Um fotógrafo depara com um grupo de representantes da comunidade LGBTQ+ durante cortejo de bloco do Carnaval caxiense. Cores fortes, glitter e muitas poses conduzem o registro. Nada de especial até aí, certo? Mas para Mario André Coelho, o fotógrafo em questão, uma reflexão ficou martelando a cabeça em meio à folia sempre democrática de fevereiro.
– Eu fiquei pensando: “como será que essas pessoas são em casa, tipo, tomando chimarrão com a mãe ou algo assim?” e foi aí que surgiu a ideia da exposição – comenta, sobre a mostra Em Nome de Todxs, atração desta quarta (29) no Centro de Cultura Ordovás, durante programação do Dia Nacional da Visibilidade Trans.
As 32 fotos da mostra (apenas metade delas estarão em Caxias, a outra parte está exposta em Porto Alegre) foram registradas em 2016 e são resultado do contato do fotógrafo com pessoas ligadas à luta pelos direitos da comunidade LGBTQ+, como a advogada Mônica Montanari e a presidente da ONG Construindo Igualdade Cleonice Araujo. Foi por meio da ONG, aliás, que o fotógrafo conseguiu acessar os universos particulares de várias pessoas trans de Caxias. A ideia era lançar olhar aos aspectos mais humanos e domésticos da vida de cada uma delas.
– A intenção era dar visibilidade a essas pessoas indo além do estereótipo – conceitua Mario André.
Perseguindo esse objetivo, o fotógrafo decidiu que os retratos deveriam ser feitos em preto e branco – na contramão da estética geralmente muito colorida que acompanha esses personagens, quando montados.
– Não queria distrair com cores berrantes – justifica ele.
A exposição retrata seis personagens emoldurados pelo aconchego do lar, pelo carinho de familiares, segurando seus pets ou simplesmente mirando as lentes despidos de qualquer vaidade ou persona imaginada. A mostra, lançada em 2016, já circulou por diferentes lugares do Brasil por meio da ONG Construindo Igualdade, cuja presidente, aliás, foi uma das personagens retratadas.
– As fotos foram pensadas para mostrar nosso dia a dia, que somos pessoas normais, que comemos, amamos e sonhamos como qualquer outra – comenta Cleonice, que está em Brasília nesta semana apresentando um projeto que incentiva a empregabilidade da população trans.
Nesta quarta, Em Nome de Todxs será atração em encontro que pretende, justamente, refletir mais sobre a situação das pessoas trans no país. Muito se avançou, mas há ainda um longo caminho para trilhar no país que, ano após ano, integra a lista dos que mais mata a população LGBTQ+. Não por acaso, o combate à violência é ainda a bandeira mais atual e urgente do movimento.
– Nesta quarta (hoje), será apresentado aqui em Brasília um mapeamento dos assassinatos das pessoas trans em 2019. Os jovens são a maioria, é muito triste. E quando falamos em violência, temos que lembrar também da violência que não é física. Muitas vezes, somos assassinados mentalmente – alerta Cleo.
Programe-se
:: O quê: roda de conversa sobre o Dia Nacional da Visibilidade Trans, comandada por integrantes da ONG Construindo Igualdade; e abertura da exposição fotográfica “Em Nome de Todxs”.
:: Quando: nesta quarta (29), às 19h. Visitação à exposição pode ser realizada até domingo (2 de fevereiro).
:: Onde: Centro de Cultura Ordovás (Rua Luiz Antunes, 312).
:: Quanto: entrada franca.
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