A música talvez seja o elemento mais importante do filme polonês Guerra Fria, que estreia na Sala de Cinema Ulysses Geremia nesta semana. Não se trata de um musical, mas a narrativa criada pelo cineasta Pawel Pawlikowski conduz as atenções do espectador como se o colocasse dentro de um álbum completo, que canta o amor em diferentes faixas. Há desde o lamento gritado a capela até o swing do jazz a brilhar esperança por dias melhores. E se você escutasse esse álbum sem as imagens, certamente iria imaginar exatamente o que Guerra Fria mostra. A escolha pelo preto e branco e por uma fotografia cheia de sensibilidade – que dividiu com o espanhol Roma o favoritismo nessa categoria do Oscar – são justamente o que os olhos buscam para combinar com a trilha. Mas e se o encantamento com áudio e vídeo que o longa proporciona não forem o bastante para arrebatar quem está do outro lado da telona? Tudo bem, porque no meio disso há ainda uma dolorida e bela história de amor.
Amplamente premiado por seu filme anterior, Ida (2013), Pawlikowski repete a busca por um olhar essencialmente sensível sobre seus personagens. Em Guerra Fria, no entanto, ele troca a jornada de autoconhecimento da protagonista pela jornada de uma paixão. O roteiro, escrito pelo diretor em parceria com Janusz Glowacki, revela o amor entre Zula (Joanna Kulig), uma jovem e talentosa cantora, com um de seus professores, o pianista Wiktor (Tomasz Kot). A história entre eles é acompanhada do princípio ao fim, tendo como pano de fundo diferentes momentos históricos (o título do filme já dá essa dica) vividos por países como a Polônia, a Iugoslávia e a França, lugares onde os amantes se cruzam por diversas vezes. Como ela canta e ele toca, a música é elemento onipresente em toda a jornada, ambientada entre os anos de 1949 e 1964.
A presença da atriz polonesa Joanna Kulig é certamente uma das escolhas maios acertadas de Pawlikowski, que a coloca em cena sob o mesmo carinho estético das musas de filmes das décadas de 1940 e 1950. Mais conhecida por trabalhos na televisão, Joanna venceu o European Film Awards de 2018 como melhor atriz por sua performance em Guerra Fria. A voz belíssima e o rosto penetrante (olhos de Elizabeth Taylor e boca de Brigitte Bardot) ajudam a tornar a personagem Zula apaixonante.
Outra escolha que chama atenção é o formato quadrado da tela, em contrapartida ao widescreen geralmente usado em filmes de época. Esse enquadramento valoriza ainda mais a criatividade do diretor para compor cada quadro com os elementos certos, que montam um mosaico estético dos mais bonitos feitos pelo cinema recente.
Programe-se:
:: O quê: drama polonês Guerra Fria, de Pawel Pawlikowski.
:: Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia, no Centro de Cultura Ordovás (Rua Luiz Antunes, 312).
:: Quando: estreia nesta quinta (4) e tem sessões até domingo, depois, nos dias 13 e 14, sempre à 19h30min.
:: Quanto: R$ 10 (geral) e R$ 5 (estudantes, idosos e servidores municipais).
:: Duração: 88min.
:: Classificação: 14 anos.
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