Volta e meia os filmes brasileiros são tratados pelo senso comum com o mesmo tom pejorativo das pornochanchadas. Estranhamente não se vê a mesma avaliação nas telenovelas, que por muitas vezes exibem mais sexo do que dramaturgia. Feito o registro, é com bons olhos que se vê o Estado de Pernambuco investir R$ 10 milhões no setor com recursos do Fundo de Incentivo à Cultura. Além do repasse de um aporte de R$ 15 milhões, do Fundo Setorial do Audiovisual, do governo federal.
Os apontamentos foram feitos por Gilbero Freyre Neto, que esteve na Serra, entre os dias 15 e 17 de maio, por conta do 3º Congresso Estadual de Cultura, realizado em Bento Gonçalves.
Para se ter uma ideia da abrangência e relevância do Funcultura Audiovisual, de Pernambuco. Cento e vinte e um projetos foram aprovados no 11º edital, de 2017/2018. Foram selecionados 18 (longas-metragens), 24 (curtas-metragens), 15 (Difusão), 14 (Revelando os Pernambucos), 21 (Produtos para TV), 13 (Desenvolvimento do Cineclubismo), 10 (Formação), 2 (Pesquisa), 1 (Preservação), 3 (Games). Além disso, por causa da suplementação orçamentária do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), do governo federal, outros 25 projetos foram contemplados, nas categorias longa-metragem e produtos para televisão.
Um dos projetos que recebe investimento público é Bacurau, o novo filme de Kleber Mendonça Filho, em parceira com Juliano Dornelles, que está entre os cotados para a Palma de Ouro, no Festival de Cannes deste ano. Os melhores filmes serão revelados na noite deste sábado, dia 25, na França. Tratado pela imprensa especializada como um "nordestern", ou seja, um western brasileiro com cheiro, cor e gente do sertão nordestino, o filme mostra um Brasil distópico e presta homenagem ao cangaço.
Bacurau custou R$ 8 milhões e foi realizado graças a coprodução Brasil e França, entre a Cinemascopio, produtora de Kleber e Emilie Lesclaux, e a SBS (de Saïd ben Saïd), responsáveis também por Aquarius, que disputou a Palma em 2016. Esses R$ 8 milhões foram distribuídos entre o investimento do Funcultura, do Estado de Pernambuco, patrocínio da Petrobras, Fundo Setorial do Audiovisual, Arte France Cinema, da França e aporte de orçamento do Telecine, Globo filmes e Canal Brasil.
Investir em Cultura, entende o governo de Pernambuco, é levar a vida do brasileiro para outros mares dantes nunca navegados. E de quebra, nesse caso, de Bacurau, poder dar ao cinema brasileiro sua segunda Palma de Ouro. A primeira, e ainda única, veio em 1962, com O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte.