Espaguete à carbonara, macarrão à bolonhesa e frango assado. Pratos, à primeira vista, triviais, e comuns no menu de qualquer bom restaurante, ganham tempero extra no Restaurante Giratório Mascaron, em Veranópolis, na Serra. Na tentativa de reerguer o negócio, quase falido oito anos atrás, quando assumiu a administração do empreendimento, o empresário Juliano Brandalise, 31 anos, foi buscar nas idosas da cidade a inspiração para o novo cardápio. Para "devolver o restaurante para a comunidade", ouviu cerca de 30 senhoras participantes de grupos de longevidade antes de bater o martelo a respeito das iguarias que seriam servidas no alto da Torre Mirante da Serra, a 60 metros do nível da rua.
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– Quando assumimos, em 2008, sentimos que precisávamos dar uma cara mais regional ao restaurante. Havia muitas reclamações nesse sentido – lembra Brandalise.
Com a ajuda das nonnas, foram resgatadas receitas dos primeiros imigrantes italianos e poloneses que colonizaram a cidade no fim do século 19. Assim, foi elaborada a sequência de massas e carnes servida nos almoços de terça a domingo e nos jantares de sexta e sábado. Além dos pratos mencionados na abertura da reportagem, o rodízio inclui, entre outras, delícias como lasanha quatro queijos, espaguete à matriciana (com molho de tomate, cebola e bacon), tortéi, filé ao molho madeira, entrecot, carne suína, além de salada de alface e tomate e radicci com bacon. Destaque para o talharim ao frango e tomate seco, cujo molho leva leite de coco e requeijão, e o pierogi, espécie de "tortéi polonês", recheado de ricota e condimentos e regado como molho branco.
– Não são comidas exatamente light e diet, até porque essa não é uma característica das culinárias italiana e polonesa Mas quem visita essa região não procura necessariamente por comidas leves. Querem o que é típico, original – afirma Brandalise.
Conforme o empresário, o anterior tinha muitos caldos e peixes, o que desagradava quem frequentava o local. Segundo ele, as receitas trazidas pelas idosas foram mantidas na essência, com as adaptações necessárias.
– Naquela época (dos primeiros imigrantes), não existiam muitos recursos, e comiam muita massa e carnes, principalmente de gado, porco e frango, e foi isso que mantemos. Também reaproveitavam muito os ingredientes. O leite virava requeijão, nata... Para conservar as carnes, faziam salame ou outras preparações – explica.
Além de sugerir as receitas, as senhoras também contribuíram com a decoração do salão, com fotos tiradas entre 1900 e 1950 mostrando as numerosas famílias dos primeiros moradores. A ambientação conta ainda com uma capelinha com a imagem da padroeira da cidade, Nossa Senhora de Lourdes, objetos de artesanato, esculturas e pinturas, além de um pedaço do véu do vestido de casamento de uma das mulheres. Há também retratos de veranenses notáveis, entre eles o ator José Lewgoy (1920-2003), o escritor e político Mansueto Bernardi (1888-1966) e o ex-prefeito, esportista e empresário Elias Ruas Amantino, dono da fabricante de armas E.R. Amantino & Cia, a antiga Boito.
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"Só dá pra notar mesmo depois da quarta garrafa", diz garçom
Fazer uma refeição em um restaurante giratório é algo, no mínimo, curioso. No caso do Mascaron, a experiência começa assim que o cliente senta-se à mesa e recebe as boas vindas do garçom:
– Vocês vão notar que o movimento é quase imperceptível. Na verdade, só dá pra notar mesmo depois da quarta garrafa (de vinho).
Uma brincadeira que faz todo o sentido, já que a velocidade não passa de 0,05 km/h. O que gira, na verdade, é a área onde estão dispostas as mesas, em uma estrutura ao redor do eixo central, fixo, no qual ficam elevador, recepção, cozinha, copa e área infantil. A volta completa leva duas horas para ser suavemente concluída.
Enquanto saboreia os pratos, o cliente pode apreciar a vista panorâmica da cidade. Em determinados pontos do "passeio", indicações no vidro informam o que se vê no horizonte.Com capacidade para 185 lugares, o restaurante giratório foi inaugurado em dezembro de 2005 e até hoje desperta a curiosidade de quem passa pelo Km 178 da BR-470 , pela imponência da Torre Mirante da Serra, onde está localizado. A obra começou a ser construída em 1999, por iniciativa do empresário João Zatti com projeto dos arquitetos Cassio Fiori, Celso Rossi e Mauro Fontana.
O restaurante fica a 60 metros do nível da rua. Acima dele, a 70 metros, está o mirante, uma plataforma de observação com luneta e binóculo permite observar as belezas da Serra do Rio das Antas e as cidades de Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Monte Belo do Sul e Cotiporã, além da vista do município. Dez metros acima ficam as torres de telefonia móvel, internet e rádio. Abaixo do restaurante, no "corpo" da torre, estão localizados sanitários, depósitos, caixa d'água, gerador e motores. O trajeto até o restaurante e o mirante é feito por um elevador panorâmico.
PROGRAME-SE
:: O que: Restaurante Giratório Mascaron
:: Onde: BR-470, Km 178, Veranópolis (RS)
:: Funcionamento: de terça a domingo, das 11h30min às 14h e às sextas e sábados, das 19h30min às 22h
:: Valores: rodízio de carnes e massas por R$ 48 (almoço de terça a sexta e jantar de sexta e sábado) e R$ 64 (almoço de sábado, domingo e feriados). Há opção de filés a la carte nos jantares
:: Visita ao mirante: R$ 5. A taxa não é cobrada se o cliente almoçar ou jantar no restaurante
:: Informações e reservas: (54) 3441.8350
Receita
Um dos mais importantes produtos agrícolas do município, conhecido como a Terra da Longevidade, a maçã é o ingrediente principal da Sobremesa da Casa, servida ao molho de vinho acompanhada de creme de baunilha:
Maçã ao Molho de Vinho com Creme de Baunilha
Rendimento: 4 porções
Ingredientes:
:: 2 maçãs
:: 100g de açúcar
:: 20 ml de vinho tinto tipo Isabel
:: 40ml ml de vinho branco tipo Lorena
:: 1/2 colher de cal virgem para alimentação
:: cravo, canela
Modo de preparo:
1. Descasque as maçãs, corte-as ao meio e tire as sementes.
2. Dissolva o cal em um litro de água e deixe as maçãs marinando por três horas.
3. Passado o tempo da marinada, escorra a água e lave bem as frutas.
4. Em uma panela, dissolva o açúcar com os vinhos e adicione o cravo e a canela. Ferva junto com as maçãs por cerca de 90 minutos em fogo médio.
5. Sirva com creme de baunilha e a redução de vinho que se formou na panela, decorada com folhas de hortelã.