CORREÇÃO: o valor cobrado para acesso ao Grutão dos Índios, em Santa Lúcia do Piaí, é R$ 8, e não R$ 5, como divulgado inicialmente nesta matéria. A informação já foi corrigida.
Opção para curtir a natureza e se refrescar, as cachoeiras são parte pouco comentada das belezas naturais da Serra. Em diversas cidades como Canela, São Francisco de Paula e Farroupilha, muitas são as quedas d'águas procuradas por visitantes de todo o Brasil, desde aventureiros profissionais até os passeadores de final de semana. Em Caxias do Sul, onde os balneários públicos são escassos, o interior reserva cascatas e cachoeiras que em nada perdem para destinos mais procurados como o Salto Ventoso, em Farroupilha, ou o Parque das Cascatas, em Lajeado Grande, São Francisco de Paula.
Ao longo da última semana, a reportagem do Almanaque visitou quatro cachoeiras relativamente "escondidas" no interior caxiense (que nos entendam os ecoturistas mais assíduos): a Cascata dos Molin, em Vila Seca; o Grutão dos Índios, em Santa Lúcia do Piaí; a Cachoeira do Rio da Mulada, em Criúva; e a cachoeira da Gruta de Nossa Senhora de Lourdes da Terceira Légua. Além de revelarem o espetáculo da natureza, são cascatas e grutas que ajudam a contar a história da região e dialogam com a religiosidade que é uma das marcas da Serra.
Com diferentes tempos de percurso e dificuldade de acesso a partir das suas trilhas desenhadas na mata, todas têm em comum a vista recompensadora após se desbravar o caminho. Há opções que permitem acampar com ou sem pagamento de taxas (dependendo da propriedade ser pública ou privada) e algumas com restrições de banho. Tudo está explicado a seguir.
Aventura e religiosidade
Gruta Nossa Senhora de Lourdes (ou Cascata da Terceira Légua)
Travessão Santa Rita (Terceira Légua) em Caxias do Sul
Queda de 60 metros
Para chegar à cascata da gruta de Nossa Senhora de Lourdes da Terceira Légua, percorre-se 16 quilômetros desde o centro de Caxias do Sul, pela Estrada do Imigrante. Ao adentrar o pequeno parque que serve de acesso à gruta, o visitante desde uma escada de 150 degraus (cada um corresponde a uma oração do rosário), que poderá se revelar um pequeno problema para os joelhos na hora de subir. Mas nada grave. Após caminhar por uma trilha de aproximadamente 15 minutos pela mata nativa até o pé da cascata — bem sinalizada por pequenas placas presas às árvores — a paisagem que se revela compensa cada gota de suor.
Das pedras que circundam o poço, observa-se uma imponente formação rochosa de 60 metros de altura. Ao mesmo tempo em que a queda d'água alegra os olhos, o barulho da água batendo nas pedras de basalto é música para os ouvidos. Um convite a relaxar sozinho ou acompanhado contemplando a beleza e a história de um dos pontos mais bonitos da cidade. Contudo, convém ficar atento às condições climáticas. Sob a menor ameaça de chuva, convém ir embora, pois o caminho pode ficar escorregadio e perigoso.
Descoberta nos anos 1940 por caçadores que frequentavam a região, a gruta serve de abrigo à capela inaugurada em 1949. Há 70 anos, os moradores da Terceira Légua se reúnem no segundo domingo de cada mês para a celebração religiosa, dia em que a visitação à cascata é proibida, assim como a prática de rapel e escalada (o local está entre os preferidos de muitos praticantes destes esportes). Nos demais dias, a visitação à gruta e à cascata é permitida e gratuita, havendo inclusive um bar na entrada do parque para garantir o lanche.
Beleza imbatível
Cascata dos Molin
Próximo a Ana Rech, em Caxias do Sul
Queda de 50 metros
Foi opinião unânime entre a equipe que produziu esta reportagem: a queda d'água mais bonita de Caxias do Sul fica no distrito de Vila Seca e atende por Cascata dos Molin. Este pequeno paraíso fica numa localidade chamada São Gotardo, a apenas sete quilômetros do centro do bairro de Ana Rech. Uma peculiaridade é a possibilidade de vislumbrar a queda d´água de 50 metros de altura passando por trás dela, percorrendo um caminho bem acessível entre as pedras. mais bonita, contudo, é a paisagem que se revela aos poucos, conforme se desce pela trilha traçada por entre as árvores. E apenas ao final do caminho contempla-se de frente a cascata e o poço em toda a sua exuberância.
