A primeira visita de Thiago Ramil a Caxias do Sul foi uma experiência a ser esquecida. Era agosto de 2016, um dia muito chuvoso e que coincidiu com a final do vôlei masculino nas Olimpíadas do Rio, dois fatores que contribuíram para que o público para assistir o cantor e compositor na Associação Cultural Paralela fosse muito pequeno. Amanhã, quando volta à cidade mais uma vez à convite da Paralela, para apresentação no Zarabatana Café Bar, a expectativa do músico, que busca financiamento coletivo para finalizar o seu segundo álbum, Em Frente, é bem diferente.
Vencedor do Prêmio Açorianos de 2016 como Revelação e Melhor Intérprete, e indicado ao Latin Grammy de Melhor Álbum Pop naquele mesmo ano pelo seu primeiro trabalho, Leve Embora, a carreira de Thiago, aos seus 28 anos, decola na medida em que ficam para trás as alusões à família musical em que nasceu. Embora considere o trabalho dos tios Kleiton, Kledir e Vitor Ramil uma referência, tanto quanto a música do seu primo Ian Ramil, o filho da Katia e irmão da Gutcha destaca que as vivências pessoais, que transbordam em suas composições, refletem e ajudam a diferenciar a sua obra – algo que ficará mais evidente no disco em gestação.
– Comecei a trabalhar como psicólogo num abrigo para menores em Porto Alegre, e é um privilégio poder trazer para a música vivências e percepções que eu não teria na vida artística. Existe essa questão das pessoas compararem os Ramil, e é claro que há semelhanças, mas as experiências de vida de cada um são muito diferentes. E isso está muito relacionado à composição. Muito por conta do que vivo agora, o segundo álbum será bem menos lírico e mais desconfortável, menos abstrato e mais concreto. Vem de entender a música como uma ferramenta política muito abrangente, que permite tocar em temas que a população muitas vezes não toma conhecimento – analisa.
Da mesma forma que a experiência de vida reflete suas letras e a intenção das músicas, a opção por realizar o segundo álbum através de financiamento coletivo (o primeiro foi lançado pelo projeto Natura Musical) vem da crença em resgatar valores de coletividade não apenas como uma forma de fortalecer a arte, mas também para combater uma sociedade cada vez mais individualista:
– O financiamento é um dispositivo importante para a cena independente, mas também dialoga bem com o movimento de voltar a ser coletivo. Hoje todo mundo é muito voltado para si, e aos poucos as coisas vão se desmantelando. Esse formato resgata a importância de realizar coisas juntos. Era uma vontade antiga minha, e que tem a ver com a temática do álbum, “Em Frente”, de enfrentar o mainstream da cultura fazendo uma nova frente. Tem essa duplicidade.
Thiago virá a Caxias sem a banda que o acompanha na gravação do disco. Mais intimista e com a particularidade da contribuição espontânea, o show terá o músico em versão “banda de um homem só”, com violão e alguns pedais de looping (que gravam e reproduzem uma batida criada na hora).
– Por ser um show que já tem um cachê, que garante alguma estabilidade, a gente pensou nesse formato de poder passar o chapéu, para que as pessoas pensem um pouco na dinâmica do financiamento e na importância delas serem um agente desse processo coletivo.
Programe-se:
O quê: show com o cantor Thiago Ramil
Quando: amanhã, às 21h
Onde: no Zarabatana Café Bar (Rua Luiz Antunes, 312 - Centro de Cultura Ordovás)
Quanto: entrada gratuita (contribuição espontânea).
Teatro
Além do show, Thiago também irá participar do espetáculo Contos de Falta, da Cia. Municipal de Dança, sábado e domingo, na Casa da Cultura. A peça tem músicas do seu álbum de estreia como trilha sonora.