Ficar horas de estômago vazio pode ser sinônimo de pesadelo para algumas pessoas. Para outras, é uma questão de adaptação e conhecimento do próprio corpo e das suas necessidades fisiológicas. Apesar de não ser considerada uma ideia recente, o jejum intermitente vem ganhando adeptos e, assim como qualquer prática restritiva, gera opiniões divergentes entre os profissionais da área da saúde. A prática ficou mais conhecida depois de ser utilizada por famosas como a atriz Deborah Secco.
Mesmo que pareça uma ação simples - ficar sem comer durante um período - o método segue protocolos e deve ser rigorosamente acompanhado por um profissional. Também não é indicado para qualquer pessoa. Na prática, os intervalos de tempo sem alimentação variam entre 12 horas, 16 horas, chegando até 24 horas. O esquema é associado aos nossos ancestrais, que se alimentavam conforme a disponibilidade de alimentos.
— Primeiro de tudo é importante esclarecer que jejum intermitente é uma estratégia, não uma dieta. É um ato consciente e voluntário de não se alimentar em dias alternados ou em períodos específicos do dia. A escolha do protocolo vai depender muito do objetivo do paciente, do seu grau de adaptação e do seu histórico de saúde, e é importante que seja orientado e acompanhado por um profissional com experiência no assunto — explica a nutricionista Camila Dallavechia de Col, pós graduada em nutrição esportiva funcional.
A profissional explica que no período de jejum não estão descartados outros meios de nutrição: podem ser ingeridos líquidos como água, chimarrão, chás e café, desde que não sejam adoçados.
— No meu caso, foi uma questão de estética. Eu tinha uns quilos para perder e achei que o método se adequaria à minha vida. Para mim, a comida era uma droga, como o cigarro, o álcool. Não funcionava comer de três em três horas. Eu chego a ficar 20 horas em jejum — relata a empresária Roseana Pettinelli, 52 anos, que está praticando jejum há cerca de três meses.
Além de entender o método e os seus protocolos, é extremamente essencial saber que existem benefícios e malefícios em restringir a alimentação durante muitas horas.
– Como resultados positivos pode-se citar que há melhora da sensibilidade à insulina, redução de gordura corporal e retardo do processo de envelhecimento. Pode trazer malefícios caso não orientado, pois a qualidade alimentar precisa ser mantida no período alimentado. A prática do jejum acompanhada de refeições pobres em vitaminas, minerais, fibras e antioxidantes pode gerar deficiências nutricionais importantes para o funcionamento do metabolismo — aponta Camila.
O jejum intermitente é contraindicado para crianças, pessoas que estão abaixo do peso, gestantes, mulheres que estão amamentando, quem tem tendência à compulsão alimentar e pacientes que fazem uso de medicações (principalmente para o controle de diabetes).
— Não é para todo mundo e não é uma estratégia essencial, ela é só mais uma das alternativas para atingir os objetivos, sejam eles estéticos ou de saúde – observa a nutricionista.
Escolha consciente
O personal trainer Rogério Junior da Rosa, 28 anos, iniciou o jejum intermitente há cerca de dois anos na busca de um estilo de vida mais saudável, segundo ele. O profissional de Educação Física alterna entre dois métodos: 12 ou 16 horas sem comer e garante que não tem influência negativa sobre o desempenho nas atividades físicas. A prática é realizada com acompanhamento de um nutricionista.
— A minha família tem um histórico de doenças, principalmente câncer. Comecei me interessar por métodos preventivos e encontrei uma terapia que, basicamente, acredita que o jejum é capaz evitar doenças. Iniciei a prática pelo fator da saúde, a estética foi uma consequência – explica o profissional de Educação Física.
A última refeição do personal trainer é, geralmente, às 18h. Depois disso, ele volta a se alimentar somente às 10h do dia seguinte. No período em que fica em jejum, Junior só ingere líquidos como chá e café preto.
— Eu abro uma janela de alimentação de 8 horas diárias. Não é tão difícil, porque boa parte do tempo em que fico em jejum eu estou dormindo. O que eu mais tive dificuldade no início foi na vontade de comer, e não a fome.
Além de ter que conhecer melhor o próprio corpo e saber distinguir a vontade com a necessidade de se alimentar, Junior conta que teve que enfrentar a resistência de muitas pessoas, principalmente dos mais próximos.
— Antes meu prazer era comer, até pela nossa região, esse comportamento é muito cultural. E às vezes, a crítica vem da própria família. Quando você recusa uma comida, é como se fosse uma desfeita. É uma resistência bem grande. Por isso, tem que cuidar para não ser antissocial. Tem que saber equilibrar — reforça.
"Em humanos, só há comprovação em relação ao emagrecimento", diz
A médica Luciana Lopes de Souza, especialista em Endocrinologia e Metabologia pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), destaca a necessidade de estudos mais detalhados em humanos, com tempo prolongado, para que se possa esclarecer os malefícios e benefícios do jejum intermitente.
— Em humanos, só há comprovação científica da eficácia em relação ao emagrecimento, que é similar a uma restrição calórica contínua. Em relação ao benefícios que não estejam relacionados ao emagrecimento, existe um racional, que se justifica em estudos em modelos animais, que pelo processo de cetose, pode diminuir a frequência de algumas doenças; além de ter um efeito nos neurônios de neuroproteção, e de poder promover um aumento de longevidade — explica.
A endocrinologista também reforça o alerta de que pessoas com propensão a desenvolvimento de transtornos alimentares devem descartar a prática.
— Os estudos de jejum intermitente e risco de transtornos alimentares ainda são controversos, uns demonstraram aumento de chance e outros não. Assim, os pacientes com história ou fatores de risco para transtornos alimentares não devem realizar o método — reforça a endocrinologista.
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