Não conheço ninguém que goste de greves. Também desconheço se, por acaso, o ilustre Prefeito Municipal, quando bancário, precisou cruzar os braços para se solidarizar com seus colegas. Suponho que sim, ainda mais que só os banqueiros levam supimpas vantagens e embolsam fabulosos lucros. Lutar por suas causas é inerente ao ser humano. Daí, a greve representar não só um dilema como um recurso ambíguo e extremo. Quem trabalha se expõe a situações embaraçosas, aderindo às paralisações com a angústia d'água bater no pescoço e ter nele a corda pendurada.
Ao fim e ao cabo, no frigir dos ovos, a força das greves é mais aparente do que real. Mais lábil do que concreta. Pessoas são confrontadas contra si, gerando mal-estar e incompatibilidades. Dificilmente, as partes conseguem alcançar o desejado. Ademais, existem leis, regulamentos, mandamentos passíveis de críticas, longe do ideal, nada significando que sejam bons e justos. Diante da inflexibilidade e da intolerância, o indivíduo que se preza, sente-se compelido a reagir, a buscar sua dignidade, mostrando cara, coragem e caráter. Sujeito a represálias, mas, compreensivelmente, jamais querendo trair sua classe.
Assim se encontram vários operários da saúde da cidade, aos quais cabe a nobre e suprema missão de amenizar as dores dos seus semelhantes. Eu bem sei como isso repercute na alma e no coração de quem pratica a Medicina com ética, lisura e dedicação. Amamos a nossa profissão e, por extensão, aos pacientes de cuja maioria reverte idêntica reciprocidade em amizade, confiança e fidelidade.
Médicos se sentem mal em serem grevistas e insultados. Pior, com "assédio moral." Razão para recobrar logo a concórdia e fumar o cachimbo da paz. Uma cota diária de consultas é atitude normalíssima. Assim como fazemos nos consultórios. Cumprida a tarefa criteriosa e dedicadamente, sem prejuízos de ninguém, liberem-nos para serem mais úteis a outrem, suprindo lacunas em áreas, necessitadas, sem apelar para os incompetentes cubanos. Que mal há nisso que não seja o próprio Bem?
Quantidade não quer dizer qualidade. Na Europa, quem mais trabalha é menos produtivo. Por exemplo, Rússia e Portugal em contraste com aqueles altamente desenvolvidos, com carga horária reduzida: Alemanha, França e Inglaterra. O bom senso tudo esclarece e soluciona. Quem agride gratuitamente atirando a primeira pedra poderá ter o tiro pela culatra, talvez sendo o primeiro a precisar de socorros médicos. Estaremos ao seu dispor. Nunca se sabe o dia de amanhã.