A adolescência é um lugar, desses visitados vez ou outra, independentemente da idade que se tem. E se conseguíssemos descrever esse lugar como um ambiente físico real, talvez ele se transformasse numa grande estrada de chão empoeirada onde o horizonte ao fundo parece sempre difícil de se desvendar.
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Esse é o clima do longa gaúcho Mulher do Pai, que estreia na sala Ulysses Geremia nesta quinta – com sessão comentada (leia mais abaixo). O filme, dirigido pela estreante em longas Cristiane Oliveira, se faz valer de uma competente ambientação no limite do Brasil com o Uruguai (o filme é uma coprodução) para referenciar as fronteiras do amadurecimento, os caminhos que conduzem até aquela metrópole distante chamada vida adulta.
A história acompanha uma família formada por uma idosa, seu filho cego e a neta de 16 anos. Eles vivem perto de uma pequena vila, um lugar de passagem composto por um mercadinho, uma escola, um boteco e a estação de trem. Dali, a menina Nalu (da estreante Maria Galant) mira o futuro sonhando com cidades grandes, amores e oportunidades. A primeira ruptura na história – descrita na própria sinopse do filme, então, não é spoiler, certo? – é a morte da avó, que sugere uma aproximação entre Nalu e o pai Ruben (Marat Descartes). A relação entre os dois transforma-se, então, no principal pano de fundo da história.
Depois da perda da vó, Nalu precisa assumir responsabilidades que não eram dela, como cuidar da casa e do pai dependente. A menina tenta agarrar-se a tudo que possa lembrá-la de que tem a vida inteira pela frente, como a amizade da melhor amiga e a paquera com um jovem que aparece na vila. Entretanto, com as descobertas dela também surgem novas formas de desamparo e abandono.
Para reforçar que Mulher do Pai não é um filme só sobre Nalu, o roteiro oscila diferentes pontos de vista: ora está nos olhos curiosos da menina, ora está na audição aguçada de Ruben. Um acompanha a vida do outro como se não se encaixasse nela. A aproximação de ambos com a professora de Artes Rosario (Veronica Perrotta) é o que sacudirá os rumos da história.
Filmado na região de Dom Pedrito, Mulher do Pai revela as cores e rostos das cidades do interior. Finca os personagens na beira de uma estrada, sugerindo que o amadurecimento pode estar justamente na decisão de seguir ou ficar. Afinal, como ensina Rosario a Nalu, “a fronteira é só um limite que o homem inventa”.
Programe-se
:: O quê: drama Mulher do Pai, de Cristiane Oliveira.
:: Quando: estreia nesta quinta e fica em cartaz até domingo, sessões às 19h30min.
:: Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia (Luiz Antunes, 312).
:: Quanto: R$ 10 e R$ 5 (estudantes, idosos e servidores municipais).
:: Extra: no dia 11, haverá sessão com legendas e audiodescrição ao valor R$ 2.
:: Classificação: 14 anos.
:: Duração: 94 minutos.
Sessão comentada
:: A equipe que filmou Mulher do Pai é quase 100% formada por mulheres. A diretora de arte Adriana Nascimento Borba, a produtora executiva e diretora de produção Gina O'Donnell e a produtora Nora Carús estarão em Caxias nesta quinta para debater peculiaridades da produção depois da estreia desta quinta.