Para quem gosta de trilhas longas e de alto grau de dificuldade, a Cascata Molin pode ser um pouco decepcionante, é verdade. A caminhada até a base da cachoeira é curta e não reserva maiores emoções, o que a torna ainda mais indicada para quem só busca um bom passeio para desopilar sem se afastar muito da cidade (a cascata fica a 27 quilômetros do centro de Caxias). Aventura maior pode ser a de encontrar a entrada da trilha. Sem uma sinalização específica que ajuda a levar à cascata, a dica é usar o dom da comunicação e perguntar aos moradores das proximidades, que são acostumados a indicar o caminho.
A visitação é gratuita e permanente, mas não há camping, nem estacionamento próximo. Para quem for de carro, é possível deixar o veículo em um recuo da estrada próximo à entrada da trilha.
Antigo refúgio dos índios
Grutão dos Índios
Distrito de Santa Lúcia do Piaí, em Caxias do Sul
Queda de 40 metros
Local rico em beleza e história, o Grutão dos Índios fica em Santa Lúcia do Piaí, Caxias do Sul, a sete quilômetros da sede do distrito e a 16 quilômetros de São Luiz da 6ª Légua. O aumentativo não é por acaso. A gruta que servia de morada temporária para os índios caingangues, principalmente na época de colher pinhões, impressiona por suas dimensões: 50 metros de largura por 30 metros de altura e uma fenda de 10 metros de profundidade. A paisagem se completa por uma queda d'água que forma um poço de dimensões generosa. Por ter cinco metros de profundidade e pedras escorregadias, não é recomendado o banho neste local. Em outras áreas mais rasas, possíveis de serem acessadas caminhando sobre as pedras, é mais tranquilo entrar na água.
A trilha que leva até a base da cachoeira é bastante íngreme, mas não chega a ser perigosa. Convém, é claro, levar calçados adequados, além de repelente. A caminhada pode ser feita em 15 minutos, com segurança. O local é bastante frequentado por ciclistas e praticantes de rapel, além grupos de amigos e famílias que aproveitam o final de semana para curtir o visual. Há uma área para acampar com alguma infraestrutura, como mesas, bancos e algumas churrasqueiras. Por ser uma propriedade privada, é preciso pagar taxa de R$ 8 por pessoa para a visitação.
Meca do ecoturismo
Cascata do Rio da Mulada
Distrito de Criúva, em Caxias do Sul
Queda de 80 metros
Distrito mais distante da sede de Caxias do Sul, Criúva é um dos lugares mais ricos para o ecoturismo na região. Além das belas vistas que se pode ter ao visitar a Ponte do Korff e o Cânion Palanquinhos, a Cachoeira do Rio da Mulada é outro de seus pontos turísticos mais extraordinários. Localizada próximo à vila de São Jorge da Mulada, nas terras onde nasceram e se criaram os famosos músicos tradicionalistas Honeyde e Adelar Bertussi, a cachoeira tem 200 metros de extensão e pode ser admirada por diversos ângulos.
O caminho pelas pedras que leva até a base da cachoeira requer alguma habilidade para ser percorrido, mas a aventura está longe de ser considerada perigosa. É só ter cautela na travessia. Ao final, o trajeto oferece uma visão mágica da queda d´água de 80 metros de altura.
Um balneário próximo permite acampar e oferece diversas opções de lazer, além de uma vista da cabeceira da cachoeira. A taxa para acampamento custa em torno de R$ 10. Contudo, em março a família Bertussi irá retomar a posse da terra dos atuais locatários, para trabalhar na reestruturação do local visando a próxima temporada de verão. De acordo com Samantha Bertussi, filha de Adelar, a intenção é oferecer o local para práticas de turismo de aventura, mas com uma proposta diferente e uma estrutura mais adequada do que a atual. Visitantes que queiram curtir a cascata ainda neste verão,devem se programar para ir neste final de semana ou no próximo.