O primeiro sábado do 45º Festival de Cinema de Gramado teve programação intensa, começando pela repercussão dos filmes da noite de sexta, como é tradicional. Sem a presença de João Carlos Martins, que precisou viajar para um compromisso, a equipe do longa João, o Maestro contou detalhes sobre a produção. O diretor Mauro Lima revelou, por exemplo, que o fato de o cinebiografado estar vivo e ter frequentado o set inúmeras vezes foi super positivo para a produção. O diretor disse que manteve contato com o biógrafo do maestro, para quem solicitava histórias que, por ventura, tivessem sido omitidas pelo personagem principal.
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– Acabei escrevendo o roteiro antes da biografia ser lançada. Tudo que eu sentia que o João não estava me contando, eu ligava para o biógrafo. Tipo, aquela história dele correndo de cueca e sendo alvo de tiro no meio da rua, foi o escritor quem contou. O João ficou bem quietinho – relatou o diretor, sobre cena na qual o maestro tem um caso com uma mulher casada e é perseguido pelo marido traído.
Já na coletiva de O Matador, primeira produção original da Netflix Brasil, rolou pensata sobre o papel do herói, sobre violência e, claro, sobre as novas formas de consumir cinema.
– Além dos meus primeiros filmes, esse foi legal de fazer porque não tinha nenhum dinheiro de incentivo. O pessoal da Netflix me deu toda a liberdade para fazer o filme – disse o diretor Marcelo Galvão, anteriormente premiado em Gramado com o filme Colegas.
À tarde, o Palácio dos Festivais foi tomado pela Mostra Assembleia Legislativa, com apresentação de 10 curtas. Entre eles, o documentário Sena, Os Fios em Prosa, com co-direção do caxiense Marcelo da Rosa Costa. Destaque da tarde foi Secundas, de Cacá Nazario, registro de tirar o fôlego sobre as ocupações nas escolas de Porto Alegre.
À noite foi marcada pela entrega do troféu Eduardo Abelin ao animador gaúcho Otto Guerra. Depois de um vídeo cheio de depoimentos tão irreverentes quanto o próprio homenageado, Otto subiu ao palco emocionado para agradecer a honraria. Num discurso rápido, o cineasta falou sobre a situação do país, sobre a importância de Gramado em sua trajetória e destacou ainda a evolução da animação no Brasil.
– Quando comecei, ninguém sabia direito o que era animação, minha mãe nunca entendeu muito bem o que eu fazia (risos). Hoje, temos 25 longas de animação sendo produzidos no Brasil simultaneamente – festejou.
Outro momento aguardado da noite chegou com a primeira exibição do longa brasileiro Como Nossos Pais na telona do festival. No tapete vermelho, a diretora Laís Bodanszky conversou com o Pioneiro:
– Não é mais um filme. É "o" filme. Tem muita opinião minha, pesquisa minha, sentimentos meus. É especial até por isso escrevi junto com Luís Bolognese. Eu assino também o roteiro porque eu me senti à vontade para falar mais do universo interior da personagem.
O longa entra num debate muito contemporâneo ao acompanhar Rosa, mulher que tenta cumprir com todas as cobranças da sociedade, mas descobre que não conseguirá ser uma mulher perfeita. A protagonista, Maria Ribeiro, disse que a personagem fala muito dela mesma.
– A Rosa sou eu, você, todas as mulheres, não só brasileiras, mas do mundo todo, que conquistaram muitas coisas, mas que continuam ainda cuidando mais dos pais do que os filhos homens, cuidando dos filhos, cuidando da casa, e chega uma hora em que ela fala: "não, peraí, quem sou eu no meio de tantas funções onde eu sou coadjuvante? Eu quero ser a protagonista da minha vida, eu quero fazer diferente". Acho muito importante que o nosso cinema saia um pouco das grandes questões sociais da lente grande e vá pra dentro de casa, como o cinema argentino tem feito. A Laís Bondanzky faz isso magistralmente – comentou.