriormente emborrachada e envolta em tecido e com capacidade de carga para uso somente residencial. Com vistas à preservação, foram mantidos os espelhos originais das tomadas e interruptores. A maior dificuldade nesse quesito foi a espessura da tubulação existente, que é mais fina em comparação com as utilizadas hoje. A parte hidráulica que, por sua vez, já havia sofrido uma grande modificação, foi adaptada ao novo uso e, também, foram amenizadas as intervenções anteriores, para manter a harmonia na estrutura.
Os pisos internos e as escadas de acesso à casa foram restaurados. As placas de madeira passaram por raspagem e aplicação de resina transparente para proteção e conservação. Os mármores e granitos foram submetidos à lapidação, por meio de pastilhas diamantadas com granulações diferentes, para polimento. Os ladrilhos foram decapados e houve a restauração entre as peças. A escada de acesso secundário e a do porão, em granitina branca, também foram decapadas e houve a reposição fiel das peças danificadas, utilizando o mesmo material e coloração. Na última etapa, os pisos receberam aplicações de impermeabilizantes adequados, para não modificar a aparência original.
O segundo pavimento abriga uma pequena capela, na qual as imagens sacras esculpidas em madeira e gesso policromado, por volta dos anos 1940, assinadas pelo Atelier Zambelli, passaram por um processo de higienização. Para tal, foram necessárias intervenções mecânicas e químicas, reintegrações pictóricas reversíveis pontuais nas esculturas e aplicação de camada protetiva. Já o altar passou por higienização e douramento da pintura, trabalho executado pela técnica conservadora Juliane Petry Panozzo Cescon. O espaço, antes destinado aos dormitórios e a varanda, passará a ser ocupado como área para serviços gastronômicos.
Além da abertura deste andar, em uma próxima etapa os banheiros, com móveis já restaurados, serão abertos ao público. Também serão restaurados, de acordo com a necessidade, as portas esculpidas no Liceu de Artes e Ofícios, em São Paulo, e os requintados lustres. Da mesma forma que na fachada, os frisos, as pilastras, os medalhões em relevo e o suntuoso trabalho de ferro forjado na grade da porta principal, com o “A” de Abramo, serão limpos e submetidos a produtos que agem na extração das pichações. Essa fase já está em andamento e muitos trabalhos serão feitos no decorrer do uso do imóvel, pois demandam muito tempo para execução e mão de obra especializada, como a restauração das paredes que imprimem as pinturas afresco do artista italiano Menegotto, que residia em Caxias do Sul na época. O mesmo ocorre com os vitrais nas janelas e no teto, executados pelo atelier dos Irmãos Conrado, na capital paulista.
Em um primeiro momento o térreo – onde se localizava a cozinha, as salas de jantar, íntima e de estar, nas quais a família recepcionava visitantes ilustres, principalmente durante as Festas da Uva, e a capela poderão ser conhecidos pelos visitantes.